Bombeiros encontram um corpo no Morro dos Prazeres (Foto: Aluízio Freire/G1)
A presidente da Associação de Moradores do Morro dos Prazeres, Eliza Rosa Brandão, reagiu de maneira enfática ao decreto assinado pelo prefeito Eduardo Paes, na quinta-feira (8), que legaliza a retirada à força de moradores de áreas de risco.
“Nós não somos animais. Somos seres humanos e precisamos do carinho da prefeitura. Essa comunidade tem uma história e as famílias não querem sair daqui. A gente zela pelos nossos bens”, disse ela, que afirmou ainda que a associação não foi sequer procurada pelo prefeito.
Segundo a assessoria de Paes, em casos extremos, a prefeitura poderá recorrer à polícia para remover as pessoas que se recusarem a sair de áreas afetadas por deslizamentos.
A favela mais afetada foi a do Morro dos Prazeres, onde 22 pessoas morreram soterradas após um imenso deslizamento da encosta. Na Favela da Rocinha, o caso de maior gravidade foi na localidade do Laboriaux, onde uma idosa e uma criança morreram sob os escombros de uma casa que desabou. Lá, o asfalto da rua principal está partido ao meio por causa de uma fenda.
Paes afirmou que vai remover Morro dos Prazeres e Laboriaux
Em entrevista coletiva, na quarta-feira (7),
Eduardo Paes anunciou a remoção completa da favela do Morro dos
Prazeres e das casas na localidade do Laboriaux. “Não quero
passar o próximo verão sem dormir, preocupado se vão ter mais
mortes por causa das chuvas”, afirmou Paes. O prefeito estima
que entre 1,5 mil e 2 mil famílias – cerca 7 mil pessoas - serão
removidas das duas comunidades.
Eliza Brandão informou que a associação do Morro
dos Prazeres vai tomar medidas contra o decreto da
prefeitura. “O deslizamento ocorreu por falta de atenção do
poder público. Nós já tínhamos enviados vários ofícios avisando
da situação das encostas”, afirmou Eliza.
Ex-presidente da Associação de Moradores da Rocinha
apoia remoção
O presidente do Movimento Popular de Favelas
(MPF), William Oliveira, que é ex-presidente da Associação de
Moradores da Rocinha, mostrou-se a favor das remoções, desde que
as pessoas não sejam encaminhada para abrigos, mas sim para
novas residências.
“Eu fui ao Laboriaux e implorei para aquela senhora sair de casa.
Ela não saiu e nós perdemos essa vida”, contou. “Se eu pudesse
voltar no tempo, apoiaria a remoção dela à força. Hoje, eu me
sinto culpado por aquela vida perdida”, disse o presidente do MPF.
“Eu sou nascido e criado na Rocinha e moro há 38
anos nesta favela. Muita gente vai me criticar, mas posso dizer
que, se os governantes tivesse tido mão de ferro para fazer
remoções, essas tragédias não ocorreriam”, afirmou.
Ninguém foi encontrado na Associação de Moradores
da Rocinha para comentar o assunto.
O decreto
De acordo com Paes, não há como alterar a decisão de
desocupar as encostas. “Ainda há risco de novas chuvas na
cidade. Não podemos deixar os moradores em locais de risco”,
disse ele, em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (9).
No decreto, o prefeito afirma que "fica autorizada, nos termos dos incisos XI e XXV, do artigo 5º, da Constituição Federal, às autoridades administrativas e aos agentes de defesa civil, diretamente responsáveis pelas ações de resposta aos desastres, em caso de risco iminente, a adoção das seguintes medidas:
I — penetrar nas casas, mesmo sem o consentimento do morador,
para prestar socorro ou para determinar a pronta evacuação das
mesmas; e
II — usar de propriedade particular para as ações
de emergência que visem evitar ou minimizar danos ou prejuízos
ou comprometer a segurança de pessoas.