• Giovana Oréfice
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Entrevistas por vídeo são uma das formas de realizar contratações (Foto: Pexels/Reprodução )

Entrevistas por vídeo são uma das formas de realizar contratações (Foto: Pexels/Reprodução )

A pandemia do novo coronavírus já deixou marcas profundas na economia. O comércio e as pequenas e médias empresas vêm sofrendo as consequências do consumo desacelerado e, como efeito, as demissões estão aumentando. Mas nem todos os setores estão sendo prejudicados pela crise. Alguns viram oportunidades na transformação digital forçada pela pandemia e têm até contratado novos funcionários.

É o caso da Hotmart. A startup de educação à distância viu suas vendas crescerem durante a crise do novo coronavírus. “A demanda pelo tipo de produto oferecido pela Hotmart aumentou muito”, afirma João Pedro Resende, fundador e CEO da startup.

Antes do cenário de isolamento social, a empresa tinha 66 vagas abertas. Com a quarentena, esse número saltou para 95, sendo 30 apenas para o time de atendimento ao cliente. De acordo com Resende, as vagas são permanentes. Para recrutar novos talentos, o empreendedor adaptou todos os processos para que sejam feitos online, por meio de videoconferências. Segundo ele, a Hotmart já contava com ferramentas digitais de comunicação interna e a equipe expandiu o uso delas para realizar as contratações.

Todas as entrevistas são feitas com gestores e líderes dos times. Para treinar as habilidades do candidato, há sempre um desafio técnico, ou seja, alguma atividade para que a pessoa mostre sua expertise na área. Aqueles que estão concorrendo a uma vaga de desenvolvedor, por exemplo, fazem um desafio em um quadro online enquanto a tela é compartilhada com os recrutadores.

João Pedro Resende, CEO e Cofundador da Hotmart (Foto: Divulgação)

João Pedro Resende, CEO e Cofundador da Hotmart (Foto: Divulgação)

Caso o candidato seja contratado, ele recebe em casa um kit de boas-vindas composto por materiais e brindes exclusivos Hotmart. Além disso, o processo onboarding -- uma espécie de dinâmica de acolhimento e envolvimento para os novos funcionários durante as primeiras semanas de trabalho -- também virou virtual. “Isso é uma novidade para a maioria das pessoas. Mas, se isso se tornar o novo normal, todos irão se adaptar”, diz o CEO.

Resende afirma que cada vez mais os processos serão digitais. “Essa pandemia veio para acelerar a digitalização de muita coisa, do trabalho, da medicina, da educação. Sem dúvida, vai deixar uma marca na sociedade”, afirma. 

Meios mais simples

Apesar das ferramentas sofisticadas para comunicação à distância, há empresas que preferem  métodos mais simples na hora de contratar. A Jan-Pro, rede de franquias de limpeza com quase 400 franqueados no Brasil e no mundo, usa algo bem conhecido para recrutar novos colaboradores: as mensagens de texto, ou melhor, o SMS.

Renato Ticoulat, máster franqueado da Jan-Pro no país, afirma que a empresa já observou um crescimento de 7% durante a crise e realizou 100 contratações nos últimos meses. O atendimento a redes hospitalares, por exemplo, teve aumento de 20% a 30% nas franquias.

Uma das principais procuras dos clientes foi pela desinfecção eletrostática, uma descarga elétrica no desinfetante que faz com que o produto grude em toda a área a ser limpa. Segundo Ticoulat, esse procedimento é o carro-chefe da marca no mundo todo, menos no Brasil. Hoje, a Jan-Pro tem pedidos de limpeza para cerca de 1 milhão de m². A alta demanda ainda deve gerar aproximadamente mais 150 contratações nos próximos meses, começando em maio.

Renato Ticoulat, masterfranqueado da Jan-Pro no Brasil (Foto: Divulgação)

Renato Ticoulat, máster franqueado da Jan-Pro no Brasil (Foto: Divulgação)

O processo de digitalização da empresa começou em novembro do ano passado e ganhou força durante a pandemia. Para contratar pessoas para realizar as faxinas, o gestor envia um questionário via SMS que aborda situações cotidianas e tenta saber qual seria a reação do funcionário em cada caso. “O comportamento é o fator mais importante", afirma Ticoulat. As perguntas envolvem, por exemplo, como a pessoa trataria o cliente em diferentes situações. 

A maior parte dos candidatos vem de indicações e grupos de Facebook de diaristas, o que, na avaliação da empresa, significa maior qualificação. Caso a pessoa seja aprovada na fase do questionário, envia fotos dos documentos necessários para finalizar a contratação e assim já pode a comparecer ao local de trabalho. Em seu primeiro dia, recebe um job card indicando o que deve fazer. As instruções contêm o passo a passo da limpeza de cada local e os horários em que deve ser realizada. Os novos funcionários, ao lado de outros mais experientes, aprendem na prática o funcionamento da empresa.

“Essa crise está precipitando os bons planos que já existiam, mas que não eram colocados em prática por resistência interna”, afirma Ticoulat. “Quando você parte para o online, ganha espaço físico, rapidez e agilidade. Não corre o risco de alguém chegar atrasado em uma reunião ou de mandar um documento errado.” Segundo ele, a adaptação ao digital é irreversível e será um diferencial na retomada.

Entrevistas por vídeo também demandam preparação

As contratações por meio digital já aconteciam, mas, no cenário da Covid-19, estão sendo uma solução indispensável. De acordo com Ricardo Rocha, diretor executivo e responsável pela operação no Brasil da Spring Professional, consultoria multinacional de recrutamento de executivos, é importante salientar que, mesmo que a interação seja por videoconferência, não deixa de ser uma entrevista.

Por isso, um dos aspectos a ser analisado é o nível de preparação do candidato. A conexão de internet, a disponibilidade no horário acordado e a postura estão entre os detalhes que mostram se o entrevistado se preocupou em causar uma boa impressão. Mas, como muitos estão em home office, é preciso ser mais tolerante com alguns aspectos, como crianças aparecendo no vídeo. 

“A entrevista por vídeo tende a ser mais fria e ter uma objetividade maior”, afirma Rocha. Nesses casos, o recrutador tem um papel mais investigativo e deve se preparar para abordar questões de forma clara.  

Para ele, um dos principais pontos a serem vistos com cautela é o contato visual. É importante reparar se o candidato está, de fato, focado na entrevista. Se houver desvios no olhar, isso pode indicar que ele está consultando algum conteúdo para obter vantagem ao longo da conversa, o que não aconteceria em entrevistas realizadas pessoalmente.