Adolescente morto no quintal de casa em Japeri foi atingido por dois tiros

O laudo cadavérico aponta que Fernando Ambrósio de Moraes, de 15 anos, morto no quintal de casa, em Japeri, na manhã desta segunda-feira, foi atingido por dois tiros na barriga. Segundo a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, que investiga o caso, os disparos atravessaram o corpo do adolescente — um saiu pelas costas, e o outro na altura da nádega. No momento em que Fernando foi alvejado, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) realizavam uma operação na região do bairro São Jorge e, de acordo com a corporação, entraram em confronto com traficantes.
A dona de casa Ana Paula Ambrosio Vasconcelos, de 36 anos, mãe do jovem, conta que deixou o menino em casa, por volta das 10h, para ir até a padaria. Ao chegar no estabelecimento, cerca de dez minutos após sair da residência, ouviu disparos e voltou correndo. Ela encontrou o filho ensanguentado no chão do quintal, aparentemente já sem vida, em meio a vários PMs.
— Primeiro, gritaram pra ninguém tocar no corpo, como se meu filho fosse bandido. Quando expliquei que tinham matado um inocente, uma criança no quintal de casa, eles enrolaram o Fernando em um pano e mandaram a gente mesmo levar para o hospital mais próximo. Quem colocou no carro fomos eu e meu irmão, tio dele — contou Ana Paula.

Apesar do relato da dona de casa, de que os PMs tinham conhecimento sobre o adolescente baleado, os agentes não apresentaram a ocorrência à Polícia Civil. Na 48ª DP (Seropédica), os policiais do Bope registraram apenas um confronto com dois suspeitos baleados, com quem foram apreendidos duas pistolas, um revólver e uma granada. O inquérito sobre a morte de Fernando só foi aberto, e posteriormente remetido à DHBF, depois que os próprios parentes informaram o ocorrido na 63ª DP (Japeri).
De acordo com o delegado Evaristo Pontes, responsável pelo caso na especializada, os policiais do Bope envolvidos na operação serão convocados a prestar esclarecimentos. A intenção é saber se os agentes estavam mesmo no local onde o corpo de Fernando foi encontrado e, caso sim, por que não o teriam socorrido, tampouco apresentado a ocorrência.
— Por enquanto, o que podemos dizer é que pela posição dos tiros, muito próximos um do outro na altura do abdômen, a hipótese de bala perdida parece improvável — disse o delegado.

Morte na Rua da Paz
Fernando morava desde que nasceu na Rua da Paz, na mesma casa onde viria a ser baleado e morto, com a mãe, o pai e dois irmãos, um de 7 e outro de 16 anos. O mais velho, que estava ao lado de Ana Paula quando o adolescente foi encontrado, era o melhor amigo do menino e ainda se recupera do choque. Juntos, os dois costumavam jogar bola com amigos em frente ao quintal da família. Flamenguista, Fernando sonhava ser jogador profissional de futebol.
— É uma perda muito grande, não tem volta. Meu filho não era bandido. Era sempre de casa para a escola, e da escola pra casa. Só adorava jogar bola, mas mesmo isso era sempre aqui por perto, porque não deixávamos ir para longe. Aí acontece isso: morre no nosso quintal — lamentou o pai do menino, o operador de rotativa Evandro Mariano de Moraes, de 41 anos.
O adolescente foi enterrado na tarde desta terça-feira, no Cemitério de Japeri. Após o sepultamento, um grupo de moradores iniciou uma manifestação, ateando fogo a lixo e pedaços de madeiras numa passagem de nível sobre a linha férrea em Engenheiro Pedreira. Por conta do protesto, a circulação de trens no trecho da extensão, que liga Japeri a Paracambi, chegou a ser interrompida.
— Se você olhar a quantidade de pessoas que foram ao enterro, duas escolas ficaram fechadas, todos muito comovidos e emocionados, vai perceber o quanto meu filho era querido. Eu não sei o que vai ser da minha vida daqui pra frente — desabafou Ana Paula.
Adolescente morto no quintal de casa em Japeri foi atingido por dois tiros
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