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‘Ninguém, exceto nós’, acreditava na vitória de Trump, diz Putin

Líder russo critica postura do partido democrata de buscar culpado para derrota

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de conferência de imprensa de fim de ano em Moscou
Foto: SERGEI KARPUKHIN / REUTERS
O presidente russo, Vladimir Putin, participa de conferência de imprensa de fim de ano em Moscou Foto: SERGEI KARPUKHIN / REUTERS

MOSCOU — Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, analisou a vitória do republicano Donald Trump na última eleição presidencial americana. Segundo o líder russo, o partido democrata americano está perdendo espaço e tentando apontar um culpado externo para a derrota. Sobre Trump, Putin afirmou que a vitória do republicano agradaria o ex-presidente Ronald Reagan.

— (Reagan) teria ficado feliz em ver que o presidente eleito soube tomar o pulso da sociedade americana tão bem que continuou com sua estratégia até o final, apesar de ninguém, exceto nós, acreditar que ele poderia ganhar — disse Putin.

Ao ser questionado sobre ataques hackers contra a campanha do partido democrata, Putin afirmou não ser importante determinar quem estava por trás das ações, mas elas revelaram que a opinião pública dos EUA estava sendo manipulada. Nos últimos meses, a Rússia vem sendo acusada de patrocinar esses ataques, mas Moscou nega qualquer envolvimento.

— O partido que é chamado de democrata claramente esqueceu o sentido original desse nome. O uso de recursos administrativos é absolutamente vergonhoso — disse Putin. — Eles estão perdendo em todos as frentes e procurando em outros lugares coisas para culpar. Na minha visão isso, como eu poderia dizer, degrada a própria dignidade deles. Você tem que saber perder com dignidade.

Sobre as declarações dadas na quinta-feira por Trump, sobre o aumento da capacidade nuclear americana , Putin afirmou ser esperado, já que era uma das plataformas da campanha republicana.

— Não há nada de novo — disse Putin. — Ele já havia dito durante sua campanha eleitoral sobre a necessidade de reforçar a capacidade nuclear dos Estados Unidos, de reforçar as forças armadas. Não há nada inabitual.

O presidente russo também minimizou o início de uma nova corrida armamentista com os EUA. Na quinta-feira, Putin fez declarações fortes, dizendo que as forças militares russas eram “mais poderosas que qualquer agressor em potencial”. Na coletiva desta sexta, ele deixou claro que não apontava os EUA como um potencial agressor.

— Eu fiquei um pouco surpreso por declarações de alguns representantes da atual administração americana que, por alguma razão, começaram a tentar provar que os militares americanos eram os mais poderosos do mundo — disse Putin. — Ninguém está questionando isso.

CONFLITOS NA SÍRIA

EUA e Rússia travam uma disputa nos campos de batalha na Síria. Enquanto Moscou apoia o regime do presidente Bashar al-Assad, Washington dá suporte a grupos rebeldes. Em Alepo, foi o lado russo, com o Irã e a Turquia, que saiu vitorioso. Após a queda do principal reduto rebelde, Putin pede um cessar fogo.

— O presidente da Turquia e os líderes do Irã também tiveram grande participação nisso (vitória sobre os rebeldes em Alpo) — disse Putin. — Eu não sei se isso vai parecer falta de modéstia, mas sem a nossa participação isso seria impossível.

Segundo o presidente, a Rússia, o Irã, a Turquia e o presidente sírio concordaram em participar de uma reunião de paz em Astana, capital do Cazaquistão, para tentar solucionar os conflitos na Síria. O encontro deve ser realizado em meados de janeiro. Putin também comentou o assassinato do embaixador russo na Turquia , dizendo que o episódio não afeta as relações entre Moscou e Ancara.