Política

No 'circuito dos corruptos', manifestantes gritam 'Fora, Gilmar'

Protesto percorreu no Rio os endereços de Dilma, Aécio, Pezão e Cabral
Movimento 'Vem pra rua' faz o 'Circuito Dos Corruptos' Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Movimento 'Vem pra rua' faz o 'Circuito Dos Corruptos' Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO e BRASÍLIA - Integrantes do movimento "Vem Pra Rua" iniciaram pouco antes das 11h deste domingo, na Avenida Atlântica, na altura da Rua Souza Lima, em Copacabana, Zona Sul do Rio, uma caminhada que batizaram de "Circuito dos Corruptos". Com palavras de ordem contra praticamente todos os políticos citados nas investigações da Lava-Jato, eles pretendiam passar pelas casas da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e dos ex-governadores do Rio e de Minas, Sérgio Cabral (PMDB) e Aécio Neves (PSDB), respectivamente.

Embora os os manifestantes mirassem na classe política, o maior alvo dos protestos até o início da tarde foi o ministro Gilmar Mendes, membro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presiente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A frase mais ouvida, durante as mais de três horas de caminhada pela orla foi “Fora, Gilmar”.

A maioria dos manifestantes usava camisas verde-amarelas. Muitos carregavam cartazes de apoio aos juízes Sergio Moro, da 13ª Vara Criminal de Curitiba, e Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, também recebeu apoio de quem protestava.

Durante o trajeto, o único momento de tensão foi quando os manifestantes passaram em frente à casa de Dilma Rousseff, na Rua Joaquim Nabuco, no Arpoador, e se defrontaram com um número menor de apoiadores do PT, que formou uma espécie de parede humana em frente ao prédio. As hostilidades ficaram apenas nos xingamentos mútuos, já que soldados da Polícia Militar (PM) se colocaram entre os dois grupos.

No carro de som, os líderes do movimento pediram que os manifestantes seguissem em paz até a casa de Aécio Neves, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, pois o movimento não tinha “bandido de estimação”. Em frente ao prédio onde o ex-governador mineiro tem um apartamento, eles acusaram Aécio de virar as costas para o Brasil, razão pela qual seria "condenado ao esquecimento", segundo os próprios.

Depois de Aécio Neves, os manifestantes passaram pela casa de Pezão e encerraram a caminhada na Rua Arisrtides Espínola, no Leblon, onde fica o apartamento de Cabral e da ex-primeira dama Adriana Ancelmo.

A principal razão da revolta dos manifestantes contra Gilmar Mendes é que o ministro mandou soltar empresários de ônibus que estavam presos desde a Operação Ponto Final, no início de julho. Entre eles, Jacob Barata Filho . A decisão provocou polêmica, e a força-tarefa da Lava-Jato no Rio pediu a suspeição do ministro . Gilmar foi padrinho de casamento de Beatriz Barata, filha de Jacob Barata Filho.

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Os procuradores alegaram ainda que o empresário é sócio de Francisco Feitosa de Albuquerque Lima, cunhado do ministro, e que o contato da mulher de Gilmar, Guiomar, está na agenda telefônica do aparelho celular de Barata Filho.

PROTESTO EM BRASÍLIA

Militantes do grupo "Vem pra rua" fizeram neste domingo um protesto em frente ao Congresso Nacional contra a corrupção, a impunidade e manobras no meio político para barrar a Lava-Jato. Pelo cálculos dos organizadores, 300 pessoas participaram da manifestação. A Polícia Militar calculou em 100 o número de manifestantes. No alto de um carro de som, os líderes do grupo gritaram palavras de ordem contra vários políticos e autoridades públicas.

Entre os mais citados estavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Aécio Neves e novamente o ministro Gilmar Mendes. Nos momentos finais do protesto, o grupo fez um desenho humano com a inscrição "Lula na cadeia". No entanto, a coodenadora do "Vem pra Rua" em Brasília, Juliana Almeida, disse que o movimento é apartidário. Os manifestantes também fincaram cruzes no gramado com nome de políticos que, para eles, deveriam deixar a vida pública.

— Fizemos um ato contra a impunidade, pedindo a prisão de todos os corruptos. Um ato pela renovação política. Fizemos o "Lula na cadeia" porque ele foi o primeiro (político famoso) a ser condenado. Mas também somos contra Aécio, Temer (presidente Michel Temer). Não tem razão de ter bandido de estimação — afirmou Juliana.

O grupo também protestou contra a criação de um novo fundo eleitoral na reforma política e manifestou apoio aos grupos de oposição ao governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O número de manifestantes decepcionou os organizadores do protesto.

— Já conversamos até com psicólogos para tentar explicar (a baixa presença de pessoas em protestos promovidos pelo grupo). As pessoas estão cansadas de pedir justiça, de sair às ruas e de ver que as coisas não acontecem — reclama coordenadora.

MANIFESTAÇÃO TAMBÉM EM SÃO PAULO

Na Avenida Paulista, em São Paulo, manifestantes se reuniram em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) contra a proposta de fundo partidário para custear campanha política e também pela renovação política. De um caminhão de som, várias pessoas se revezaram em discursos que pediam fim do foro privilegiado e vaias para políticos, como o líder do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Também foram alvos os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jader Barbalho (PMDB-PA).

Rogerio Chequer, um dos criadores do "Vem pra Rua", afirmou que o grupo vai apresentar um cronograma de manifestações até 2018. No carro de som, um animador gritava:

— Gleisi Hoffmann, queremos que ela seja reeleeita?

— Não!!! — gritavam os manifestantes.

— Queremos que Paulo Maluf seja reeleito?

— Não!!! — respondiam os manifestantes.

A manifestação ocupou cerca de um quarteirão da Avenida Paulista e contou com a presença do advogado Modesto Carvalhosa, que foi bastante aplaudido. Carvalhosa havia se apresentado como candidato para uma eventual eleição indireta se Michel Temer deixasse a Presidência.

Para encerrar o protesto foi feita uma caminhada até a Praça Oswaldo Cruz. Como a avenida fica fechada ao tráfego de carros aos domingos, não houve transtornos. A organização do evento e a Polícia Militar não fizeram estimativa de participantes.