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PF faz ação contra lavagem de dinheiro do tráfico de drogas em seis estados e prende doleiro da Lava-Jato

No total, oito pessoas foram presas em operação realizada em SP, RJ, MS, PB, PE e CE
PF apreendeu dinheiro durante busca realizada em Recife, pela Operação Efeito Dominó Foto: Divulgação / Polícia Federal
PF apreendeu dinheiro durante busca realizada em Recife, pela Operação Efeito Dominó Foto: Divulgação / Polícia Federal

RIO — A Polícia Federal ( PF ) prendeu nesta terça-feira um total de oito pessoas, incluindo o doleiro Carlos Alexandre de Souza, o " Ceará ", investigado na Lava-Jato que teria quebrado acordo de delação premiada. As ações fizeram parte da Operação "Efeito Dominó", que investiga lavagem de dinheiro proveniente do tráfico internacional de drogas. Agentes da PF cumpriram mandados no Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

A "Efeito Dominó" é um desdobramento da Operação "Spectrum", que desarticulou a quadrilha chefiada por Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes internacionais de drogas da América do Sul com conexões em dezenas de países. Nesta terça, cerca de 90 agentes cumpriram 26 ordens judiciais — 18 mandados de busca e apreensão, cinco mandados de prisão preventiva e três mandados de prisão temporária.

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Entre os presos estão dois doleiros já conhecidos pela PF — um deles alvo da Lava-Jato e outro, da Operação Farol da Colina. O doleiro Carlos Alexandre, o Ceará, que já foi alvo da Lava-Jato, retomou suas atividades ilegais mesmo após ter firmado acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) e depois homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto a PGR quando o STF serão comunicados sobre a prisão dele para avaliar quanto a quebra do acordo.


Traficante Cabeça Branca, Luiz Carlos da Rocha foi preso em Sorriso, MT
Foto: Reprodução de vídeo / Divulgação PF
Traficante Cabeça Branca, Luiz Carlos da Rocha foi preso em Sorriso, MT Foto: Reprodução de vídeo / Divulgação PF

Segundo o delegado responsável pelo caso, Roberto Biasoli, há registros de que Ceará tenha operado valores para o narcotráfico desde, pelo menos, 2016, após ter firmado sua colaboração com o Ministério Público Federal (MPF).

— Ele diz na colaboração que o Youssef tinha interesse nele porque ele tinha disponibilidade de dinheiro em espécie por causa de negócios com vinhos. Hoje a gente sabe que o dinheiro em espécie que ele tinha era em virtude da relação com o tráfico de drogas — afirmou o delegado.

Biasoli ainda destacou que, de acordo com as investigações, os valores oriundos do narcotráfico poderiam ter chegado a políticos investigados e presos na operação Lava Jato, que eram clientes de Ceará.

— A gente tem indícios de um link direto do dinheiro do narcotráfico indo parar na mão de políticos corruptos (...) Eles não estão interessados em saber a origem, eles querem receber. E esse cara que lidava com o dinheiro de narcotraficantes também entregava propina a corruptos — explicou, segundo o portal G1.

Igor Romário de Paula, coordenador da Lava-Jato na Polícia Federal, porém, ressaltou que é possível que os políticos tenham recebido o dinheiro sem saber de sua origem no tráfico.

— O Ceará é um profissional que atua na lavagem de dinheiro. Ele atende a diversos clientes, na Lava-Jato era um tipo de cliente, mas não necessariamente há vinculação entre eles. Nenhum deles (políticos) tinha ciência do outro ramo de operação do Ceará — disse.

A operação também tem o objetivo de levantar informações complementares da prática dos crimes de lavagem de dinheiro, contra o Sistema Financeiro Nacional, organização criminosa e associação para o tráfico internacional de entorpecentes.

DOLEIRO DELATOU COLLOR, AÉCIO, CALHEIROS E RANDOLFE

Preso novamente nesta-terça-feira pela PF, o doleiro Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, delator da Lava Jato, atuava com o doleiro Alberto Youssef. Preso pela PF durante a Lava-jato, em 2014, firmou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) delatando os políticos Fernando Collor de Mello, Aécio Neves, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues. O acordo foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ceará foi preso pela primeira vez em 17 de março de 2014, em Balneário Camboriú (SC), na primeira fase da Operação Lava Jato. No mês seguinte, em 22 de abril de 2014, o Ministério Público Federal do Paraná apresentou denúncia contra Ceará por apenas um crime: operar, sem a devida autorização, instituição financeira de câmbio, com pena prevista de um a quatro anos de reclusão. O MPF pediu ainda na denúncia o pagamento mínimo de multa de R$ 5 milhões por danos causados ao sistema financeiro e econômico.

No dia seguinte, a denúncia foi aceita pelo juiz Sérgio Moro. Em seu despacho, o magistrado soltou Ceará da prisão preventiva, colocando-o em liberdade com medidas restritivas, tais como retenção do passaporte, proibição de contato com Alberto Youssef, ter de avisar ao juízo em caso de mudança de endereço.

Em nota, a PF revelou que “chama atenção o fato de ter retornando às suas atividades ilegais mesmo tendo firmado acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República e posteriormente homologado pelo Supremo Tribunal Federal. A Procuradoria Geral da República e Supremo Tribunal Federal serão comunicados sobre a prisão do réu colaborador para avaliação quanto a quebra do acordo firmado”, diz o trecho.