Boulevard Olímpico lotado durante os Jogos Olímpicos Foto: Monica Imbuzeiro - 04/08/2016 / Agência O Globo

Rio 2016


Um ano após a Olimpíada, o que ficou de legado para o Rio

Boulevard Olímpico lotado durante os Jogos Olímpicos Foto: Monica Imbuzeiro - 04/08/2016 / Agência O Globo

Mobilidade melhorou, mas promessas como despoluição da Baía não decolaram

por Guilherme Ramalho / Rafael Galdo

Há um ano, era uma cidade à flor da pele. Na véspera da abertura da Olimpíada do Rio, explodia em dúvidas e expectativas. Agora, passada a euforia, já são 364 dias de convívio com a herança dos Jogos. O legado está à vista. Com Linha 4 do metrô, corredores de ônibus e VLT, a mobilidade urbana melhorou. O Centro e a Zona Portuária não são mais os mesmos, a começar por um boulevard que virou o xodó de cariocas e visitantes.

ENQUETE: QUAL FOI O MAIOR LEGADO DOS JOGOS PARA O RIO

A rede hoteleira dobrou sua oferta de quartos. E as instalações esportivas ficaram prontas a tempo. Mas quase nada escapa de um porém, de uma nuvem que deixa um horizonte turvo para o futuro. Algumas das incertezas que pairam vêm de longa data, outras são inesperadas, e muitas acabaram ampliadas pelo efeito dominó da crise federal e fluminense. As obras inacabadas são uma prova de que nem tudo deu certo. Sequer há previsão para a conclusão da estação de metrô da Gávea, e os trilhos do VLT ainda completaram seu traçado.

A proposta de transformação do Porto numa região residencial não decolou, e a revitalização esbarra em imbróglios que põem em xeque a gestão da área. Sinais de deterioração aparecem até na reluzente Praça Mauá. Segue sem resposta o questionamento sobre as arenas que receberam os atletas: serão elefantes brancos ou não? Em Deodoro, o Parque Radical está fechado.

A esperança de que compromissos firmados uma década atrás, quando o Rio virou candidato a sediar os Jogos, decolassem, foi abalada. A violência sem trégua, a Baía de Guanabara ainda combalida e as lagoas da Barra e Jacarepaguá poluídas são lembranças diárias das oportunidades perdidas. Já entre as aproveitadas, um dado novo da CET-Rio serve como um certo alívio para quem passou anos enfrentando os congestionamentos da cidade mergulhada em obras.

Em 20 trajetos de referência monitorados desde 2009, passando por vias como Linha Vermelha, Autoestrada Lagoa-Barra e Avenida Presidente Vargas, a velocidade média no trânsito carioca hoje chegou aos 33,5km/h. O que representa 8,3% a mais que os 30,9km/h de 2013, ano em que foram derrubados os primeiros pilares da Perimetral. Ou 10,6% maior que os 30,3km/h de 2009, quando o Rio foi eleito cidade-sede da competição.

  • Delegação australiana se queixou da qualidade das instalações da Vila dos Atletas Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

    Australianos se queixam de instalações da Vila Olímpica

    Logo na chegada à Vila dos Atletar, a delegação australiana fez diversas queixas sobre as instalações dos apartamentos, apresentando problemas nas partes elétrica e hidráulica, e decidiram deixar o local .
  • Michel Temer foi vaiado pela torcida brasileira durante cerimônia de abertura da Rio-2016 Foto: Mark Humphrey / AP

    Temer é vaiado na cerimônia de abertura

    Na cerimônia de abertura da Rio 2016, o então presidente interino Michel Temer foi vaiado após declarar abertos os Jogos Olímpicos do Rio, o que só ocorreu no fim da cerimônia. Não foi nem possível ouvir a frase inteira de Temer com a declaração de abertura . A vaia foi sucedida por fogos de artifício e logo encerrada.
  • Torcedora segura cartaz 'Fora Temer' durante jogo do futebol feminino entre Brasil e Suécia Foto: Leo Correa / AP

    Rio-2016 proíbe protestos com teor político

    Em meio a manifestações políticas que ocorreram em locais de competição logo após o começo da Olimpíada, a Rio-2016 determinou que torcedores que levassem cartazes com qualquer tipo de mensagem política, comercial ou religiosa serão retirados das arenas pela segurança, sob a alegação de estar seguindo a Lei Olímpica .
  • Boulevard Olímpico atraiu mais 4 milhões de visitantes durante os Jogos Olímpicos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

    O sucesso do Boulevard Olímpico

    Revitalizada especialmente para a Rio-2016, a Zona Portuária do Rio atraiu mais de 4 milhões de visitantes durante os Jogos Olímpicos . Com a realização de shows, apresentações de artistas de rua e telões para assistir as competições, o Boulevard Olímpico se tornou o principal espaço público de vistação durante a Olimpíada.
  • Casa da Suíça, na Lagoa, fez sucesso entre os cariocas durante a Olimpíada Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

    Casas dos países enaltecem diversidade cultural

    Espalhadas por diversos pontos da cidade, as casas temáticas de 19 países diferentes, além de outras temáticas que fizeram sucesso, como a da NBA, atraíram milhares de visitantes durante os Jogos Olímpicos, deixando saudade no coração dos cariocas .

Só em relação ao ano passado, que fechou com velocidade média de 31,7km/h nas ruas, esse aumento foi de 5,7%. E, segundo os técnicos da companhia, os dados apontam que a melhoria na fluidez no tráfego se tornou mais expressiva em 2017, com quase todas as obras entregues. Quem ainda perde horas nos engarrafamentos sabe que ainda está longe do desejado. Mas muitos motoristas e passageiros dos transportes públicos já percebem as mudanças, reflexo também de uma nova estrutura viária, com obras como a duplicação do Elevado do Joá e abertura dos túneis Marcello Alencar e Rio 450.

Meio ambiente

Esgoto da Baía de Guanabara na Marina da Glória depois da obra do cinturão feito para a Olimpíada - Custódio Coimbra / Agência O Globo

De todos os compromissos olímpicos, o legado ambiental foi o que mais ficou nas promessas. Dos nove projetos da área presentes no Plano de Políticas Públicas — documento que reúne todas as obras de legado que deveriam ter sido concluídas até os Jogos —, somente as 17 ecobarreiras construídas para reter o lixo que chega à Ba- ía de Guanabara foram mantidas, de forma plena, um ano após os Jogos. O restante das obras de saneamento e de recuperação das lagoas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá ficou pela metade. Nem mesmo os ecobarcos sobreviveram após os Jogos. As onze embarcações usadas para ajudar na retirada do lixo flutuante saíram totalmente de operação no mês passado, em meio à crise financeira do estado.

A Secretaria estadual de Ambiente não aponta nenhuma solução para a conclusão de seus cinco legados ambientais. A principal delas, a implantação do Tronco Coletor na Cidade Nova, depende de um aval do Tesouro Nacional para que o estado consiga aprovar um novo aditivo de prazo e de financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A obra já consumiu R$ 35 milhões e poderia transportar o esgoto de 120 mil pessoas para a estação da Alegria, no Caju. Hoje, toda a sujeira é despejada diretamente no Canal do Mangue, contribuindo ainda mais para a poluição da Baía.

A sujeira na Baía de Guanabara

  • De todos os compromissos olímpicos, o legado ambiental foi o que mais ficou somente nas promessas Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

  • A principal frustração foi a despoluição da Baía de Guanabara Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

  • A promessa era elevar o saneamento básico a 80%. Nem mesmo os ecobarcos sobreviveram após os Jogos Foto: Ricardo Gomes/IMU

  • As onze embarcações, usadas para ajudar na retirada do lixo flutuante, saíram totalmente de operação no mês passado em meio à crise financeira do estado Foto: Ricardo Gomes/IMU

  • Dos nove projetos ambientais presentes no Plano de Políticas Públicas de Legado, somente as 17 ecobarreiras sobreviveram de forma plena um ano após os Jogos Foto: Ricardo Gomes/IMU

  • O restante das obras de saneamento e recuperação das lagoas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá ficou pela metade Foto: Ricardo Gomes/IMU

Já a Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente, responsável pelas obras de saneamento da Bacia do Rio Marangá e de reabilitação ambiental da Bacia de Jacarepaguá, ambas na Zona Oeste, informou que os projetos foram divididos em etapas e estão parcialmente executados.

Presidente do Instituto Mar Urbano, o biólogo marinho Ricardo Gomes critica a falta de investimentos para a despoluição da Baía de Guanabara, a maior frustração dos Jogos. Mas ele ainda tem esperanças.

— A baía não está morta. É preciso criar um programa de governança que atravesse governos e que tenha uma participação efetiva da sociedade. — afirma.

  • Trecho do VLT até a Central do Brasil ainda está em obras Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

    Mais linhas de VLT

    Eram previstas três linhas de VLT na cidade, mas somente os trechos que vão da Zona Portuária ao Aeroporto Santos Dumont estão em operação, enquanto outros dois sofrem com atrasos . O trecho que liga a Rodoviária Novo Rio à Central só ficará no fim deste ano. Já a linha da Avenida Marechal Floriano foi adiada para 2018.
  • Trecho da Ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, desabou e não foi reaberto até hoje, devido à necessidade de reparos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

    Ciclovia na Avenida Niemeyer

    A construção da Ciclovia Tim Maia chegou a ser inaugurada. Em abril de 2016, no entanto, uma ressaca no mar derrubou parte da obra, deixando dois mortos. Até hoje, devido a problemas estruturais que tornam sua travessia insegura , a ciclovia permanece fechada.
  • O Parque Radical de Deodoro, que deveria estar aberto à população, foi fechado após término do contrato da prefeitura com empresa que administrava o espaço Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

    Parque Radical aberto à população

    Outro legado que a população teve o gostinho de experimentar foi o Parque Radical, no local das instalações olímpicas de Deodoro. A área de lazer, no entanto, foi fechada no fim de 2016 e ainda não reabriu. O contrato do município com a empresa encarregada de manter o espaço terminou e não foi renovado .

Turismo

Museu do amanhã no Boulevard Olímpico. Legado da Rio 2016 - Gustavo Miranda / Agência O Globo

Quando os olhos do mundo se viraram para o Rio, 1,17 milhão de visitantes desembarcaram em território carioca. Deixando para trás o pessimismo que rondava a competição, os cariocas abraçaram a oportunidade de fazer dos Jogos um catalisador do turismo. Logo após a competição, novas atrações, como o Museu do Amanhã, o Boulevard Olímpico e o AquaRio disputavam a atenção com as praias e os tradicionais Pão de Açúcar e Cristo Redentor. E com investimentos de R$ 10 bilhões em reformas e construção de novas unidades, segundo a Associação de Hotéis do Estado do Rio (ABIH-RJ), a rede hoteleira atingiu 62 mil quartos, mais do que o dobro dos 30 mil de 2009. Os ares eram favoráveis. Mas uma série de senões também se fez valer.

No último mês de junho, de acordo com o balanço mais recente da ABIH, a ocupação dos hotéis ficou em 40%, contra os 50% do mesmo mês do ano passado, ou os 76% de agosto de 2016, mês dos Jogos. E o primeiro semestre de 2017 fechou com uma taxa média de ocupação de 51,33%, abaixo dos 60,67% dos seis primeiros meses de 2016. Ainda no fim do verão, em março, a região da Barra da Tijuca amargava 38% de ocupação. Acendeu o sinal amarelo.

O mapa turístico da Orla Conde
Corredor dá acesso a atrações como museus, construções históricas e vistas para a Baía
Grafites
Mural Etnias
Museu do
Amanhã
Ilha
Fiscal
AquaRio
Armazém
da Utopia
Píer
Mauá
Fundição
Theatro Municipal
Cidade
do Samba
Praça
Mauá
Centro
Cultural
José Bonifácio
Instituto
dos Pretos
Novos
Museu de Arte do Rio
Cais do
Valongo e da
Imperatriz
Pira Olimpica
CCBB
RIo de Janeiro
Praça XV
Candelária
Museu
Histórico
Nacional
Palácio
Tiradentes
Arco dos
Teles
MUSEU DE
ARTE MODERNA
(MAM)
Paço
imperial
O mapa turístico da
Orla Conde
Corredor dá acesso a atrações como museus, construções históricas
Regiões
Pier Mauá
Praça XV
Ilha Fiscal
Candelária
Aterro do Flamengo
Baía de
Guanabara
RIo de Janeiro
Pier Mauá
AquaRio
Mural Etnias
Cidade do Samba
Armazém da Utopia
Fundição Theatro Municipal
Igreja Nossa Senhora da Saúde
Praça Mauá
Pedra do Sal
Museu de Arte do Rio
Instituto dos Pretos Novos
Centro Cultural José Bonifácio
Cais do Valongo e da Imperatriz
Candelária
Candelária
Pira Olímpica
CCBB
Casa França Brasil
Centro Cultural dos Correios
Espaço Cultural da Marinha
Candelária
PRAÇA XV
PALÁCIO
TIRADENTES
mUSEU HISTÓRICO
NACIONAL
Praça XV
Igreja São José
Paço imperial
Centro Cultural dos Correios
Arco do Teles
Praça Marechal Âncora
Igreja Santa Cruz dos Militares
Igreja de Nossa Senhora do Carmo da
Antiga Sé e da Ordem Terceira de Carmo
ATERRO DO FLAMENGO
Museu de arte
moderna (mam)
Movimento dos Pracinhas
Marina da Glória
Vistas para o Pão de Açúcar
Ilha fiscal

Presidente da ABIH, Alfredo Lopes diz que a crise e o noticiário de violência correndo o mundo influenciam para o Rio não decolar. Mas o fator principal, afirma ele, é que depois dos Jogos não houve uma única política de promoção do Rio internacionalmente, de esfera de governo alguma:

— Quem disser que teve está mentindo. O legado da Olimpíada para divulgação do Rio equivaleu a um trabalho de 30 anos. Mas, depois, as campanhas não aconteceram. Temos ainda uma excelente oportunidade, com o dólar e o euro favoráveis e preços mais baixos que na Olimpíada. Temos que aproveitá-la. Como resultado, o número de quartos hoje se acomodou em cerca de 56.500. E, na baixa temporada, alguns hotéis têm funcionado parcialmente. Mas, se é um alento, na terçafeira passada, o Boulevard estava lotado. E, por lá, ainda se ouvia uma dezena de línguas diferentes.

Infraestrutura

Prédio onde funcionaria o MidiaCenter, no Porto Maravilha, com obras paradas - Gustavo Miranda / Agência O Globo

"Não dá para fazer uma omelete sem quebrar os ovos". Ou "obra é igual a mulher bonita, que fica se aprontando, enquanto você fica esperando". Toda vez que o Rio mergulhava no caos, chafurdado nos preparativos para a Olimpíada de 2016, respostas como essas, do então prefeito Eduardo Paes, costumavam reforçar as promessas de que todo o transtorno viria para o bem. Com os benefícios à infraestrutura da cidade em teste, a mobilidade urbana desponta com um dos principais legados deixados pela competição.

O roteirista Márcio André Lima é um dos que desfrutam dos benefícios do legado no setor. Ele atravessa a cidade todos os dias, da Glória a Jacarepaguá. Se antes costumava fazer o trajeto em até uma hora e meia, hoje percorre da Zona Sul à Zona Oeste em aproximadamente 50 minutos. E conta com mais opções de transporte nesse caminho, de metrô, VLT ou ônibus.

— Antes, voltar pela Zona Sul era impensável, porque tinha muito trânsito. Hoje, posso pegar o BRT até o Jardim Oceânico, e depois o metrô, que me deixa muito perto de casa — diz Márcio.

Fundamentais ao plano de mobilidade dos Jogos, os três corredores de BRT que ficaram prontos antes da Olimpíada — dois deles antes até da Copa de 2014 — operam, no entanto, com um número de passageiros abaixo do projetado pela prefeitura. Segundo o consórcio que administra o sistema, o mais movimentado deles, o Transoeste, tem 201 mil usuários por dia, em vez dos 220 mil estimados. Já o Transcarioca tem 155 mil passageiros por dia, menos da metade dos 320 mil esperados. Panorama que se repete no Transolímpico, o último dos três inaugurado, às vésperas dos Jogos, com 30 mil usuários diários, frente aos 70 mil anunciados no projeto.

As obras de infraestrutura da Rio-2016 um ano após os Jogos

  • Orçado em R$ 1,18 bilhão e compondo parte das obras de revitalização do Centro do Rio, o VLT, inaugurado em junho de 2016, tornou-se um modal de transporte para conectar a Zona Portuária da cidade ao centro e ao Aeroporto Santos Dumont Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

  • Com o objetivo de melhorar o acesso entre a Zona Sul do Rio e a Barra da Tijuca, local de competição de várias modalidades nos Jogos Olímpicos, a ampliação do Elevado do Joá foi outra grande obra de infraestrutura para a Rio-2016 Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

  • Outra importante obra para os Jogos foi a do BRT da Transolímpica, construído para reduzir em 60% o tempo de viagem entre a Barra da Tijuca e Deodoro, dois dos principais pólos de competição da Rio-2016 Foto: Guilherme Leporace / Agência O Globo

  • O BRT da Transoeste, inaugurado em 2012 e ligando Barra da Tijuca, Campo Grande e Santa Cruz, tem 58 km de extensão, 62 estações e quatro terminais, mas já apresenta problemas de conservação em vários pontos Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

  • Inaugurado em junho de 2014, pouco antes do começo da Copa do Mundo, o BRT Transcarioca foi outra grande obra de infraestrutura da Zona Oeste, ligando a Barra da Tijuca ao Aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo

  • Obra de infraestrutura mais cara dos Jogos Olímpicpos, com um custo de R$ 8,79 bilhões, a Linha 4 do metrô conectou, em seus 16km de extensão, o Jardim Oceânico, na Zona Oeste, à Zona Sul do Rio Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

  • Com obras iniciadas em junho de 2011 e um custo de R$ 8,2 bilhões, a revitalização da Zona Portuária do Rio transformou transformou a região no espaço público mais frequentado por cariocas e turistas na Rio-2016. Neste ano, porém, a região começou a apresentar problemas de conservação Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

  • Construídos com o objetivo de evitar alagamentos na cidade, os reservatórios de água construídos na Praça da Bandeira, na Praça Niterói e na Praça Varnhagen tem capacidade de armazenamento de 119 milhões de litros d'água. No entanto, desde o término dos Jogos Olímpicos, a cidade já sofreu com dois alagamentos Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo

  • Palco de competições de modalidades como rugby, hóquei sobre grama, pentatlo moderno, hipismo e tiro esportivo, o Complexo Esportivo de Deodoro, com custo de R$ 825 milhões, chegou a ser aberto ao público em setembro. Porém, a empresa que administrava o local encerrou as atividades, e está atualmente fechado Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

  • Construído na Reserva Ambiental de Marapendi a um custo de R$ 60 milhões, o Campo Olímpico de Golfe sediou as competições da modalidade na Rio-2016, e foi aberto ao público após o término dos Jogos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

  • Em abril de 2016, o governo do estado inaugurou uma obra que deu início a um cinturão de proteção permanente à Marina da Glória. No começo de 2017, porém, uma equipe do GLOBO flagrou o despejo de galerias pluviais nas águas da marina Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

  • Em 2013, foram iniciadas as obras de esgotamento do Eixo Olímpico, beneficiando diretamente Barra e Jacarepaguá, ainda não conectadas à rede de esgotamento sanitário da Cedae. O sistema, que custou R$ 804 milhões, foi inaugurado em julho de 2016 Foto: Eduardo Naddar / Agência O Globo

O mesmo ocorre com a Linha 4 do metrô, que carrega, em mé- dia, 150 mil passageiros por dia, ou seja, metade da capacidade prevista. A falta de integração tarifária entre outros meios de transporte público e as obras inacabadas da estação da Gávea, a única que não ficou pronta a tempo dos Jogos, ajudam a explicar os vagões vazios. A conclusão do traçado até a Gávea continua sem previsão de sair do papel. Em novembro do ano passado, o TCE determinou a suspensão dos pagamentos ao consórcio Rio Barra, formado por Odebrecht, Queiroz Galvão e Carioca Engenharia.

O órgão encontrou indícios de superfaturamento e sobrepreços que podem chegar a R$ 2,3 bilhões. Segundo o TCE, o processo ainda está sendo analisado e não tem data para voltar a plenário. Enquanto isso, os canteiros e o tatuzão (máquina usada nas escavações) permanecem parados, consumindo R$ 3,1 milhões por mês para a manutenção das estruturas abertas.

Já o VLT, inaugurado em junho do ano passado, às vésperas da Olimpíada,carrega uma média de 40 mil pessoas por dia útil. Ainda longe dos 300 mil previstos quando alcançasse sua atividade plena. Apenas uma parte de sua rede foi entregue. Segundo a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp), o traçado das duas linhas existentes será ampliado, com três novas estações, incluindo a Central do Brasil. Já as obras da terceira linha, que ligará a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont, ainda nem começaram. Na última segunda-feira, à tarde, no Transolímpico, poucos ônibus circulavam entre Magalhães Bastos e a região de Jacarepaguá. O Terminal Centro Olímpico, principal local de entrada para quem foi ao Parque Olímpico durante dos Jogos, e que chegou a atender mais de 60 mil pessoas em um dia na Olimpíada, estava um deserto. Hoje, entram no sistema pelo terminal, em média, 200 passageiros pagantes por dia (sem contar os que fazem baldeação). O número é menos de 10% do que os cerca de 2,2 mil esperados antes dos Jogos.

VLT no Boulevard Olímpico - Gustavo Miranda / Agência O Globo

Apesar disso, quem usa o sistema reclama que, muitas vezes, se depara com ônibus lotados. A manicure Suzana Silva mora em Guaratiba e trabalha na Barra. Viajar em pé, para ela, é rotina:

— Esperava que, com todo esse investimento, a viagem se tornasse mais confortável. E, no caso do Transoeste, há um agravante. O tempo de viagem entre as pontas do corredor diminuiu cerca de 40 minutos, mas hoje a economia é menor. — Por conta da deterioração do asfalto das pistas, a viagem aumentou de 12 a 20 minutos. É preciso que as autoridades entendam que o BRT representa qualidade de vida para quem precisa dele todos os dias — diz a diretora de Relações Institucionais do BRT, Suzy Balloussier.

Segurança

Militares do Exército ocupam a Passarela Vinte e Oito da Avenida Brasil, em Fazenda Botafogo - O Globo

Em julho de 2016, as Forças Armadas tomavam as ruas do Rio para a Olimpíada e a Paralimpíada. Um ano depois, na última sexta-feira, era aos militares de novo que o estado recorria, desta vez para tentar conter um onda de violência que espalha medo. De uma tropa à outra, os descaminhos da segurança pública colecionaram histórias tristes, de vítimas como Arthur, o menino baleado no ventre da mãe, Maria Eduarda, atingida dentro da escola, ou dos 92 policiais militares mortos até agora em 2017.

— Já sabíamos que havia uma crise estrutural forte, com um retorno do padrão bélico da polícia e a volta de grupos armados. Mas é impressionante como a degradação da área de segurança pública foi tão rápida — diz Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidade da Universidade Candido Mendes.

Analisando os números do Instituto de Segurança Pública (ISP), a disparada é evidente. Somente na cidade do Rio, os indicadores de letalidade violenta — que incluem homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e homicídios decorrentes da oposição à intervenção policial — subiram 23% do terceiro semestre de 2016, quando ocorreram os Jogos — para o quarto, passando de 449 casos para 556. E alcançou 563 registros nos três primeiros meses deste ano.

Já os roubos de rua bateram recordes. Entre abril, maio e junho de 2017, foram 20.039 casos na capital, uma média de 220 assaltos por dia. Os números são 29,7% superiores aos 15.445 casos do período de julho a setembro de 2016. Os roubos de carga seguiram o mesmo ritmo. No trimestre das competições por medalhas, foram 1.235 ataques dos bandidos. Nos três meses seguintes, entre outubro e dezembro, foram 1.816, ou 47% a mais. Quadro que ocorria paralelamente ao agravamento da deteriora- ção das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

— Não se pode ter ilusão com mudanças cosméticas. Essa brutal queda de confiança na área de segurança e os indicadores de criminalidade mostram que não se pode mais adiar a tarefa de mudanças na polícia do Rio — diz Silvia.

O (não) legado ambiental
por Mário Moscatelli*

Quando o Rio de Janeiro sediou os jogos Pan Americanos, me enchi de esperanças. Afinal como uma cidade degradada poderia receber evento tão importante? As autoridades prometeram e praticamente pouco fizeram argumentando que os grandes legados ambientais de fato aconteceriam nos jogos Olímpicos, o primo rico do Pan. Pois bem, poucos anos depois colaborei com o COB, com propostas ambientais visando resolver monstruosos passivos ambientais de nossa cidade. O Rio levou a indicação para sediar o evento e com ele minhas expectativas aumentaram, pois mais uma vez, agora para o mundo inteiro, como é que nossos governantes poderiam mostrar uma cidade tão degradada ambientalmente, incompatível com o tal "espírito olímpico"? Pois é, mais uma vez eu estava completamente enganado, pois o item ambiental, presente na matriz de responsabilidades olímpicas passou muito longe do interesse daquelas autoridades que em 2009 prometeram resgatar a baía de Guanabara e o sistema lagunar de Jacarepaguá de sua sina de latrinas metropolitanas.
Passados 12 meses do início do grande evento, as lagoas do sistema lagunar de Jacarepaguá apresentam-se em estado terminal, exalando metano e gás sulfídrico, dia e noite, onde apenas na lagoa da Tijuca estão acumulados seis milhões e meio de metros cúbicos de lama e lixo, mais se parecendo com um canal pútrido onde praticamente nada sobrevive em suas águas contaminadas e praticamente sem oxigênio.
Na baía de Guanabara, a grande latrina metropolitana, quase todos seus rios continuam mortos por esgoto e a baía continua recebendo uma carga gigantesca de esgoto sem tratamento. Nada escapa dos lançamentos de esgoto, seja na enseada de Botafogo, porto do Rio de Janeiro, marina da Glória e na maioria dos seus municípios circundantes, a regra é degradação sem expectativa de reversão do quadro.
Infelizmente as autoridades brasileiras não são sérias e a sociedade que bancou boa parte desta festa de 40 bilhões de reais é apática diante dos desmandos públicos, a receita perfeita para o desastre ambiental que eu flagro todos os dias e que um dia, irá cobrar por nossa miopia.
Destaco que com aquilo que foi gasto nas obras do Maracanã, estádio atualmente a deriva, seria possível recuperar todas as lagoas e a maioria dos rios da baixada de Jacarepaguá. Mais uma vez infelizmente um país que não tem prioridade e tão pouco massa crítica está fadado a transformar seus recursos naturais em pó e afundar no colapso.É uma questão de tempo, só isso.

*Biólogo

O legado da mobilidade no Rio
por Willian Aquino*

O maior legado dos Jogos Olímpicos 2016 foi na melhoria da mobilidade urbana. Ainda existe muita carência de infraestrutura e serviços públicos na Cidade, mas que a mobilidade urbana melhorou muito é indubitável.
Para os usuários dos BRTs a redução media dos tempos de viagem foi significativa. Precisam ser aumentados o numero de viagens nos picos e a extensão da rede, para que haja mais conforto. A regularidade e a velocidade nos corredores mostram ganhos significativos. Os BRS demonstram que obras de pequeno porte e uso intensivo de tecnologia permitem dar prioridade aos transportes convencionais e aumentar sua velocidade.
A linha metroviária 4, pela orla, permitiu uma redução enorme de tempo, aumento de conforto e confiabilidade nas viagens. Existia outro traçado, mas isto não invalida os ganhos do eixo atual. A necessidade de solucionar a ligação da linha 2 entre Estacio e Carioca persiste, mas a modernização da frota e da operação melhorou os serviços.
Os trens de subúrbio estão com ar condicionado, operam com maior velocidade e regularidade. Hoje a musica “patrão o trem atrasou” talvez não existisse. Mas é preciso avançar, em especial nas estações e na integração.
O VLT, que cativou a todos, irá revolucionar o Centro e será base de comparação em qualidade e conforto. Não ter roletas e as pessoas pagarem era inacreditável.
Em geral, os investimentos foram corretos, não se entrando no mérito dos valores. As obras estão com um bom fluxo de passageiros, embora ainda abaixo de sua capacidade. Mas se estivessem lotadas, logo no seu inicio, isto é que seria motivo de criticas. O mais importante é que alcançaram seus objetivos de melhorar a mobilidade e diminuir os congestionamentos.
A crise econômica reduziu em 15% o numero de viagens diárias nos coletivos, percentual maior ainda nos automóveis. Isto faz com que as ruas estejam relativamente mais vazias. Não fosse isto a população iria ver como os investimentos foram e serão muito uteis, em especial quando a normalidade econômica voltar e as viagens crescerem. O tempo vai mostrar que a mudança ocorrida na mobilidade foi semelhante à queda de um muro que dividia o nosso povo. Sim, a Cidade ainda esta partida, mas, pelo menos, se pode deslocar em uma rede, que se for acompanhada e ampliada irá ser muito útil para se possuir um transporte humano e com qualidade.

*Coordenador Regional da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP)