Por André Trigueiro, RJ2


Poluição na água que chega para estação de tratamento do Guandu é pior que há 50 anos.

Poluição na água que chega para estação de tratamento do Guandu é pior que há 50 anos.

O líquido que chega para ser tratado na Estação do Guandu é praticamente só esgoto, segundo a avaliação de especialistas ouvidos pelo RJ2 nesta quarta-feira (22). E esse esgoto é bem diferente de quando a estação foi inaugurada, na década de cinquenta.

A maior estação de tratamento de água do mundo já é uma "senhora" de 65 anos e precisa de atenção e cuidados. Inaugurada em 1955, a Estação do Guandu nasceu bem menor do que é hoje.

Ao longo do tempo foi sendo ampliada para dar conta do imenso desafio de servir água potável para 9 milhões de pessoas.

O crescimento populacional dos municípios da Baixada Fluminense acima do ponto de captação do Guandu mudou para pior a qualidade da água que entra na estação. O RJ2 lembrou que essas cidades não receberam nenhum investimento em saneamento básico

Para muitos especialistas, como já acontece em vários lugares do Brasil, o Guandu vem deixando de ser uma estação de tratamento de água para tratar, na verdade, esgoto.

É o que pensa, por exemplo, o coordenador do Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fabiano Thompson. Na última sexta-feira (17), ele coletou amostras da água próximo da entrada da Estação do Guandu.

"(...)A Cedae está fazendo mágica em transformar esgoto em água. Ao longo do ano passado, até que funcionou razoavelmente bem, mas hoje a gente está nesse problema sério", alertou o especialista.

No Laboratório de Controle de Poluição das Águas, na Ilha do Fundão, Zona Norte, pesquisadores analisam os diferentes gêneros de poluentes e contaminantes que estão presentes nos rios e no mar.

A professora do Programa de Engenharia Química da Coppe/UFRJ Márcia Dezotti explica o que mudou nas últimas décadas nas águas do Guandu.

"Hoje, por exemplo, nós temos uso em nossa casa produtos de higiene pessoal, a gente tem pesticidas, protetor solar, repelente, remédios fármacos, antibióticos, hormônios, remédios para depressão e vários outros. Então, a matriz do esgoto é muito mais complexa do que ela era antes. Então, o tratamento nem do esgoto pode ser o mesmo. Consequentemente nem o da água", afirmou Dezotti.

Para a pesquisadora, é preciso tratar os esgotos antes do ponto de captação de água do Guandu.

"A gente vai ter que fazer o saneamento da Baixada como um todo, entre outras coisas, e com pequenas estações de tratamento de esgoto. A gente não pode pensar em estações gigantes, senão a gente não vai conseguir fazer", explicou.

Nesta sexta, foi anunciada a construção de uma nova estação de tratamento para tratar o esgoto de 15 mil moradores de Piraí, no Sul do estado. Atualmente, esse esgoto é despejado direto no Rio Piraí, que faz parte da Bacia do Guandu.

78 estações de tratamento

Atualmente, existem 78 estações de tratamento de esgoto na bacia: 26 estão completamente paradas e 18 delas só funcionam parcialmente.

Segundo estudo exibido pelo RJ2, são aproximadamente dez milhões de litros de esgoto que vem para o corpo hídrico com a falta dessa estações que não estão operando.

Isso faz com que haja uma diminuição na qualidade do trecho do rio que vai até a captação da Cedae, e consequentemente apresenta uma piora e a necessidade de um maior tratamento dessa água.

O Comitê do Guandu pediu explicações sobre o tratamento de esgoto aos 15 municípios que compõem a bacia. Cinco nem responderam. Um deles, a Cidade do Rio.

"Quanto pior a qualidade da água captada, maior serão os custos pra você tratar essa água, pra você conseguir distribuí-la com a qualidade adequada que o Ministério da Saúde exige", detalhou Daiana Geneleti, especialista em recursos hídricos do Comitê Guandu.

"Se você investe em tratamento de esgoto, você consegue diminuir os custos do tratamento da água. Então, você consegue também evitar essas situações que estão ocorrendo agora como a reprodução das algas, o estresse das mesmas que vão produzir a geosmina, que vão causar gosto e cheiro desagradável na água distribuída pra população carioca", acrescentou.

Em nota, a Cedae disse que tem um projeto de modernização do Guandu que começou a ser implantado ano passado, com estudos na estação. O custo deve ficar em 700 milhões e as mudanças devem ficar prontas em até três anos.

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