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Opinião

Subnotificação faz com que dados oficiais não retratem a realidade

Estudo estima que número de infectados pela Covid-19 pode ser 15 vezes maior do que o registrado

O Brasil contabilizou ontem 52.995 casos confirmados de Covid-19 e 3.670 mortes, segundo o Ministério de Saúde. Números expressivos, mas nem de longe espelham a realidade sobre a doença, devido ao grande número de subnotificações.

Em meados de abril, quando os números oficiais apontavam 20.727 casos, o portal Covid-19 Brasil, que reúne a USP e a UnB, entre outros centros de pesquisa, estimou que o total de infectados era de 313.288, 15 vezes maior do que o anunciado. O que situaria o Brasil como um dos países com maior número de casos, atrás apenas dos EUA.

Como mostrou reportagem do GLOBO, 2.771 pessoas morreram este ano (até 20 de abril) por doenças respiratórias não identificadas. O que representa mais do que o número oficial de mortes por Covid até aquela data (2.575). Para especialistas, boa parte desses óbitos foi causada pelo novo coronavírus.

Um dos motivos que impedem um panorama real é a falta de testes. Porém, o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirma ser inviável a testagem em massa. Segundo ele, nem a Coreia do Sul, citada como exemplo no controle da epidemia, testou toda a população.

Embora estejam em curso ações do Ministério para rastrear o avanço da doença por meio de testes e entrevistas em amostras da população, o fato é que o número com que se trabalha hoje não reflete a realidade. E, portanto, dificulta as comparações com outros países.

Sabe-se que para controlar a epidemia é importante entender como ela avança. Nos EUA, estudo mostrou que o vírus já estava circulando muito antes de ser detectado, no início de março.

A verdade é que o país vive um momento crítico da evolução da doença. O número de mortes acelera numa velocidade que já superaria a de Itália e Espanha, onde cenas de horror passaram a fazer parte do cotidiano. Combater o inimigo às cegas é o pior cenário.