Por Márcia Brasil e Henrique Coelho, TV Globo e G1 Rio


Prefeito de Japeri é preso acusado de envolvimento com tráfico de drogas

Prefeito de Japeri é preso acusado de envolvimento com tráfico de drogas

Prefeito de Japeri, Carlos Moraes foi preso na manhã desta sexta-feira (27) na Operação Sênones, por suspeita de associação com o tráfico.

Em investigação conjunta, o Ministério Público do Rio de Janeiro e a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) afirmam que uma das maiores facções criminosas do estado se instalou na Prefeitura de Japeri. O objetivo é cumprir 41 mandados de prisão.

No grupo visado estão ainda o presidente da Câmara, Wesley George de Oliveira, o Miga, que está foragido; o vereador Cláudio José da Silva, o Cacau, também preso; e 37 suspeitos de tráfico. Determinação da desembargadora Márcia Perrini, da 7ª Câmara Criminal do TJ-RJ, também suspende cautelarmente as funções públicas dos três, todos do Partido Progressistas (PP).

Prefeito de Japeri, Rio é preso suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas

Prefeito de Japeri, Rio é preso suspeito de envolvimento com o tráfico de drogas

Prefeito de Japeri, Carlos Moraes, é levado para a Cidade da Polícia, no Rio — Foto: Henrique Coelho/ G1

Flávio Fernandes, advogado de Carlos Moraes, assegurou que o prefeito "jamais se associou a traficantes". "Estou tomando ciência de tudo agora. Mas, em uma análise superficial do que existe na investigação, é de fácil conclusão de que não está nesse tipo penal”, disse, ele sobre a acusação de associação para o tráfico. “Ele vinha atuando para rechaçar o tráfico de drogas", emendou.

O prefeito de Japeri, Carlos Moraes, é preso na Operação Sênones, por suspeita de associação com o tráfico. Investigação conjunta do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense descobriu que uma das maiores facções criminosas do estado se instalou na Prefeitura de Japeri — Foto: José Lucena/Futura Press via Estadão Conteúdo

Dinheiro encontrado na casa do prefeito de Japeri — Foto: Reprodução/ Polícia Civil

Na casa de Moraes a polícia encontrou arma, munição, R$ 34 mil em espécie e 850 dólares. Parte do dinheiro estava em duas bolsas azuis com logotipo da Prefeitura de Japeri.

Polícia apreendeu arma, munição e dinheiro na casa do prefeito de Japeri — Foto: Reprodução/ Polícia Civil

Ao ser detido, o prefeito xingou e ameaçou jornalistas. "Você está me ameaçando?", perguntou o repórter Diego Haidar. "Tô! Tô! Eu estou sendo ameaçado!", gritou de volta. "A gente resolve isso na Baixada!", completou.

Após ser preso, prefeito de Japeri xinga os repórteres na Cidade da Polícia

Após ser preso, prefeito de Japeri xinga os repórteres na Cidade da Polícia

Operação Sênones

A operação, batizada de Sênones, teve por base as investigações da Polícia Civil, do Grupo de Atribuição Originária em Matéria Criminal e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, estes do Ministério Público do Rio de Janeiro. A ação contou com o apoio da Coordenadoria de Inteligência da PM.

O nome da operação faz uma referência a Breno, nome do líder de uma tribo celta que invadiu Roma no século 4 antes de Cristo. Os sênones bateram os romanos e saquearam a cidade. Os governantes concordaram em pagar um resgate para se libertar das hordas de Breno, mas um ditador exilado formou exército e expulsou os celtas.

Carlos Moraes, prefeito de Japeri, xingou e ameaçou repórteres na chegada à Cidade da Polícia — Foto: Henrique Coelho/ G1

Ligação com o mais procurado da Baixada

Um dos mandados é contra Breno da Silva de Souza, o BR, preso no dia 20. Ele era o homem mais procurado da Baixada Fluminense, suspeito de chefiar o tráfico no Complexo do Guandu.

Escutas autorizadas pela Justiça flagraram, no ano passado, telefonema entre o prefeito Carlos Moraes e BR. A partir de então, agentes e promotores descobriram que Moraes, Miga e Cacau associaram-se ao tráfico de drogas local, comandado pela facção criminosa Amigos dos Amigos.

As investigações apontam que o trio colocou o exercício dos seus mandatos a serviço dos interesses da organização criminosa em troca de benefícios pessoais e a possibilidade de estruturação de um projeto político que os perpetuasse no poder.

A força-tarefa apurou que os políticos valiam-se de seus mandatos para repassar informações privilegiadas e para articular ações integradas que permitissem ao bando desenvolver livremente suas atividades ilícitas. Foram detectados ainda indícios de fraudes em licitações e desvios de dinheiro público em favor dos interesses da organização criminosa.

As escutas autorizadas pela Justiça apuraram episódios em que BR ligou para o prefeito e para outras pessoas influentes do município a fim de interromper uma operação policial para impedir a realização de um baile funk promovido pelos traficantes da localidade. O vereador Claudio José, o Cacau, também ligou para o traficante se prontificando a ajudar a encontrar uma solução para a intervenção policial na comunidade.

O prefeito retornou o contato telefônico com Breno para dizer que estava empenhado em atender à demanda de Breno e para passar informações privilegiadas sobre outra operação policial na comunidade. Disse ainda que, em companhia do vereador Wesley George, o Miga, iria procurar o comando do 24º BPM.

O elo entre a Prefeitura de Japeri, a Câmara Municipal e o tráfico do Guandu era Jenifer Aparecida Kaiser de Matos, um dos alvos da operação e que também foi presa.

Gangue atuava no Arco Metropolitano

Breno da Silva Souza, suspeito de chefiar tráfico em Japeri — Foto: Divulgação/Polícia Militar

Na época em que flagrou o telefonema entre Moraes e BR, a DHBF investigava a morte de três pessoas no Arco Metropolitano, via que passa pelo município e interliga as rodovias federais que servem ao Grande Rio.

A polícia aponta que BR coordenava roubos de carga pela região. Ele é um dos denunciados pelo assassinato dos vigilantes Jonas Souza da Silva e Benedito Charles da Silva, em maio de 2017, mortos durante assalto a um caminhão de carga no Arco Metropolitano. Contra Breno já foram expedidos 14 mandados de prisão, por crimes como homicídio, latrocínio, tráfico e roubo.

Prefeito no terceiro mandato

Carlos Moraes foi eleito no primeiro turno das eleições de 2016 em apuração apertada: 23.863 votos contra 23.252 de André Ceciliano, diferença de apenas 611 (ou um ponto percentual).

Moraes voltava ao posto que já ocupou por duas vezes, entre 1993 e 1996 – quando foi o primeiro prefeito eleito de Japeri, que se tornou município em 1990, após se emancipar de Nova Iguaçu – e de 2001 a 2004.

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