• Daniela Frabasile
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Plantar uma árvore: resolução de Ano Novo para se tornar uma pessoa melhor ; sustentabilidade ; (Foto: Divulgação)

 (Foto: Divulgação)

Os chamados países em desenvolvimento ganharam poder nos últimos anos e hoje não se limitam a obedecer as regras criadas pelas potências econômicas mundiais. Eles têm criado as suas próprias normas. Nesse cenário, para entender as mudanças que aconteceram no desenho das cadeias globais de produção, é importante entender o que se passa nesses mercados. Isso envolve tanto os governos quanto a sociedade civil e as empresas. Durante a conferência Ethos 360°, em São Paulo, os pesquisadores Afonso Fleury, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e Khalid Nadvi e Rudolf Sinkovics, ambos da Universidade de Manchester, focaram sua análise na avaliação das empresas, e de como elas enxergam a responsabilidade social. “O Brasil parece estar à frente da China e da Índia na questão da responsabilidade social corporativa”, afirma Khalid Nadvi.

Afonso Fleury, responsável por coordenar a análise das empresas brasileiras no estudo apresentado na palestra, explicou que as multinacionais brasileiras tiveram seus modelos de negócios avaliados. “A questão é entender como entra a responsabilidade social corporativa no modelo de negócios da empresa, como a questão está posicionada na criação de valor, como está sendo trabalhada na relação com o consumidor e como está afetando os resultados financeiros da empresa”, diz.

No estudo, foram avaliados seis pontos: custo e redução de custo, gerenciamento de risco, vendas, reputação da marca, capacidade de atrair talentos e inovação. Depois da análise, as empresas foram divididas em diferentes perfis: proativo, acomodativo ou defensivo.

O resultado pode surpreender: quase todas as empresas brasileiras foram classificadas como proativas. Mas o professor Fleury explicou que a própria amostra já selecionava empresas que os pesquisadores pensavam se preocupar com a questão da responsabilidade social. Além disso, ele ressaltou as dificuldades de medir o impacto social causado pelas empresas. Fleury disse, no entanto, que mesmo dentro da classificação proativo, existem níveis diferentes de preocupação. “Há as empresas realmente sustentáveis [que colocam a sustentabilidade no centro do plano de negócios] e aquelas que são proativas na mitigação de risco, e a maioria das empresas brasileiras se enquadra na segunda opção”.

Khalid Nadvi afirmou que essa linha de pesquisa é importante para “pensar em novas normas para esses mercados e em maneiras de valorizar o que é feito nesses países em desenvolvimento”. O professor demonstrou que países como China, Índia e Brasil hoje não são apenas parte passiva da cadeia global de produção. O caso do protagonismo brasileiro na pesquisa sobre açúcar e álcool, por exemplo, merece ser investigado, defende. “Temos que entender como as empresas vão se tornar ambientalmente sustentáveis e lidar com o desafio da sustentabilidade, ao mesmo tempo em que lidamos com a questão de como incluir fornecedores menores dentro da cadeia global de produção”.

Hoje, diz Nadvi, a cadeia produtiva é constituída por muitas transações que envolvem diversos fornecedores e atores. Essa fragmentação, segundo ele, criou problemas como condições precárias de trabalho em algumas etapas do processo produtivo – que, não raro, geram escândalos de compliance em empresas conhecidas.

No entanto, Nadvi ressaltou uma diferença importante entre as empresas dos países desenvolvidos e as empresas de países em desenvolvimento. De acordo com a pesquisa, no segundo caso, elas geralmente são mais integradas na organização da produção, enquanto as empresas de países desenvolvidos tendem a distribuir mais a produção – o que gera mais riscos em relação ao compliance. Além disso, as empresas oriundas de países em desenvolvimento cresceram internacionalmente em países com perfil similar, “talvez porque julguem ser mais fácil competir neles ou por conta da menor regulamentação".

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