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Política Eleições 2018

Com menos dinheiro, partidos buscam formar chapa com candidatos ou vices ricos

Empresários ricos são cobiçados por políticos, após mudança nas regras de financiamento
Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, é cortejado por vários partidos Foto: Guilherme Dardanhan / Divulgação ALMG
Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, é cortejado por vários partidos Foto: Guilherme Dardanhan / Divulgação ALMG

BRASÍLIA — Antes de passar a ser cogitado como candidato a presidente da República — o “outsider” da vez, em articulações do bloco dos partidos de Centro —, o nome do empresário Josué Alencar , já estava no tabuleiro da sucessão presidencial desde que ele se filiara ao PR. Ele vinha sendo cortejado como “vice dos sonhos” tanto pelo pré-candidato do PDT, Ciro Gomes , como pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia procurado o presidente da Coteminas numa tentativa de reeditar a chapa vitoriosa nas eleições presidenciais de 2002 e 2006 formada com o pai do empresário, José Alencar. Josué Alencar vinha sendo cobiçado também por políticos mineiros atrás de alianças locais.

Tanto assédio, segundo os críticos de Josué, só tem uma explicação: dinheiro. As mudanças nas regras de financiamento eleitoral fizeram com que empresários ricos passassem a ser disputados pelos partidos. Como os arranjos com empreiteiras se tornaram mais difíceis, políticos endinheirados surgem como uma solução fácil para o problema de caixa criado pela nova lei eleitoral. Em 2014, quando foi candidato ao Senado em Minas Gerais, Josué declarou patrimônio de R$ 96 milhões —– este seria, segundo alguns políticos, seu maior predicado eleitoral.

— O Josué está sendo muito cortejado, apesar do conteúdo político zero dele. Qual predicado que o Josué tem além de ser filho do José Alencar? Nenhum. Ele só é rico. Eu defendo o limite no autofinanciamento porque senão vai continuar tendo Josués, Dórias, Flávios. É gente que vai se impor na política pelo dinheiro — critica o líder do PSB na Câmara, deputado Júlio Delgado (MG).

O partido de Delgado entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar fixar um limite ao autofinanciamento. Pelas regras atuais, quem tiver recursos pode financiar integralmente a campanha. A lei fixa apenas um limite máximo de gastos para cada cargo. Para a disputa presidencial, o teto é de R$ 70 milhões.

Assim como Josué, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que quer ser o candidato do MDB a presidente, é autossuficiente no quesito dinheiro. Antes de assumir a Fazenda, Meirelles, apenas em 2016, lucrou R$ 217 milhões com consultoria para grandes empresas. Diferentemente dos candidatos menos abastados, ele não estará à mercê do partido na definição da distribuição dos recursos dos fundos partidário e eleitoral.

Meirelles anunciou que pretende bancar sua campanha com o próprio bolso e disse a interlocutores que deve gastar pelo menos R$ 5 milhões só na fase de pré- campanha. Aos 72 anos, ele vê o ano de 2018 como a última chance de realizar o seu maior objetivo na vida pública: chegar ao Planalto. Meirelles está tendo reuniões com as bancadas de deputados e senadores e dirigentes estaduais para angariar aliados no partido para a sua pretensão. A possibilidade de ele sair candidato passou a ser bem vista por grande parte da bancada do PMDB na Câmara. Com uma campanha presidencial custeada por recursos próprios, sobraria mais dinheiro do fundo eleitoral para a disputa de parlamentares da própria reeleição.

O presidenciável Flávio Rocha (PRB), dono da Riachuelo, é outro pronto para abrir suas vultosas contas pessoais para bancar a campanha. Detentor de uma fortuna avaliada em R$ 1,3 bilhão, ele já avisou que não precisará de dinheiro do fundo público.

— Ele externou que pode custear a campanha. Quando me perguntou quanto podia gastar, respondi que seria o teto que já está estabelecido pela lei. E aí já não se falou mais no assunto. Estava decidido — contou ao GLOBO o presidente do PRB, Marcos Pereira.

Outro nome em cogitação para compor uma aliança eleitoral como vice, Flávio Rocha rechaça a hipótese:

— Não tenho vocação para ser vice, tenho certeza de que ainda vou crescer.

Apesar disso, o PRB já iniciou conversas com lideranças de outros partidos visando à campanha presidencial. Caso não decole nas pesquisas até julho, Flávio Rocha pode entrar numa composição como vice de outro candidato de centro.

— Tem uma brincadeira que diz que vice que tem tempo de TV vale. Se não, tem que ter voto ou tem que ter dinheiro — resume o ex-ministro Helder Barbalho, que tentará se eleger governador do Pará.