Rio

Secretária de Cultura defende o museu da escravidão

Nilcemar Nogueira diz que espaço não pode esconder em seu nome a dimensão histórica do tema
Nilcemar Nogueira, Secretaria municipal de Cultura Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Nilcemar Nogueira, Secretaria municipal de Cultura Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

RIO - A secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, defendeu neste domingo, em artigo publicado no GLOBO, sua proposta de criação de um espaço destinado à história da contribuição do negro para a formação da identidade e da cultura brasileira. O projeto de um museu sobre a escravidão, segundo ela, “não pode esconder em seu nome a dimensão histórica desse tema, mas sim ressignificá-la. Se a história da escravidão toca a violência e a privação de direitos, dá também testemunho da resiliência e indestrutibilidade do espírito humano, dos atos de resistência e rebelião, dos esforços de recriação de identidades e de sentimento comunitário; enfim, da luta e conquista da liberdade”.

Na semana passada, o projeto do museu foi alvo de polêmica. Em seu perfil no Facebook, o compositor, escritor e pesquisador Nei Lopes, especialista em culturas africanas, ressaltou que a escravidão nas Américas foi um fenômeno histórico importante, mas lesivo à autoestima da população negra. A secretária, que já havia publicado um texto sobre o assunto na rede social, demonstra no artigo que está otimista em relação à viabilidade do museu, previsto para ser erguido na região do Cais do Valongo, na Zona Portuária. De acorro com ela, “o futuro Museu da Escravidão buscará ouvir as vozes silenciadas de seus protagonistas através de processos participativos, de baixo para cima, rechaçando abordagens curatoriais autoritárias”.

Nilcemar também afirma que “reconhecer que muitos ainda sofrem os legados da escravidão requer um museu como vetor de autoestima, desenvolvimento humano, oportunidades socioeducativas e impactos sociais duradouros”.

Para ela, “não há bem-estar individual sem bem-estar coletivo. O mal que recaiu sobre a comunidade escravizada hoje afeta a sociedade como um todo”. Nilcemar, que é neta de Cartola e Dona Zica, já teria conversado sobre o projeto com o prefeito Marcelo Crivella.

Para Nei Lopes, em vez de um “museu da escravidão”, seria melhor um museu da herança africana ou afro-brasileira, ou afro-carioca. Ele ainda citou o historiador Joel Rufino, que costuma dizer que a palavra escravidão “assusta e causa rejeição nos jovens afrodescendentes em relação à História da África, por trauma psicológico”.

Já o arquiteto e urbanista Washington Fajardo, ex-presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, acha “ótimo que a secretária esteja interessada em fazer esse museu”:

— O Porto do Rio tem o Cais do Valongo, que tem esse vínculo com a cultura negra. É uma singularidade e um grande potencial. Acho essa inciativa muito feliz. Mas além de falar da escravidão, o museu tem que ser um lugar de celebração da contribuição do povo negro para a nossa sociedade.