Termelétrica de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), é a principal usina do parque gerador do estado — Foto: Jackson Félix/G1 RR/Arquivo
O gasto com o abastecimento de energia a Roraima, desde que a Venezuela cortou o fornecimento há um ano, foi de R$ 1,6 bilhão, conforme estimativa do Ministério de Minas e Energia. Único no país fora do Sistema Interligado Nacional (SIN), o estado dependeu, durante anos, do país vizinho.
A Venezuela parou de enviar energia a Roraima em 7 março de 2019, após uma série de apagões históricos no país. Desde então, o fornecimento aos consumidores no estado é feito por quatro termelétricas da Roraima Energia, empresa responsável pelo serviço.
O gasto médio para manter as termelétricas locais é de cerca de R$ 107 milhões por mês. Com a Venezuela, esse montante era de R$ 62 milhões, ou seja, a energia brasileira é 72% mais cara que a importada.
Antes, o abastecimento era via Linhão de Guri, que ligava Boa Vista ao complexo hidrelétrico de Guri, em Puerto Ordaz. O contrato para esse serviço foi firmado em 2001, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso e o então presidente venezuelano Hugo Chavez.
Linhão de Guri — Foto: Emily Costa/G1 RR/Arquivo
Sem a energia importada, os 177 mil consumidores de Roraima dependem das termelétricas locais, que operam com óleo diesel. O consumo diário do combustível varia de 700 a 1.100 milhão de litros.
"Essa variação se dá, principalmente, pelo efeito da temperatura que afeta o consumo de energia dos consumidores. Período quente do ano, o consumo é maior", explica o diretor técnico e comercial da Roraima Energia, Rodrigo Moreira.
A estimativa do Ministério é que o gasto com o diesel para manter essas termelétricas, incluindo o frete, tenha atingido R$ 1,1 bilhão nesse um ano com o Linhão de Guri desligado.
O pagamento desse custo é dividido entre os consumidores de Roraima, que bancam 22%, e os outros 78% é custeado por consumidores do restante do país. A divisão está prevista na Lei nº 12.111/2009, que trata sobre os serviços de energia elétrica nos sistemas isolados.
Assinado entre a Eletronorte e a estatal venezuelana Corpoelec, o contrato tem vigência até junho de 2021. Entretanto, o Ministério informou que não há previsão de retorno do fornecimento de energia pela interligação. O país também nunca explicou as razões de ter desligado o linhão.
Blecautes
Enquanto estava interligada à Venezuela, a energia de Roraima enfrentava constantes apagões e desligamentos diários. A instabilidade se tornou uma crescente desde 2015.
Em 2018, por exemplo, a insegurança elétrica alcançou o número recorde de 85 blecautes - 72 desses foram decorrentes de falhas na linha de transmissão da Venezuela.
Para o Ministério, a redução no número de blecautes desde que o estado passou a operar por conta própria mostra que "o parque termelétrico instalado tem sido adequado para o atendimento aos consumidores."
"A partir do segundo semestre de 2019, houve expressiva melhoria do fornecimento de energia a Boa Vista/RR, e o sistema operou por 171 dias sem desligamento total, de agosto de 2019 a fevereiro de 2020", pontuou o Ministério.
O parque térmico de Roraima é formado pelas usinas termelétricas de Monte Cristo, na zona Rural de Boa Vista, Floresta e Distrito, ambas na zona Oeste, e Novo Paraíso, em Caracaraí, região Sul do estado. Todas funcionam continuamente, conforme a Roraima Energia.
"As quatro operam diariamente e tem a capacidade total e 245 megawatts para atender todo o estado, sendo a capital e os municípios conectados a Boa Vista", disse o diretor Moreira.
A interligação de Roraima ao SIN já é discutida há anos e deve ser feita com a construção do Linhão de Tucuruí - uma linha de transmissão de pouco mais de 700 km entre Manaus (AM) e Boa Vista. A discussão, no entanto, passa pela consulta aos índios da reserva Waimiri Atroari, na divisa entre os dois estados.