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Rio

Ausência de Crivella e falhas da Riotur no carnaval rendem ação

Inquérito aberto pelo MP do Rio vai apurar se houve descaso com a festa
Marcelo Crivella e comitiva na Europa Foto: Reprodução Facebook / Agência O Globo
Marcelo Crivella e comitiva na Europa Foto: Reprodução Facebook / Agência O Globo

RIO - A “folguinha’’ que tirou no carnaval — expressão usada pelo próprio prefeito Marcelo Crivella — já começou a dar mais trabalho para o chefe da administração municipal. Na sexta-feira, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurou inquérito para apurar eventuais irregularidades nas viagens de Crivella ao exterior, como o aumento de 64% do valor das diárias a agentes públicos, conforme adiantou o colunista Ancelmo Gois . Mas não é só. Um novo inquérito, agora da Terceira Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania da capital, trata da ausência continuada do prefeito no trato de temas de interesse do Rio ligados ao carnaval.

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O prefeito e o presidente da Riotur, Marcelo Alves, são investigados por descaso na execução de medidas necessárias à maior festa da cidade, bem como falhas no planejamento, que deixaram moradores e turistas expostos “à desordem e ao caos urbanos”.

Nas palavras da promotora Liana Barros Cardozo, “é notória a constatação em geral do desapreço do atual prefeito pelas manifestações culturais de carnaval, em qualquer de suas expressões históricas ou atuais”. Segundo a titular da Terceira Promotoria de Justiça, esse desprezo fez com que Crivella abandonasse a execução de tarefas inerentes ao cargo, que “incluem a proteção e promoção de bens culturais da municipalidade, incentivo ao turismo e às atividades econômicas atreladas aos festejos tradicionais do carnaval”.

A promotora aponta como evidência dessa omissão a viagem de Crivella ao exterior durante os dias de folia, que, segundo ela, ocorreu sem apresentação de “qualquer convite ou agenda concreta com as autoridades estrangeiras”. Liana Barros Cardozo cita reportagem do GLOBO que revelou que a Agência Espacial Europeia (ESA), um dos destinos mencionados pela Prefeitura do Rio, jamais reconheceu a vista de Crivella como um compromisso oficial.

“Ele visitou a agência como uma pessoa em caráter privado. Chamou de visita oficial para impressionar mais”, disse ao GLOBO uma funcionária da ESA, conforme destaca o documento do MP, que constata que a viagem não teve objetivos funcionais, tendo “por finalidade o simples afastamento da autoridade máxima do executivo municipal da cidade durante o período do carnaval”.

Entre os dias 11 e 17 de fevereiro, o prefeito, bispo licenciado da Igreja Universal, visitou Alemanha, Áustria e Suécia, alegando que estava em busca de tecnologia para auxiliar no combate à violência, ainda que essa seja uma atribuição do estado. No período, postou vídeos no Facebook relatando o “saldo’’ da viagem e reclamando do frio. Durante a ausência de Crivella, a cidade sofreu com desordem urbana e temporais que fizeram quatro vítimas.

PREFEITURA DIZ QUE NÃO FOI NOTIFICADA

No caso do presidente da Riotur, que permaneceu no Rio durante o carnaval, o Ministério Público aponta falhas na organização dos eventos e se apoia em críticas apontadas pelas forças de segurança e pela Sebastiana, entidade que reúne blocos do Rio.

Crivella e Marcelo Alves vão responder por descaso na execução das medidas necessárias ao desenvolvimento do carnaval em 2018, desvalorização de patrimônio público imaterial local, depreciação de ativo econômico da cidade, falhas de planejamento com impacto na segurança pública e improbidade administrativa.

A prefeitura informou ontem que só vai responder aos questionamentos quando notificada. Já a Riotur declarou que os desfiles dos cerca de 600 blocos autorizados transcorreram em normalidade, em sua grande maioria.

— O que vimos foram atos de vandalismo que ocorreram exclusivamente na ausência das forças policiais, o que é de responsabilidade do estado. No momento em que a segurança foi reforçada, não ocorreram mais episódios de destruição de patrimônio público, e a ordem foi restabelecida — defendeu Rodrigo Paiva, diretor de comunicação da Riotur.