Por G1


Trump agora diz que culpa por violência em ato foi dos dois lados

Trump agora diz que culpa por violência em ato foi dos dois lados

O presidente americano Donald Trump afirmou nesta terça-feira (15) que "há culpa dos dois lados" na violência que ocorreu no último final de semana em Charlottesville, no estado da Virgínia. Houve confrontos entre integrantes da supremacia branca e grupos antiextremistas. Um homem de 20 anos atropelou manifestantes contrários aos supremacistas, matando uma mulher e deixando pelo menos 19 feridos.

"Foi um dia horrível. Havia um grupo de um lado que era ruim e um grupo do outro lado que também era muito violento. Ninguém quer dizer isso, mas estou dizendo agora", afirmou Trump. Em outro trecho da entrevista, ele chegou a dizer que "há ótimas pessoas dos dois lados".

"Eu condenei neonazistas. Mas nem todas aquelas pessoas eram neonazistas, acredite", disse Trump em uma coletiva de imprensa na Trump Tower, em Nova York, para apresentar medidas de infraestrutura. "Aquelas pessoas também estavam lá para protestar a derrubada da estátua de Robert E. Lee [general da época da Guerra Civil]", acrescentou. Em outro momento, disse que a imprensa tratou essas pessoas "absolutamente injustamente".

No sábado, Trump já tinha sido duramente criticado por ter culpado "todos os lados" pela violência. No domingo, depois que sites de grupos neonazistas chegaram a agradecer o tom de seu discurso, no qual eles não foram condenados, a Casa Branca divulgou um comunicado dizendo que os comentários do presidente sobre protestos "incluíam supremacistas brancos, Ku Klux Klan, neonazistas e todos os grupos extremistas".

Trump diz que não demorou a condenar violência de supremacistas brancos

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Quando consultado por que esperou até a segunda-feira para condenar explicitamente os grupos de ódio presentes em Charlottesville no fim de semana, Trump disse que quis ser cuidadoso para não dar uma "declaração apressada" sem o conhecimento de todos os fatos.

"Não esperei demais", disse o presidente três vezes. "Eu queria ter certeza, diferente da maioria dos políticos, de que o que eu diria seria correto, sem fazer um pronunciamento apressado. O pronunciamento que fiz no sábado, meu primeiro, foi bom, mas você não faz declarações tão diretas a não ser que saiba os fatos. E leva um tempinho para saber dos fatos. Você ainda não sabe dos fatos", afirmou.

Supremacistas brancos em confronto com grupo antifascista em Charlottesville — Foto: Reuters

Ao ser questionado se classificaria como terrorismo o ato de um jovem que atropelou uma multidão que se manifestava contra os supremacistas, matando a advogada Heather Heyer e ferindo mais 19 pessoas, o presidente evitou uma resposta direta e disse que isso envolvia uma questão de "semântica legal".

"Acho que o motorista é uma desgraça para si mesmo, sua família e este país. E isso é – você pode chamar de terrorismo, pode chamar de assassinato. Você pode chamar do que quiser. Eu apenas chamaria de aquele que deve receber um bom veredito o mais rápido. É assim que eu chamaria. E há uma questão. É homicídio? É terrorismo? Então você entra na semântica legal. O motorista é um assassino, e o que ele fez foi uma coisa horrível, horrível, indefensável", disse.

Violência da esquerda e direita

O presidente também questionou a culpa atribuída aos movimentos que organizaram a manifestação do fim de semana, chamada "Unir a direita", e perguntou por que ninguém condenava a violência da "alt-left" – um termo não existente que ele usou como contraponto à "alt-right", como é chamada a nova onda de movimentos de direita nos EUA.

"E sobre o fato de que a 'alt-left' veio para cima deles, da, como vocês dizem, 'alt-right'? Eles têm algum problema? Eu acho que eles têm", argumentou, citando os grupos que se envolveram em conflitos com os nazistas e supremacistas brancos.

Trump disse ainda que observou tudo "muito de perto, vi tudo muito mais de perto do que vocês viram", embora não estivesse no local.

Foi então que repórteres questionaram se o presidente estaria comparando os grupos de resistência aos neonazistas, e ele respondeu que nem todos os que participavam da marcha eram realmente nazistas.

"Muitas dessas pessoas estavam lá para protestar contra a retirada da estátua de Robert E. Lee. Então esta semana é Robert E. Lee, soube que Stonewall Jackson's está caindo. Eu me pergunto, será George Washington na semana que vem? E Thomas Jefferson na semana seguinte. Sabe, você realmente precisa se perguntar, onde isso termina?", argumentou.

Trump insistiu na comparação, mesmo quando os jornalistas destacaram a diferença entre Robert E. Lee e George Washington. "George Washington era dono de escravos... Vamos retirar estátuas de George Washington? E de Thomas Jefferson?", disse Trump sobre os ex-presidentes. "Vocês estão mudando a história, estão mudando a cultura".

Novamente questionado se estaria comparando os grupos de resistência aos neonazistas, ele repetiu que "ambos os lados" se comportaram de forma violenta e "foram para cima um do outro". Mesmo quando os repórteres alegaram que os neonazistas teriam iniciado o conflito ao ir até Charlottesville e promover a manifestação, Trump relativizou.

"Com licença, eles não se apresentaram como neonazistas, e você tinha pessoas muito ruins naquele grupo. Mas você também tinha pessoas ótimas dos dois lados. Você tinha pessoas naquele grupo – com licença, com licença. Vi as mesmas fotos que vocês viram."

Trump também se prendeu ao fato de que os organizadores da manifestação "tinham uma permissão" para estar lá, enquanto aqueles que reagiram não tinham. "Você tinha muitas pessoas naquele grupo que estavam lá para protestar inocentemente e de forma legal, porque sabe, não sei se vocês sabem, mas eles tinham uma permissão. O outro grupo não tinha. Então apenas digo isso: há dois lados em uma história".

No final da coletiva, ao ser perguntado se pretendia visitar Charlottesville, Trump não respondeu, mas lembrou que tem uma casa lá, uma vinícola que é "uma das maiores dos Estados Unidos".

O presidente americano Donald Trump em coletiva de imprensa nesta terça-feira (15) em Nova York — Foto: REUTERS/Kevin Lamarque

Declarações anteriores

No sábado, o republicano afirmou em sua conta oficial no Twitter: "Todos devemos estar unidos e condenar tudo o que representa o ódio. Não há lugar para esse tipo de violência na América. Vamos continuar unidos", declarou.

Na avaliação dos críticos, a mensagem deixou implícita uma condenação tanto dos manifestantes de extrema direita quanto dos antiextremistas pelos violentos confrontos em Charlottesville, na Virgínia. Até mesmo membros do Partido Republicano estavam entre os críticos.

Nesta segunda, Trump classificou como “maus” e “repugnantes”, os neonazistas, os membros da Ku Klux Klan e os militantes da supremacia branca, que atacaram a manifestação. Sua declaração foi feita após o presidente ser criticado, tanto por democratas quanto pelos próprios republicanos, por não ter nomeado os grupos extremistas em sua declaração logo após os confrontos em Charlottesville.

Moradores tentam entender violência em Charlottesville, nos EUA

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Retirada de estátuas

A retirada da estátua do general Robert E. Lee na cidade provocou a reação dos grupos de extrema-direita, que decidiram protestar no sábado.

O general Lee comandou as forças da Virgínia na Guerra Civil Americana (1861-1865), e chegou a general-em-chefe confederado. A Virgínia integrava os Estados Confederados -- a união de seis estados separatistas do Sul dos Estados Unidos, durante esse conflito.

Esses estados buscaram a independência para impedir a abolição da escravidão. Mesmo após a derrota definitiva no conflito, Lee se tornou um símbolo dos movimentos de extrema-direita norte-americanos, que ainda hoje o lembram como um herói.

Atualmente, várias cidades americanas vêm retirando homenagens a militares confederados - o que tem gerado alívio, de um lado, e fúria, de outro.

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