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Rio

Artigo: Hoje não importa a geografia, se você é pai ou mãe está com o coração apertado

Muita gente no Rio está paralisando hoje, com estudantes indo embora de suas universidades, profissionais liberais cancelando compromissos e trabalhadores impedidos de deixar suas casas nas áreas de tiroteios
Policiais militares na Autoestrada Lagoa-Barra após tiros serem disparados por traficantes na Rocinha Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo
Policiais militares na Autoestrada Lagoa-Barra após tiros serem disparados por traficantes na Rocinha Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo

Maria não vai. Chico também não. Olivia está a caminho. Não mandei o Miguel. Julia já saiu de van. Nos grupos de mensagens de pais, só se fala numa coisa: levar ou não os filhos à escola, em uma sexta-feira que amanheceu em clima de Rock in Rio e, rapidamente, mudou de trilha sonora. A cidade passou a ouvir os fortes tiroteios na Rocinha e os relatos de estampidos em outras comunidades.

ARTIGO: A guerra é na selva

Algumas escolas do Rio estão bem no olho das áreas conflagradas - e a suspensão das aulas já é uma triste rotina. Outras não estão no meio da violência, nem o trajeto até lá fica na linha de tiro. Mas, hoje, e em qualquer dia de tiroteio, não importa a geografia: se você é pai ou mãe, carrega um aperto no coração.


É triste ficar acuado na própria cidade. Muita gente está paralisando hoje, com estudantes indo embora de suas universidades, profissionais liberais cancelando compromissos, trabalhadores impedidos de deixar suas casas nas áreas de tiroteios. E o pior é que é uma situação corriqueira para quem mora em regiões de conflito. Não queremos sucumbir ao pânico. Não podemos. Mas, num dia como este, afloram todas as neuroses que temos sentido com a escalada de violência.
Medo de entrar no carro estacionado na rua. De sair do banco. De circular tarde da noite. De assalto na porta da escola. E, agora, o medo maior: o de que seu filho tome um tiro a caminho da escola.
Queria ter mandado minha filha à aula. Provavelmente nada teria acontecido, e sei que ela não passa por nem um décimo do que crianças expostas diariamente à violência, mas não consegui. E ela perguntou por quê. Com quase nove anos de idade, não tem mais Ilha da Fantasia. Filha, tem bandido na rua. E, assim, ela começa sua coleção de pequenos medos.