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Economia Previdência

Congresso assume a condução das propostas de reformas

Decisão foi tomada esta semana numa reunião de líderes do Centrão na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia
Congresso Nacional recebe iluminação especial pela campanha Maio Amarelo Foto: Terceiro / Agência O Globo
Congresso Nacional recebe iluminação especial pela campanha Maio Amarelo Foto: Terceiro / Agência O Globo

BRASÍLIA - Diante da dificuldade do governo em dialogar com o Congresso Nacional, parlamentares decidiram assumir o protagonismo pela definição da agenda econômica e deixar as iniciativas do Palácio do Planalto em segundo plano. Na Câmara, líderes defendem abertamente que o processo de reformas necessárias para o país retomar o crescimento seja liderado pelo Legislativo. Desde a redemocratização, o Executivo sempre foi o protagonista da pauta econômica do país. Agora, abre-se a possibilidade de que o Parlamento lidere este debate. E os sinais disso são visíveis nas reformas tributária e da Previdência.

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O deputado Marcelo Ramos (PR-AM), presidente da Comissão Especial que discute a reforma da Previdência , afirmou que o grupo pode votar um texto alternativo, o que significa que serão feitas mudanças a partir da proposta original enviada pelo governo, retirando pontos considerados polêmicos. A decisão de que o Congresso assumirá de vez a formatação da reforma foi tomada esta semana numa reunião de líderes do Centrão na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

- Dentro da lógica de blindar a pauta econômica e de dar protagonismo maior à Câmara dos Deputados, já que é a Câmara dos Deputados que tem assumido a responsabilidade de enfrentar reformas estruturantes que o país precisa, consideramos como hipótese a ideia de um projeto substitutivo ao projeto encaminhado pelo governo - disse Ramos à TV Globo.

Questões como mudanças nas regras do benefício pago a idosos pobres, na aposentadoria dos trabalhadores rurais e no regime diferenciado de professores devem ser alteradas. O alvo mais recente dos parlamentares é a capitalização , em que trabalhadores contribuem para a própria poupança, um dos pontos centrais da proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Capitalização : Entenda como é o modelo defendido pelo governo

- Toda a proposta do governo é fundada numa ideia de um cheque em branco para o governo fazer a capitalização. Esse cheque em branco a Câmara não vai dar - disse Ramos ao GLOBO.

Para o parlamentar, as mudanças ajudariam a conquistar os 308 votos necessários para aprovar a proposta:

- Não é um texto novo, do zero. O governo só atrapalha: não dá centralidade à reforma da Previdência, quer tratar um monte de pautas e reiteradas vezes demonstra desapreço pelo Congresso. Nosso foco é manter a economia de R$ 1 trilhão em dez anos e o cronograma de votação.

Rodrigo Maia, que entrou em conflito com Jair Bolsonaro por considerar que o presidente fazia uma defesa sem entusiasmo da reforma, acredita que caberá ao Parlamento liderar a agenda econômica.

- Tenho certeza que nem a Câmara nem o Senado vai fugir da sua responsabilidade de organizar de forma racional o processo de reestruturação do Estado brasileiro - afirmou o presidente da Câmara ao GLOBO.

Nesta sexta-feira, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro acredita que “a melhor reforma, segundo o princípio do presidente, é aquela que nós já levamos para o Congresso”. E acrescentou que está aberto ao “diálogo” com as duas Casas.

Reforma tributária

A longo prazo, os deputados querem ainda limitar o poder do Executivo de editar medidas provisórias e deixar o Orçamento ainda mais impositivo, proposta que deve ser votada daqui a três semanas, segundo Maia.

O protagonismo do Congresso fica claro na negociação da reforma tributária. Como o governo ainda não apresentou proposta formal, o Parlamento decidiu avançar na tramitação de um projeto próprio, que deve ser votado na semana que vem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Se aprovado, o texto será bem diferente do que vem sendo elaborado no Ministério da Economia. A proposta hoje na Câmara é baseada no trabalho do economista Bernard Appy, que prevê a substituição de cinco impostos por um tributo sobre bens e serviços. Esse modelo incluiria o ICMS, cobrado nos estados, e o ISS, administrado por municípios. Guedes disse preferir um sistema que deixe de fora tributos regionais. O secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, tem preferência por outro modelo, que unifica os impostos num único tributo, cobrado sobre movimentações financeiras.

- A incapacidade do governo em apresentar uma agenda é um dado da realidade. Não dá para esperar que o Planalto, com uma interlocução atrapalhada, esteja à frente do processo. Precisamos e vamos ter o protagonismo - diz o líder do PSD, André de Paulo (PE).

O deputado João Roma (PRB-BA), relator da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), avalia que a Câmara tem assumido o protagonismo por causa do “travamento” do governo. Ele ressalta, no entanto, que é preocupante o fato de que não haja relação harmônica, já que, na sua visão, os poderes são “interdependentes”:

- Nesta questão, a Câmara não esperou, não ficou a reboque do Executivo. O governo está prometendo: “Olha, até junho vamos mandar uma coisa. O pensamento é esse, é aquele”. Enquanto isso, a gente não só apresentou um projeto como já leu o relatório, já vai ter audiência pública, já vai instalar uma comissão especial sobre este item.

Líder do MDB, Baleia Rossi (SP) diz que o Congresso pode ocupar o espaço deixado pelo Planalto, mas precisa estar atento ao equilíbrio fiscal:

- É importante o parlamento sugerir pauta positiva, desde que não acarrete gastos, não seja uma pauta que vai levar instabilidade para a economia. Podemos ter agenda de expectativa da sociedade, de debates, questões importantes, mas não dá pra gerar despesas.

Já o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), lembra que os parlamentares, assim como ele, estão cotejando projetos para construir agenda própria.

- Já pedi à minha assessoria para passar um pente-fino nas propostas que há na Câmara para tocar as pautas do Legislativo. Não dá para ficar a reboque desse governo.