Edição do dia 15/11/2017

15/11/2017 14h27 - Atualizado em 15/11/2017 14h43

Doadores e voluntários fazem corrente do bem para instituição de caridade

Doações mantém espaço que teve de cortar 30% dos funcionários por conta da crise. Às vezes, o tempo e o afeto de voluntários é o que faz a diferença.

Alan SeverianoSão Paulo, SP

O material de ferro e madeira trabalhada e com quase 90 anos de idade tem valor sentimental. É a mesma máquina que durante décadas a mãe da comerciante Edna Mattos costurou as roupas da família toda. Só que a Edna resolveu reformar a casa e quer se desfazer do móvel, mas não vender. “O valor sentimental é muito grande. Eu vou fazer uma doação.”

São 7 quilômetros de viagem até o galpão dessa instituição beneficente de Guarulhos, na Grande São Paulo. A restauradora Cristina Antonieta recebe o móvel riscado e com ferrugem. Ele recebe tinta, acabamento novo. E vai para um bazar onde os objetos restaurados são colocados à venda.

Dona de um estúdio de tatuagem, a, empresária Andreia Braga se interessa. “Olhei, bati o olho e já gostei”, diz ela. Os R$ 390 que ela pagou se transformam em mãos que apoiam, braços que orientam na instituição que atende 2 mil pessoas com deficiência intelectual.

As doações bancam a cama que se move. O único momento em que Jefferson, de 11 anos, fica de pé.

Crise afeta setor
Por causa da crise, foi preciso cortar 30% dos funcionários. “As pessoas não têm ideia de quanto cada centavo é valioso para garantir a vida aqui. A lucratividade nossa é o bem”, diz Djalma Gomes dos Santos, diretor administrativo das Casas André Luiz.

Cyro sofreu um traumatismo no parto e hoje é tecelão. Irineu, o pintor, dribla a dificuldade dos movimentos fazendo um balé com os pés. A dança dá leveza a nomes pesados como síndrome de down e paralisia cerebral. “A sensação é inexplicável. É a sensação de voar”, diz Cislane Gomes da Silva, de 28 anos.

Tem também os que doam tempo... Márcia Reis, voluntária, virou madrinha de Vladimir. Como a maioria ali, ele foi abandonado pela família. “O Vlad foi deixado aqui na porta com 3 meses mais ou menos ele foi deixado.”

Com 2 metros de altura, o esporte preferido dele é basquete, que ele gosta de jogar com a Márcia. E assim, o grandão e a baixinha fazem do treino uma terapia, com muitas tentativas. E a recompensa que se recebe é o que eles também mais sentem falta. “Carinho, atenção. O estar ali pra eles é extremamente importante”, diz Márcia.

Lembra do móvel antigo da Edna? Ela também ajuda a fazer cesta! "É um bem estar muito grande saber que a gente pode ajudar o próximo com tão pouco que às vezes a gente tem, né”, diz Edna.