Polícia investigará injúria por preconceito após grupo criar confusão ao tentar impedir missa africana

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Polícia investigará injúria por preconceito após grupo criar confusão ao tentar impedir missa africana

Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Glória
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Glória
Selma Schmidt
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RIO - A 9ª DP (Catete) abriu inquérito e registrou como injúria por preconceito e lesão corporal para apurar o caso envolvendo um grupo de católicos conservadores, que tentou impedir, na noite desta quarta-feira, a realização de uma missa em homenagem ao Dia da Consciência Negra na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, Zona Sul do Rio. A cerimônia tem cantos afro, o toque de atabaques e roupas coloridas, e foi divulgada nas redes sociais da igreja.

"Diligências estão sendo realizadas em busca de testemunhas e imagens que possam ajudar a esclarecer o caso. As investigações estão em andamento", informou a Polícia Civil em nota. A Arquidiocese do Rio ainda não se pronunciou.

Pároco da Igreja Sagrado Coração de Jesus, Wanderson José Guedes, contou que outro sacerdote estava celebrando a missa quando um grupo do Centro Dom Bosco pediu que a solenidade fosse suspensa.

— Como o padre disse que não interromperia a missa, eles começaram a rezar alto o terço em latim, a filmar e a debochar. Havia mulheres de véu e homens de terno. Eu fui chamado, acionei a polícia e dei prosseguimento à missa. A polícia chegou, eles calaram a boca e foram para fora da igreja — contou o padre Wanderson — Esse foi o 15º ano que celebramos a missa do Dia da Consciência Negra, e nunca tivemos problemas. Recordamos os erros do passado. Nenhuma escravidão é bem-vinda. Reconheci entre o grupo uma pessoa que frequenta nossa igreja, foi nosso coroinham e que, há algumas semanas, casou aqui.

Wanderson diz não foi à delegacia prestar queixa, por respeito à igreja:

— São meus irmãos de fé, não quero ferir a unidade da igreja.

O padre não quis falar sobre o que poderia estar por trás do ato, dizendo que sobre isso só a Arquidiocese poderia se pronunciar:

-Só posso dizer que não se trata de questão religiosa.

Em sua página no Facebook, o Centro Dom Bosco, uma associação de leigos católicos, num post disse que "católicos foram xingados, caluniados e até agredidos após missa afro no dia de ontem". E acrescentou: "Qual o crime deles? Rezar silenciosamente em desagravo ao Sagrado Coração de Jesus no meio dos atabaques e de danças não compatíveis com a liturgia. Os católicos perseguidos eram do Centro Dom Bosco e de mais três centros integrantes da Liga Cristo Rei. Não confiem em nada do que está sendo divulgado, pois filmamos tudo e contaremos esta história a partir das provas que temos em mãos".

No início de 2018, um presépio em tamanho real, montado pelo padre e artista plástico Wanderson, na praça em frente ao Palácio São Joaquim, sede da Arquidiocese do Rio, na Glória, foi alvo de vandalismo. A decoração portava uma mensagem contra a corrupção no país. Em uma postagem feita no Facebook na ocaisão, o sacerdote disse ter sido informado por moradores de rua que um grupo teria passado pelo local por volta das 23h30 do dia 3 de janeiro e destruído o presépio.

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