
RIO — A testemunha-chave do assassinato do cardiologista Jaime Gold, na Lagoa, disse em depoimento na Divisão de Homicídios (DH) que um dos assaltantes “era branco e também magro”. O outro jovem, segundo o relato da mesma pessoa, ao qual O GLOBO teve acesso, seria “magro e de cor negra”. Mas os dois jovens apreendidos pela Polícia Civil, de 15 e 16 anos, são negros. Na quarta-feira, os delegados responsáveis pela investigação deram o caso por encerrado.
Ao ser questionada se a testemunha havia citado a participação de um rapaz branco no crime, na entrevista coletiva da última quarta-feira, a delegada Patrícia Aguiar, da DH, responsável pelo caso, negou:
— Não. A testemunha confirmou a condução da bicicleta pelo primeiro menor apreendido, o posicionamento deles e a participação do primeiro menor apreendido.
No mesmo depoimento, a testemunha, que trabalha próximo ao local, afirmou “que o autor que estava na garupa da bicicleta foi logo esfaqueando a vítima”. A Polícia Civil, no entanto, sustenta que o responsável pelos golpes seria o adolescente apreendido na semana passada, que estava conduzindo a bicicleta. O cúmplice estaria sentado no quadro e apenas teria dado cobertura. Ainda de acordo com a polícia, a testemunha reconheceu, por meio de foto, o primeiro rapaz apreendido, que seria o esfaqueador. A defesa do acusado nega a participação dele no crime, alegando que o jovem se encontrava em casa, em Manguinhos, no momento do assalto.
— O caso ainda não está encerrado. Ainda não é possível ter conclusão. A gente vai provar que ele (primeiro menor apreendido) não estava lá (na Lagoa). Vai ser um caso emblemático — acredita o advogado Alberto de Oliveira.
Outra divergência aparece também na primeira versão divulgada pela Secretaria municipal de Desenvolvimento Social. Segundo o órgão, o jovem apreendido na quarta-feira teria confessado à mãe ter dado as facadas que causaram a morte do médico. Depois, os policiais informaram que o suspeito, na verdade, havia culpado o outro rapaz pelos golpes. A secretaria depois se retratou afirmando ter havido um erro de informação.
Para aumentar a polêmica, a delegada Monique Vidal, titular da 14ª DP (Leblon), que iniciou a apuração do assassinato, comentou na quarta-feira no Facebook que a testemunha, ao ser ouvida por um delegado-adjunto de sua unidade, afirmou não ter condições de reconhecer os criminosos. Ela disse ainda que, em outra DP, no dia seguinte, a mesma testemunha identifica o suspeito por foto. O post da delegada, que causou mal-estar na polícia, acaba da seguinte forma: “Enfim... Segue o baile...” Após serem revelados nesta quinta-feira pelo “RJ-TV” da Rede Globo, os comentários feitos na rede social pela delegada foram apagados. Procurados, Monique, o delegado titular da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, a Chefia da Polícia Civil e a Secretaria de Segurança não comentaram as declarações da policial.