• Maria Clara Vieira
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espasmos epilepsia choro dor  (Foto: thinkstock)

Fique de olho nos movimentos repetitivos de contração ou extensão do corpo do seu bebê (Foto: thinkstock)

Preste muita atenção ao comportamento de seu bebê. Se notar movimentos repetitivos de flexão ou extensão do corpo, causados por espasmos musculares, procure o pediatra. É assim que se manifesta a Síndrome de West, uma condição epiléptica severa que pode afetar crianças de até 2 anos, mas ocorre principalmente entre o 2º e 12º mês de vida. “É aquele bebê que estica os bracinhos, dobra o tronco, fica uns segundos assim e depois volta à posição normal. Na crise, o que chama a atenção é a repetição da ocorrência: 10, 15 vezes”, explica Márcio Moacyr de Vasconcelos, presidente do Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Isso geralmente acontece logo ao despertar ou quando está indo dormir”, esclarece o médico.

Se você perceber os espasmos (clique aqui para assistir um exemplo de como acontece), uma dica válida é gravar em vídeo para posteriormente mostrar ao pediatra, que poderá identificar o problema. O diagnóstico é feito com base na observação dos movimentos e no eletroencefalograma. O exame, que registra as correntes elétricas do cérebro, mostra ao médico um quadro bastante específico, que facilita a identificação da doença.

“Os pais, principalmente os de primeira viagem, podem se confundir e achar que os espasmos são cólica ou refluxo”, alerta o neuropediatra Paulo Breinis, do Hospital da Criança (SP) e do Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco (SP). “É importante fazer o diagnóstico logo e iniciar o tratamento rápido, porque as crises afetam o desenvolvimento e a criança perde as conquistas que já alcançou. O tratamento evita isso”, diz Breinis.

Nas crianças que não recebem o cuidados adequados, esses espasmos tendem a desaparecer até o quinto ano de vida, mas são substituídos por outras crises epiléticas, ainda mais graves.
 

Causas e tratamento

A Síndrome de West tem esse nome em homenagem ao médico W. J. West, que a descreveu pela primeira vez em 1841. As causas podem ser variadas – origem genética ou falta de oxigenação durante o parto ou a gravidez, por exemplo – mas, às vezes, não é possível identificar o motivo. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a prevalência estimada é de um caso a cada seis mil nascimentos, e os meninos são os mais afetados. É comum que a Síndrome de West apareça com outros problemas neurológicos e metabólicos ou junto a outras síndromes genéticas, como a de Down. 

Atualmente há várias linhas de tratamento. Até algum tempo, era tradicional o uso de hormônio adrenocorticotrófico (também chamado de corticotrofina ou ACTH), uma substância injetável e bastante eficaz, mas com a desvantagem de ser muito cara. Felizmente, nos últimos anos, surgiram outras opções de medicamentos anticonvulsivantes, como a vigabatrina, que tem sido muito prescrita pelos médicos. Acredita-se que a dieta cetogênica (pobre em carboidratos e rica em lipídios) também pode ajudar, porque leva a alterações homrmonais que podem ser benéficas – mas ela deve ser orientada e acompanhada por um profissional especializado.

“O tratamento dura cerca de 2 anos e algumas crianças se recuperam completamente, ficando livres de medicamentos para a epilepsia. O acompanhamento a longo prazo é muito favorável”, informa Vasconcelos, da SBP.
 

Meu filho teve

“O meu filho, Davi, nasceu com Síndrome de Down, mas com todas as funções normais. No decorrer do crescimento, com 4 ou 5 meses de vida, começou a ter espasmos”, lembra o pai, o analista de sistemas Marcelo Nazário, 42 anos. “A gente associava aquilo com cólica, achávamos que era normal. Mas teve uma ocasião em ele que acordou chorando muito e com espasmos a cada 10 ou 15 segundos. Comecei a pesquisar e li sobre a Síndrome de West”, conta.

O diagnóstico veio com o resultado do eletro que o pediatra solicitou.  “Ele vivia em estado epilético constante. É um tipo de convulsão mais branda, com contrações do corpo”, relata Nazário. O menino, que hoje tem 1 ano, foi submetido ao tratamento com o ACTH. Ele respondeu bem ao medicamento e hoje não tem mais espasmos.

“O ACTH traz um grande benefício, mas é importado, custa caro e há muita burocracia para comprá-lo. Muitos pais não têm condições e passam por essa dificuldade”, pondera o pai de Davi.

Rodapé Instagram OK (Foto: Crescer/ Editora Globo)