Por Adneison Severiano, G1 AM


Controle das chamas feito pelo Corpo de Bombeiros — Foto: Divulgação/Bombeiros

O Amazonas registrou aumento nos casos de incêndios este ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que analisa os dados via satélite há 19 anos. De janeiro a até o dia 15 de setembro, 10.609 focos de queimadas foram registrados no estado. No mesmo período do ano passado foram 9.194 focos, aumento de 15,4% no comparativo entre os nove meses de 2016.

O Amazonas é o quinto estado com o maior volume de foco de queimadas em 2017. Os casos de queimadas já representam 88,2% do número total de incêndios do ano passado, quando 12.024 ocorrências foram detectadas pelo monitoramento do Inpe.

Em setembro foram registrados, até o momento, 2.019 focos de incêndio. O município de Apuí, situado a 408 km de distância de Manaus e no Sul do Amazonas, concentra mais de 1.800 focos. A cidade lidera o ranking de queimadas no estado.

Lábrea, Novo Aripuanã, Manicoré, Canutama, Humaitá e Boca do Acre também integram o grupo de municípios amazonenses com maior número de queimadas.

O Inpe também contabilizou recorde de incêndios no mês de agosto deste ano, com 6.266 focos de queimadas no estado. O número é o maior já registrado em um único mês no estado pelo Instituto.

Recorde histórico

Há três anos o Amazonas tem registrado volumes anuais de focos de queimadas superiores a 10 mil ocorrências. O recorde anual de número de focos de queimadas foi alcançado em 2015 com 15.170 ocorrências. O ano foi considerado mais crítico e a fumaça das queimadas deixou Manaus encoberta durante três dias. Cinzenta e densa, ela dificultou a respiração, além de prejudicar a visibilidade em ruas e avenidas da capital.

Queimadas criminosas

A vegetação seca e redução das chuvas no período no chamado “verão amazônico” contribuem para aumento das queimadas. Porém, a destruição da floresta amazônica pelo fogo também é resultante da ação de fazendeiros e madeireiros.

“Cada região possui peculiaridades, mas a realidade de desmatamento do Amazonas, e que se configura como um desafio anual para todas as esferas do Poder Público, está ligada a queimadas, resultado da ação direta e predatória do homem. Em algumas áreas, principalmente no interior, por exemplo, existe o uso cultural do fogo para limpeza e preparo do solo para agricultura. Esse é o mais recorrente objeto de focos de calor no estado", explicou em nota a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema).

Em outros casos, as queimadas estão associadas à extração seletiva de madeira que resulta consequentemente em desmatamento, conforme a Semsa. "Já na capital, a principal causa de focos de calor ainda é a queima do lixo doméstico para eliminação de resíduos, folhas e galhos, em quintais e terrenos sem área construída, o que é tipificado como crime, conforme a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9605/1998). Ainda em Manaus, outros casos de focos de calor são resultado de queima de área verde em invasões”, explicou.

Prevenção

A Sema e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) afirmam que realizam constantes iniciativas para combater focos de calor e desmatamento em todo o estado.

Para prevenir, combater e reduzir os focos de calor o estado criou, entre outras estratégias, o Grupo de Trabalho de Prevenção, Controle e Combate às Queimadas e Incêndios Florestais e Qualidade do Ar (GT Queimadas). Até 2015, cada órgão envolvido no combate às queimadas trabalhava de forma individual em suas esferas de competência.

“O grupo foi criado para que todos trabalhassem de forma integrada no combate aos focos de calor, sob coordenação da Sema, potencializando a eficiência contra queimadas e reduzindo os gastos nas ações”, informou a Sema.

O grupo é formado por instituições federais, estaduais e municipais, tais como, Sema; Ipaam; Batalhão Ambiental da Polícia Militar; Batalhão de Incêndio Florestal e Meio Ambiente (BIFMA) do Corpo de Bombeiros; Defesa Civil do Estado; secretarias municipais de Meio Ambiente; secretarias municipais e Estadual de Educação (Seduc); Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror); Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam); Secretaria de Estado de Saúde (Susam); Fundação de Vigilância em Saúde (FVS); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (Inmet); Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam); Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); Serviço Geológico do Brasil (CPRM); entre outros.

Há também a Sala de Situação na Sema que funciona como um centro de gestão de situações críticas e subsidia a tomada de decisões. Ela utiliza imagens de satélites disponibilizadas pelo Inpe para identificar focos de calor, cuja localização é compartilhada entre os membros do grupo, acionando o Corpo de Bombeiros para combater o fogo, a Defesa Civil para mensurar danos e fornecer o apoio necessário à população, além da secretaria municipal de Meio Ambiente de cada município.

Outro instrumento de combate às queimadas é a campanha educativa e de sensibilização “Diga não ao fogo. Você também é responsável”. O intuito é alertar a população quanto aos riscos à saúde e impactos ambientais causados pelas queimadas.

“Várias ações de sensibilização estão sendo realizadas no interior por uma equipe itinerante com servidores da Sema, Ipaam e Corpo de Bombeiros. Entre as ações estão palestras, estabelecimento de pactos locais, por meio de termos de cooperação com os municípios, na área de prevenção e controle de queimadas, capacitação de técnicos e agricultores em práticas que reduzam queimadas nas atividades agropecuárias, além da formação de novas brigadas de combate a incêndio, principalmente nos municípios da região do Sul”, explicou a Sema.

Para combater o desmatamento e os focos de calor a Sema disse que tem intensificado as ações do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e implementado o programa Municípios Sustentáveis do Amazonas (MS Amazonas). O programa MS Amazonas é o primeiro de uma série de instrumentos que serão implementados para reduzir o desmatamento, degradação ambiental e queimadas no estado, com destaque para a região Sul, associado à política da Matriz Econômica Ambiental. Os municípios de Apuí, Boca do Acre, Manicoré, Lábrea, Humaitá, Novo Aripuanã e Canutama são prioritários no programa devido aos registros de altos índices de desmatamento e queimadas.

Investimentos

O Governo do Amazonas, por meio da Sema e Ipaam, fez a entrega de equipamentos de combate a queimadas nessa quinta-feira (14), ao Corpo de Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM).

Foram entregues kits com cartazes, folders entre outros materiais de sensibilização e educação ambiental da campanha contra queimadas “Diga não ao fogo. Você também é responsável” aos representantes de municípios do interior.

Entre os materiais que totalizam R$ 265 mil estão motobombas, roçadeiras motorizadas, motosserras, luvas de vaqueta, cantis, capacetes, lanternas, óculos de proteção, enxada, facões, foices, machados, ancinhos, pás, abafadores, mochilas, entre outros. Os equipamentos serão utilizados para equipar brigadas de incêndios formadas pelo Corpo de Bombeiros, em parceria com a Sema e os municípios do interior.

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