• De Fabiano Cândido e Rennan A. Julio
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Com um food truck, é possível vender comida em vários locais (Foto: Reprodução)

Empreendedores devem pensar bem antes de investir em um food truck, afirma consultor (Foto: Reprodução)

Comida de rua existe há séculos. Considerada uma das atividades mais antigas do mundo, ela segue cada vez mais forte no Brasil. Segundo dados do Sebrae, os trabalhadores deste ramo já representam 2% da população brasileira. Mas embora seja antiga, a comida de rua passa por uma nova fase da sua história: os food trucks.

Com a chegada dos restaurantes sobre rodas, a atividade, por anos considerada a opção gastronômica mais barata, hoje se mostra como modelo de negócio glamouroso e lucrativo. Segundo Ricardo Hida, curador do foodpark Piknik Faria Lima e consultor gastronômico, o food truck não é moda. “A comida de rua está passando por uma requalificação de mercado”, diz.

No país, muitos empreendedores encontraram neste serviço a chance que queriam para investir em gastronomia gastando menos - o investimento inicial de um truck vai de R$ 30 a R$ 200 mil. Mas para Hida, esse é um mercado que exige cuidado. “Tudo acabou se ‘gourmetizando’ demais. As pessoas investiram nessa área sem planejar direito e acabaram quebrando.”

Por isso, ele recomenda que todo cuidado é válido antes de colocar todas as economias no modelo. “Quem quer entrar nessa área tem que quebrar paradigmas. Colocar na cabeça que não sabe fazer comida de rua, mas que deseja aprender. Não é só dinheiro, tem esforço físico, burocracia e gestão de negócios.”

Por enquanto, o Brasil tem apenas dois estados (RJ e SP) com legislação em vigor para os food trucks. Segundo o Sebrae, as leis determinam as condições de uso dos equipamentos, a necessidade do termo de permissão de uso, as obrigações dos permissionários e a exigência de seguir as legislações sanitárias existentes.

Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os proprietários devem seguir as orientações básicas para garantir a elaboração de alimentos seguros, livres de contaminação.

Mesmo assim, não é fácil obter sucesso com um food truck no país. A fim de facilitar a vida daqueles que querem abrir seu próprio restaurante sobre rodas, Ricardo Hida  reuniu sete dicas básicas com exclusividade para a Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Confira:

1. Não é moda

Para Ricardo Hida, foodktruck não é moda. “A comida de rua existe há séculos. O truck não é como a paleta mexicana ou qualquer onda gastronômica”, afirma. Segundo o especialista, essa é a oportunidade ideal para quem sempre quis investir em gastronomia. “É uma aposta menos arriscada e com maior possibilidade de captação de clientes.”

2. Foco no cardápio

Quem quer abrir food truck não pode apostar em um cardápio vasto. “Muitos estão quebrando porque não perceberam isso antes”, diz Hida. Ele sugere que os empreendedores produzam poucas refeições, mas com carboidratos e proteínas. “As pessoas querem se alimentar, então elas não podem sentir forme depois de duas horas.”

Ainda assim, o especialista indica que busquem equilíbrio – e inovação. “Ninguém vai comer algo pesado todos os dias da semana. Segunda-feira é o dia que se menos vende. Então o ideal é buscar opções lights ou vegetarianas. O burger está saturado”, afirma.

foodtrucks-foodparks-comida-de-rua (Foto: Divulgação)

Foodpark Piknik Faria Lima, na cidade de São Paulo (Foto: Divulgação)

3. Food truck não é restaurante

Segundo Hida, existem três momentos em que os food trucks vendem mais: almoço, happy hour e no fim da noite. “Os clientes buscam refeições para viagem, porque eles não querem cozinhar ao chegar em casa. Então as empresas devem levar em conta esses dois fatores: um bom serviço de viagem e comida fresca”, diz.

4. Entenda seu público

Diferente dos consumidores de truck ao redor do mundo, o brasileiro tem um comportamento único, afirma Hida. “A gente não compra um pretzel e sai andando com ele na mão. Nós gostamos de sentar e comer”, diz. Ele também afirma que, como esse serviço não é considerado fastfood nem slowfood, o cliente não pode esperar muito: “mais de seis minutos já é ineficiente.”

Outro fator de sucesso para o consultor é a relação criada com os clientes. “O brasileiro gosta de afetividade, de conhecer a pessoa que faz seu cachorro quente”, afirma. Dentro dessa ideia, ele não acredita muito no potencial de franquia para os trucks. “Perde o vínculo dos clientes com a marca.”

5. Localidade

Para o consultor, não existe local ideal para abrir um food truck. “Tudo depende do seu produto”, afirma. Como exemplo, ele diz que dificilmente o empreendedor vai se dar bem se abrir um truck de comida japonesa perto de uma escola do ensino fundamental ou  um de comidas étnicas para um evento com muitas pessoas.

Ele também reforça a ideia de que o consumidor brasileiro ainda não criou fidelidade considerável com o food truck, então não adianta criar uma agenda, por exemplo. “As pessoas querem opções diferentes. Se ele estiver em um local com vários tipos de comida, aí a chance dele aumenta”, diz.

6. Conheça o mercado

Antes de investir no food truck, Hida sugere que os empreendedores testem se conseguem se adaptar ao modelo de negócio. “Não é fácil. Exige organização e muito esforço físico. As pessoas têm que entender que não basta ter a receita da família ou o dinheiro no caixa.”

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Foodpark Piknik Faria Lima  (Foto: Divulgação)

Por isso recomenda que os interessados passem por uma experiência antes de investir nos carros. “Poxa, por que não alugar uma barraca em um foodpark por dois dias antes de sair gastando uma grana? Assim ela sente o ritmo, a recepção das pessoas e se quer aquilo para sua vida. Em vez dos R$ 30 a R$ 200 mil reais, investiria no máximo R$ 2 mil”, afirma.

“Como o brasileiro é muito apaixonado por carro, eles querem logo ir para a parte do caminhão. Mas não é assim, tem que pensar sempre na gestão”, diz.

7. Faça bons amigos

Pular etapas básicas não é recomendado pelo especialista. Conversar com empreendedores que já trabalham com isso, ler sobre a área e buscar conselhos é ideal para o sucesso. “Procure ouvir quem já quebrou, quem fez sucesso. Os donos dos trucks adoram compartilhar suas histórias. Aprenda com eles”, diz.