Rio

Presença de Índio da Costa em disputa de sambas da Mangueira gera polêmica na Prefeitura

Enredo da verde e rosa critica decisão do prefeito Marcelo Crivella de cortar verbas do carnaval

Ritmo. Índio toca bateria na campanha eleitoral de 2016: ele se diz mangueirense de coração
Foto: Marcelo Carnaval /
Agência O Globo 01-10-2016
Ritmo. Índio toca bateria na campanha eleitoral de 2016: ele se diz mangueirense de coração Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo 01-10-2016

RIO - A julgar pela concorrência, dá até para dizer que a parceria de Índio da Costa, secretário municipal de Urbanismo, Infraesrutura e Habitação, pegou leve. Mas a polêmica já está consumada. A notícia de que um dos homens fortes da prefeitura resolveu participar das disputas de samba na Mangueira repercutiu tanto nos corredores do centro administrativo municipal quanto no burburinho carnavalesco. Ele não passaria de mais um dos mais de 90 compositores que tentam a sorte na escola para 2018 se o enredo da verde e rosa — “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco” — não fosse, no fundo, uma crítica ao seu chefe, o prefeito Marcelo Crivella.

O tema foi escolhido em meio à confusão provocada pelo corte de verbas do município aos desfiles do Grupo Especial. E o carnavalesco Leandro Vieira, na época, foi enfático ao dizer que o enredo era uma resposta à medida de Crivella. Parte das composições na disputa, apresentadas anteontem, foram contundentes nesse recado e nas referências, ainda que veladas, à religião do prefeito.

Numa possível “cutucada” em Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, o bamba Tantinho, junto com seus parceiros, disparou no refrão: “Se é pecado sambar, não queremos perdão / Impossível negar a nossa devoção”. Já Lequinho, um dos maiores campeões da Velha Manga, assinou: “Eu sou Mangueira, meu senhor, não me leve a mal / Pecado é não brincar o carnaval”. Celso Tropical e companhia também não deixaram barato: “A manifestação é cultural / No reino da folia / A Estação Primeira é universal”. E Hélio Turco, veterano nas disputas da verde e rosa, mandou: “Não há dinheiro que defina esse amor / Pra seu governo vou mostrar o meu valor”.

LETRA MAIS SUTIL

A parceria de Índio — que ainda tem, entre outros quatro compositores, Daniel Pereira, um dos assessores de imprensa de Crivella e autor de mais de 30 marchinhas de blocos de rua — foi mais sutil. Mas não escapou do tom crítico do enredo. Um dos versos diz: “Derruba as grades do poder”. Um outro completa: “Quem manda é o povo, e não há quem possa”.

Apesar de a agremiação fazer uma crítica implícita ao corte da verba, Índio posiciona-se a favor do remanejamento do dinheiro que iria para o carnaval.

— Estamos falando de carnaval e samba. Eu apoio integralmente a decisão do prefeito de priorizar as creches, sem deixar de patrocinar as escolas. E não há dúvida de que o carnaval é uma festa popular. Quem manda é o povo, que também manda nos governos — disse ele, que se define como mangueirense de coração.

“A CRÍTICA É VÁLIDA”

Em meio ao rebuliço, Crivella minimizou as críticas à sua decisão de cortar verbas para o carnaval de 2018 feitas em algumas letras inscritas na disputa de samba-enredo da Mangueira, cujo enredo é “Com dinheiro ou sem dinheiro, eu brinco!”, bem como a parceria de dois de seus colaboradores próximos em um dos sambas da disputa.

— A crítica é válida. A crítica é construtiva. Ela é importante — comentou Crivella, depois de dizer que a verde e rosa tem tradição de sambas históricos e de cantarolar o trecho de um deles, o “Exaltação à Magueira”, de Enéas Brittes da Silva e Aloísio Augusto da Costa (Mangueira teu cenário é uma beleza/Que a Natureza criou).

Além de Índio da Costa e Daniel Pereira, a parceria com representantes da prefeitura conta com Cesinha Maluco, Zeca do Cavado, Zé Carlinhos e Rubens Gordinho e Helton Dias. Para gravar o samba, ele investiram pesado e chamaram um dos intérpretes acostumados a vencer as disputas nas quadras, Wander Pires, cantor da Mocidade Independente de Padre Miguel.