Política

Ministros criticam programa do PSDB: 'É tiro no pé', diz Aloysio Nunes

O ministro das Cidades também fez críticas: 'o programa não me representa'

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores e senador do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira, reagiu na noite desta quinta-feira ao programa partidário do seu próprio partido, chamando-o de "monumento à inépcia publicitária" e expressão "de uma confusão política digna de figurar numa antologia do gênero". O tucano publicou seu desabafo nas redes sociais enquanto o programa estava no ar. Ele disse que o programa diz que o "o PSDB errou, sem dizer exatamente onde está o erro" e reagiu a declarações sobre corrupção generalizada.

— Tenho 30 anos de vida parlamentar e nunca recebi dinheiro ou pedi vantagens para apoiar as agendas em que acredito. De quem o programa está falando? O sujeito desses verbos que indicam práticas reprováveis são “os políticos”. É uma forma pantanosa e politicamente irresponsável de diluir as culpas pela degradação institucional que, ao lado da crise econômica e da desorganização administrativa, constitui o legado de um partido político. E esse não é o PSDB. É o PT.

Aloysio destaca que a direção partidária deu um "tiro no pé" e que não deveria tomar tal atitude no contexto atual.

— O PT, do Lula ao mais modesto dos seus aderentes, deve estar dando gargalha das diante desse enorme tiro que a direção interina do PSDB desferiu no nosso próprio pé.

Neste momento, ele saiu em defesa do presidente Michel Temer.

— O programa vai ao ar no contexto de uma árdua luta política, em que o presidente Temer se empenha, com coragem e determinação, para fazer avançar um conjunto de reformas essenciais para chegarmos a 2018 com um país um pouco mais arrumado. E também, digamos francamente, no ambiente de uma luta interna em que uma ala do partido pretende rever a decisão da comissão executiva, reiterada em reunião da executiva ampliada, de apoiar o governo Temer e dele participar  — disse ele.

Segundo o ministro, Temer teve "visão e habilidade política" de transformar o conjunto de forças heterogêneas "em uma maioria positiva para apoiar uma ambiciosa agenda reformista".

— Pergunto aos marqueteiros: o apoio do PSDB ao governo Temer, os cargos que ocupamos, foram negociados por baixo do pano, por fisiologismo ou apego aos cifrões que aparecem nos olhos dos bonequinhos em que o programa representa “os políticos”?  — disparou.

Aloysio reagiu à afirmação do programa de que o país está parado há três anos, citando o nome de todos os ministros do PSDB.

— No meu ministério não está (parado), nem do da Luislinda, no do Bruno, ou do Imbassahy. Em suma, esse programa não me representa. Não participei de sua concepção, e em nenhum momento minha opinião foi demandada. Ele passa ao largo dos problemas urgentes do país e das opções que o PSDB tem o dever de apresentar para seu enfrentamento  — encerrou ele.

Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

O ministro das Cidades, Bruno Araújo, também reagiu ao tom do programa do PSDB e usou a mesma expressão do colega Aloysio Nunes Ferreira: "o programa não me representa". Mas a nota é bem mais amena. Bruno cobra que a direção nacional respeite a decisão em vigor, de que o partido se manteve no governo.

"Seguimos um caminho de compromisso e recuperação do país. Por tudo isso, esperamos da presidência interina que se conduza dentro dos limites das decisões tomadas na legítima instância do partido, a Executiva Nacional", disse Bruno, na nota.

Ele disse que o partido tem ajudado o país a sair da crise.

"A mudança na Executiva do PSDB tinha como objetivo levar o partido a uma transição consensual até a realização de novas convenções. O  programa exibido hoje não se enquadra nesse espírito. Tampouco o programa é junto com a história do partido. O programa não me representa", diz Bruno.

O ministro da articulação política do governo, Antonio Imbassahy, fez coro aos demais ministros tucanos e também criticou o programa do PSDB.  Em nota na noite desta quinta-feira, Imbassahy afirma que o programa que foi ao ar hoje "ofende fortemente o PSDB" e coloca a legenda em situação "extremamente ruim e desconfortável" por culpar o partido por problemas de governos do PT.
O ministro diz ainda que o programa veiculado faz "colocações rasas, genéricas" e sem ter "coragem" de apontar os culpados pelos problemas que a propaganda mencionou.

Para Imbassahy, isso só serviu para "expor, em rede nacional", a divisão interna do PSDB. Ele diz ainda que as atitudes da direção interina do partido foram "autoritárias e desagregadoras" e diz que a totalidade da legenda não foi consultada sobre o conteúdo que foi ao ar.

O PSDB, prossegue o ministro, "não pode continuar sendo um fator gerador de crises, criando instabilidades que atrapalham o governo e, consequentemente, o país".