Por Vitor Santana e Sílvio Túlio, G1 GO


Acidente com brinquedo que deixou feridos no Mutirama foi causado por desgaste de eixo

Acidente com brinquedo que deixou feridos no Mutirama foi causado por desgaste de eixo

O resultado da perícia feita no eixo do brinquedo Twister, que se rompeu deixando 13 pessoas feridas no Parque Mutirama, em Goiânia, foi apresentado nesta quarta-feira (27). O laudo apontou que o equipamento não poderia estar em funcionamento e que o problema se deu devido a um "processo de fadiga". Além disso, conforme o estudo, em 2011, foi constatada uma fissura de 10,8 centímetros na peça, mas nenhuma ação foi tomada no sentido de repará-la.

Um dos responsáveis pelo trabalho, o perito criminal Alysson Santos de Casto, disse que o monitoramento deveria ter sido feito logo quando o defeito foi encontrado. Ele afirma que, como o procedimento não ocorreu, o defeito acabou provocando o acidente.

"Deveria ter feito sido feito o acompanhamento detalhado e periódico ou então até a troca do eixo. Como não foi apresentado nenhum outro relatório, percebemos que as inspeções não estavam sendo feitas. Com isso, essa fissura aumentou ao longo de vários anos até chegar a esse processo de fadiga e quebra do eixo que causou o acidente", explica.

Em nota, a Prefeitura de Goiânia informou vai se pronunciar quando for comunicada oficialmente pela polícia sobre as conclusões do laudo. Além disso, disse que vai tomar todas as providências cabíveis quando for acionada.

Bombeiros resgatam feridos em acidente com brinquedo do Parque Mutirama — Foto: Divulgação/ Corpo de Bombeiros

O acidente aconteceu no último dia 26 de julho. Segundo os bombeiros, havia 16 pessoas no brinquedo no momento do acidente. Quando as equipes de socorro chegaram, muitos frequentadores estavam em pânico.

Dos feridos, apenas uma mulher segue internada no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Iraci Francisca da Conceição já passou por quatro cirurgias. Seu quadro é considerado estável, mas, de acordo com a unidade de saúde, o "ferimento ainda é extenso e exige uso de antibióticos e futuros procedimentos".

Eixo do brinquedo, que se rompeu, estava com fissura desde 2011 — Foto: Vitor Santana/G1

Improvisação

Durante o trabalho de perícia, foi feito uma vistoria de todos os componentes do brinquedo, assim como testes de movimentação da parte do eixo e a desmontagem do aparelho. Neste processo, foram encontradas várias outras irregularidades.

"O feixe dos assentos eram improvisador com barbantes. Isso era um risco grande porque se alguém se apoiasse com mais força sobre ele, poderia cair ou ser arremessado", completou.

Para os peritos, o acidente poderia ter sido ainda maior. "O brinquedo, quando se rompeu, caiu para o lado leste. Se ele pende para oeste, teria atingido as pessoas que estavam na fila, aumentando e muito o numero de feridos", disse Alysson.

Para o delegado Isaías Pinheiro, responsável pelo inquérito, o laudo reforça que o parque funcionava de maneira "amadora". "Houve um descaso com a vida. Se o eixo tivesse sido trocado em 2011, não estaríamos aqui hoje. O laudo confirma todas as evidências e materializa o crime", afirmou.

Mãe que filmou acidente no Parque Mutirama diz que viveu momento de pânico

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Cabeleireira filmou acidente

Uma das passageiras do brinquedo, a cabeleireira Alessandra Souza, filmou o passeio e registrou o exato momento em que o brinquedo caiu (assista acima). Emocionada, ela relembrou o ocorrido e relatou o pânico que sentiu na ocasião, com medo de perder a filha, que estava sentada em outra cadeira do Twister.

Horas após o acidente o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), determinou a interdição do local até que todos os brinquedos passassem por inspeção. O Ministério do Trabalho também ordenou a interdição de todos os brinquedos por tempo indeterminado para "garantir a segurança dos trabalhadores e usuários".

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) também propôs uma ação civil pública contra o município e o presidente da Agetul, pedindo a interdição do parque até que todos os brinquedos sejam devidamente periciados e realizadas as devidas manutenções.

Periícia no eixo do Twister foi finalizada e o laudo, concluído — Foto: Thais Luquese/ TV Anhanguera

Sem engenheiro oficial

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) informou por meio de nota que “seus agentes fiscais realizam, anualmente, vistorias em parques de diversão em todo o Estado de Goiás”. O órgão destaca que, na última vistoria do Mutirama, realizada no dia 26 de janeiro deste ano, “foi constatada a inexistência de profissional da engenharia responsável pela manutenção dos equipamentos eletromecânicos”.

Em resposta à alegação do Crea, o presidente da Agetul disse que há um engenheiro mecânico responsável pelo parque. "Há 15 anos existe um engenheiro mecânico responsável pelo parque e, no fim do ano passado, terminou o contrato dele. Porém, ele continua fazendo a manutenção por meio de outro contrato com a Prefeitura, estamos em um processo para regularizar a situação dele junto ao Crea", alegou.

Mesmo assim, o Crea informou que a Câmara Especializada de Engenharia Mecânica e Metalúrgica (Ceemm) se reuniu e decidiu “abrir processo administrativo solicitando os documentos” da Agetul. Conforme o texto, o objetivo é “ verificar o vÍnculo do profissional que atua de forma voluntária no Mutirama e os registros de manutenção dos brinquedos”.

O órgão recomendou ainda que a reabertura do parque “somente seja realizada após a inclusão dos engenheiros Mecânico e Eletricista no seu quadro técnico; e após a elaboração de laudos de inspeção em cada brinquedo”.

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