Rio

Testemunha de crime na Lagoa afirma que um dos jovens que atacou médico era branco

Dois rapazes apreendidos pela Polícia Civil como suspeitos do assassinato do cardiologista Jaime Gold, no entanto, são negros
O primeiro adolescente apreendido por suposta participação na morte de médico na Lagoa Foto: Fabio Rossi / O Globo
O primeiro adolescente apreendido por suposta participação na morte de médico na Lagoa Foto: Fabio Rossi / O Globo

RIO — A testemunha-chave do assassinato do cardiologista Jaime Gold, na Lagoa, disse em depoimento na Divisão de Homicídios (DH) que um dos assaltantes “era branco e também magro”. O outro jovem, segundo o relato da mesma pessoa, ao qual O GLOBO teve acesso, seria “magro e de cor negra”. Mas os dois jovens apreendidos pela Polícia Civil, de 15 e 16 anos, são negros. Na quarta-feira, os delegados responsáveis pela investigação deram o caso por encerrado.

Ao ser questionada se a testemunha havia citado a participação de um rapaz branco no crime, na entrevista coletiva da última quarta-feira, a delegada Patrícia Aguiar, da DH, responsável pelo caso, negou:

— Não. A testemunha confirmou a condução da bicicleta pelo primeiro menor apreendido, o posicionamento deles e a participação do primeiro menor apreendido.

No mesmo depoimento, a testemunha, que trabalha próximo ao local, afirmou “que o autor que estava na garupa da bicicleta foi logo esfaqueando a vítima”. A Polícia Civil, no entanto, sustenta que o responsável pelos golpes seria o adolescente apreendido na semana passada, que estava conduzindo a bicicleta. O cúmplice estaria sentado no quadro e apenas teria dado cobertura. Ainda de acordo com a polícia, a testemunha reconheceu, por meio de foto, o primeiro rapaz apreendido, que seria o esfaqueador. A defesa do acusado nega a participação dele no crime, alegando que o jovem se encontrava em casa, em Manguinhos, no momento do assalto.

— O caso ainda não está encerrado. Ainda não é possível ter conclusão. A gente vai provar que ele (primeiro menor apreendido) não estava lá (na Lagoa). Vai ser um caso emblemático — acredita o advogado Alberto de Oliveira.

Outra divergência aparece também na primeira versão divulgada pela Secretaria municipal de Desenvolvimento Social. Segundo o órgão, o jovem apreendido na quarta-feira teria confessado à mãe ter dado as facadas que causaram a morte do médico. Depois, os policiais informaram que o suspeito, na verdade, havia culpado o outro rapaz pelos golpes. A secretaria depois se retratou afirmando ter havido um erro de informação.

Para aumentar a polêmica, a delegada Monique Vidal, titular da 14ª DP (Leblon), que iniciou a apuração do assassinato, comentou na quarta-feira no Facebook que a testemunha, ao ser ouvida por um delegado-adjunto de sua unidade, afirmou não ter condições de reconhecer os criminosos. Ela disse ainda que, em outra DP, no dia seguinte, a mesma testemunha identifica o suspeito por foto. O post da delegada, que causou mal-estar na polícia, acaba da seguinte forma: “Enfim... Segue o baile...” Após serem revelados nesta quinta-feira pelo “RJ-TV” da Rede Globo, os comentários feitos na rede social pela delegada foram apagados. Procurados, Monique, o delegado titular da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, a Chefia da Polícia Civil e a Secretaria de Segurança não comentaram as declarações da policial.