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Análise: Trump incita ódio ao minimizar atos de supremacistas

Ojeriza ao diferente pelo presidente americano volta em carga total em coletiva
Trump condena violência em Charlottesville Foto: KEVIN LAMARQUE / REUTERS
Trump condena violência em Charlottesville Foto: KEVIN LAMARQUE / REUTERS

WASHINGTON - Donald Trump voltou a ser Donald Trump na tarde desta terça-feira: durou pouco mais de 24 horas seu posicionamento forte e combativo a grupos de supremacistas brancos. Em uma confusa entrevista coletiva no hall de seu prédio em Nova York, voltou a culpar os dois lados, defendeu seu assessor ligado a racistas e afirma que muitos dos que lutavam contra a discriminação nos conflitos de Charlottesville, no sábado, estavam “armados”. Colocou no mesmo balaio os brancos da extrema-direita que “queremos tomar o país de volta” com os negros e defensores de minorias que reagiram, lutando contra o discurso nazista. E ainda disse que "há pessoas muitos boas dos dois lados".

Esta postura de Trump choca, mas não deve surpreender. O presidente americano não fez nada além do que sempre defendeu. Mais que as polêmicas que deixam muitos incrédulos, ele adotou de vez um discurso de ódio, divisão, radicalização. Seu nativismo, sua ojeriza ao estrangeiro, ao diferente, à minoria voltou em carga total. No mesmo dia em que acusou quem lutou por direitos humanos no sábado na Virgínia — luta que custou a vida de uma mulher, morta em um episódio de “terrorismo doméstico”, como seu próprio governo classificou —, disse que nem todos os que defendiam a manutenção da estátua de Robert Lee, escravocrata da Guerra Civil, poderiam ser chamados de “neonazistas”.

Essa postura de Trump serve como pólvora: atiça os racistas, provoca os negros e as minorias. Seu governo tem sido marcado até agora por um fracasso — não conseguiu aprovar nenhum projeto relevante sequer. E a economia americana, que segue de vento em popa, se beneficia do que muitos consideram “a experiência mais próxima possível de não ter governo nenhum”. No capitalismo isso pode até funcionar por um tempo. Mas não ter um líder moral no país, em um momento de tanta divisão, não passará de forma incólume. O medo da guerra racial volta aos Estados Unidos. E isso é apenas parte da fatura que os americanos têm de pagar por terem eleito Donald Trump.