Por Darlan Alvarenga, G1


Depois de uma alta de 1% no primeiro trimestre, o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do 2º trimestre apontará para uma estabilidade da economia, segundo as projeções de analistas de mercado. A divulgação oficial pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) será na sexta-feira (1).

Levantamento do G1 com 12 bancos, consultorias e grupo de economistas mostra que 5 estimam retração entre 0,1% e 0,5%, 4 esperam crescimento zero, e 3 preveem alta, entre 0,1% e 0,2%.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também estimou nesta segunda-feira que o PIB do 2º trimestre deverá vir "próximo do equilíbrio", ou seja, próximo de zero.

Veja abaixo as projeções para o PIB do 2º trimestre:

Projeções para o PIB do 2º trimestre — Foto: Arte G1

No 1º trimestre, a economia brasileira cresceu 1%, após 8 trimestres seguidos de queda, numa alta impulsionada principalmente pelo agronegócio. O setor deu um salto de 13,4% após uma supersafra de grãos.

Mais setores em recuperação

Agora a previsão é que o resultado do PIB tenha mostrado uma recuperação mais espalhada entre os diferentes setores da economia.

Um dos principais destaques positivos é a recuperação do setor de serviços, que deverá ter a primeira alta após 9 trimestres em retração.

Salão de beleza em Campo Grande; setor de serviços volta a crescer — Foto: Graziela Rezende/ TV Morena

"Do lado da demanda, a principal surpresa positiva deve ser o consumo das famílias que voltou a subir", projeta Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados.

Se for confirmada a previsão, o consumo das famílias, historicamente um dos principais motores do PIB no Brasil, terá registrado também o primeiro avanço após 9 trimestres seguidos de retração. Pesaram a favor da retomada dos gastos dos brasileiros a liberação das contas inativas do FGTS e da queda da inflação nas vendas do comércio.

A decepção, mais uma vez, deve ficar a cargo dos investimentos, que seguem andando para trás, em meio a ainda alta ociosidade da indústria e endividamento das empresas.

Embora a recuperação ainda seja muito lenta e tímida, os economistas destacam que após meses de um comportamento "gangorra", alternando altas e baixas, indicadores como os de vendas no varejo, indústria e emprego já migraram para o campo positivo.

“A gente já vê uma recuperação um pouco mais disseminada e o que nos tem dado um pouco mais de entusiasmo é que começamos a ver dados consistentemente de consumo, emprego, serviços e de crédito", afirma Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.

Para ele, os números do 2º trimestre mostraram que a economia atravessou relativamente imune à crise política detonada após as delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista envolvendo o presidente Michel Temer. “O resultado é bastante razoável, considerando a crise política que tivemos em maio, que não foi pequena. Havia até um risco de volta da recessão", acrescenta.

Efeito da agropecuária

O efeito estatístico é o principal motivo para os economistas esperarem um PIB menor no segundo trimestre do que no primeiro. O desempenho excepcional do agronegócio no primeiro trimestre inflou a base de comparação e agora deverá devolver a alta.

Agronegócios puxou alta do pib no 1º trimestre — Foto: YASUYOSHI CHIBA/AFP

“Sem a agropecuária, o resultado do PIB do 2º trimestre seria muito parecido com o do trimestre anterior, ao redor de 0,1%”, avalia a economia Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro/Ibre, que chegou a classificar o resultado anterior de "falso positivo".

“Tanto o positivo do 1º trimestre foi uma visão meio equivocada como agora o resultado do 2° trimestre pode dar uma visão mais pessimista do que deveria. Esse semestre foi de estabilização da economia. Esta é a melhor leitura”, resume.

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por exemplo, estima que o agronegócio caiu 2,9% na comparação com os 3 primeiros meses do ano. Já na comparação com o mesmo trimestre de 2016, a projeção é de alta de 11,7%.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, destaca que apesar da expectativa de queda do PIB do agronegócio na comparação com o trimestre anterior, o avanço do setor continuará sendo de 2 dígito na comparação com o mesmo período do ano passado. Para ele, a agropecuária dará uma contribuição significativa para o resultado fechado do PIB de 2017.

Últimos resultados do PIB divulgados pelo IBGE, na comparação com o trimestre imediatamente anterior — Foto: Arte/G1

Perspectivas e incertezas

O mercado financeiro elevou esta semana sua estimativa de crescimento para o PIB de 2017, de 0,34% para 0,39%, segundo o Boletim Focus, publicação do Banco Central que reúne projeções de analistas. Para 2018, foi mantida a previsão de expansão de 2%.

Na visão do ministro da Fazenda, o país entrará em 2018 com um ritmo de crescimento "perto de 3%".

A análise geral entre os analistas é que a economia entrou em um ritmo melhor no terceiro trimestre e tende a ganhar um pouco mais de tração até o final do ano. A queda da inflação e dos juros estimulam a atividade econômica, assim como outras medidas anunciadas pelo governo, como a liberação de saques de R$ 16 bilhões do PIS/Pasep para idosos.

Os economistas alertam, entretanto, que o ritmo de recuperação ainda é muito lento. Para eles, a estabilização da economia está sujeita a diversas incertezas políticas e é cedo para falar em retomada do crescimento.

"Apesar de alguma melhora nos dados da oferta como serviços e varejo, a demanda ainda preocupa. O consumo das famílias, do governo e o investimento devem continuar fracos", afirma André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

"A economia ainda está na fase da estabilização. Talvez no quarto trimestre a situação já esteja mais espalhada para todos os setores, ainda que de forma moderada", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.

Embora boa parte do mercado já não conte com a possibilidade de aprovação da reforma da Previdência em 2017, o tema continua sendo tratado como prioridade para a estabilização da economia, para a melhora da confiança de investidores e até mesmo para a manutenção das projeções para o PIB.

“Não é que nossa previsão depende da reforma da Previdência. Mas se tiver um fracasso completo, pode ser que afete as expectativas. Agora, se tiver uma aprovação, a projeção pode passar a ser até melhor do que a gente está imaginando hoje”, explica Kawall.

Últimas recessões no Brasil — Foto: Arte G1

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