Por Patrícia Figueiredo e Renata Bitar*, G1 SP — São Paulo


23 de março - Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, com pouco movimento no início da quarentena em SP — Foto: Marcelo Brandt/G1

O governo do estado de São Paulo vai encaminhar nesta segunda-feira (18) à Assembleia Legislativa do Estado um projeto de lei para antecipar o feriado estadual do dia 9 de julho (Dia da Revolução Constitucionalista) para a próxima segunda (25). A proposta é uma tentativa de aumentar o isolamento social, que alcança níveis maiores em finais de semana e feriados, segundo o governador João Doria (PSDB).

Na capital, o objetivo é criar um mega feriado emendado desta quarta-feira (20) até a próxima segunda, antecipando os feriados de Corpus Christi (11 de junho) e da Consciência Negra (20 de novembro).

De acordo com o prefeito Bruno Covas, esses dois feriados municipais podem ser antecipados para esta quarta e quinta (21) e, na sexta-feira (22), seria declarado ponto facultativo na cidade. As medidas dependem de aprovação dos legislativos municipal e estadual.

A criação de um feriado prolongado é uma tentativa de melhorar a taxa de isolamento social do estado enquanto um possível lockdown ainda é avaliado pelo governo. O atual coordenador do centro de contingência contra Covid-19 em São Paulo, Dimas Covas, destacou que o lockdown ocorre junto com “a falência do sistema público de saúde.”

Governo quer antecipar feriado de 9 de julho

Governo quer antecipar feriado de 9 de julho

“Caso a Câmara consiga aprovar esse projeto e isso seja feito até amanhã, nós anteciparemos os dois feriados municipais que ainda temos para quarta e quinta-feira dessa semana, decretando ponto facultativo na sexta-feira", disse o prefeito Bruno Covas.

"Portanto teríamos aí um período de quarta, quinta, sexta, sábado e domingo onde a gente poderia atingir os índices que nós atingimos no dia de ontem, domingo, quando nós tivemos 56% de isolamento social aqui na cidade", disse Bruno Covas, prefeito de São Paulo

Em nota, a Câmara Municipal de São Paulo afirma que realiza nesta segunda, às 15h, uma sessão plenária virtual para votação de projeto de lei enviado pelo Executivo para antecipação de feriados municipais.

Segundo o governo estadual, será feita uma recomendação para que prefeituras da Grande São Paulo antecipem feriados municipais para os dias 26 e 27 de maio, de modo a ampliar ainda mais o feriado prolongado.

“Nós vamos recomendar que prefeitos de outros municípios da região metropolitana, e do interior do estado de São Paulo, possam igualmente avaliar com suas câmeras municipais a antecipação de feriados municipais para os dias que sucedem a esses feriados, ou seja, dias 26 e 27 de maio, quarta e quinta-feira da próxima semana”, disse João Doria em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.

“Ficou claro que ao longo dos finais de semana e dos feriados, nos últimos 56 dias, nós temos índices mais elevados de isolamento e isto contribui para o controle da pandemia. Portanto, com essa decisão, nós teremos um período mais prolongado de feriados, e com isso, desejamos que possamos ter índices semelhantes aos demais feriados e finais de semana”, completou o governador.

A antecipação de feriados já havia sido mencionada pelo prefeito Bruno Covas no final de semana enquanto um possível fechamento da cidade é estudado pelo governo.

"A cidade de São Paulo é sócia-minoritária, mas não controla o Metrô nem os trens. São Paulo precisa desacelerar ainda mais por um dias para diminuir novamente o ritmo de contágio e salvar vidas. Enquanto devemos nos preparar para essa tarefa gigantesca e inédita, precisamos ser criativos e usar todos os instrumentos que estão ao nosso alcance", disse Covas, mais uma vez mencionando a possibilidade de lockdown na capital.

Lockdown

"Lockdown" é uma expressão em inglês que, na tradução literal, significa confinamento ou fechamento total. Ela vem sendo usada frequentemente desde o agravamento da pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Embora não tenha uma definição única, o "lockdown" é, na prática, a medida mais radical imposta por governos para que haja distanciamento social – uma espécie de bloqueio total em que as pessoas devem, de modo geral, ficar em casa.

O atual coordenador do centro de contingência contra Covid-19 em São Paulo, Dimas Covas, disse nesta segunda-feira que o lockdown ocorre junto com “a falência do sistema público de saúde.”

“A questão de incorporação de leitos, a questão de diminuição da curva de velocidade da infecção, tudo isso é preventivo ao lockdown. Se em um determinado momento o sistema de saúde for nocauteado, não há dúvida, todos os países adotaram o lockdown como medida extrema para recuperar a capacidade de atendimento. É uma medida extrema, não é uma medida preventiva, é uma medida que você toma quando o seu sistema de saúde for eventualmente nocauteado”, disse Dimas Covas, também diretor do Instituto Butantan.

Apesar de classificar a medida como "extrema" em coletiva ao lado do governador, Dimas Covas falou, entrevista à GloboNews na manhã desta segunda, que com a taxa atual de isolamento, que não é efetiva para controlar o vírus, o "tranca-rua, é uma possibilidade, é uma solução".

“Esse isolamento de 48%, 50%, 52%, 53% não são efetivos para controlar a infecção, para controlar a taxa de contágio e, portanto, terão que ser adotadas medidas mais efetivas, mais drásticas, no sentido de reduzir essa taxa de infecção. Se essa taxa de infecção não for reduzida nos próximos dias, nas próximas semanas, o nosso sistema de saúde entrará em colapso, começando aqui pelo sistema de saúde do município de São Paulo, que está muito próximo de sua capacidade máxima”, disse em entrevista à GloboNews.

"O lockdown, tranca-rua, é uma possibilidade, é uma solução, sem dúvida nenhuma, amarga, mas é uma forma efetiva de controlar a epidemia e é uma forma também mais rápida de sair da epidemia", completou.

Fim do rodízio ampliado

O rodízio tradicional de carros na cidade voltou nesta segunda-feira (18).

Prefeitura de SP retorna com rodízio tradicional de veículos

Prefeitura de SP retorna com rodízio tradicional de veículos

Segundo o prefeito, o rodízio ampliado e mais restritivo, que entrou em vigor na segunda-feira (11), não surtiu efeito no índice de isolamento da cidade, que se manteve abaixo do esperado pela gestão municipal.

"Não tem sentido a gente exigir esse esforço sobrenatural das pessoas se, do ponto de vista prático, a única razão para qual o rodízio (ampliado) foi feito, que é aumentar o isolamento social, não foi cumprida. Continuamos abaixo dos 50%", disse Covas.

Com o novo decreto, o rodízio volta a restringir a circulação de veículos de acordo com o número final da placa e o dia da semana, apenas no centro expandido e nos horários de pico: das 7h às 10h e depois das 17h às 20h, como era realizado anteriormente:

  • Segunda-feira: final de placa 1 e 2
  • Terça-feira: final de placa 3 e 4
  • Quarta-feira: final de placa 5 e 6
  • Quinta-feira: final de placa 7 e 8
  • Sexta-feira: final de placa 9 e 0

Na semana passada, na tentativa de desestimular a circulação de pessoas, a Prefeitura de São Paulo endureceu as regras de circulação de carros na cidade.

Pela determinação, veículos com placas de final par só poderiam rodar em dias da semana pares, e veículos com final ímpar, nos dias ímpares. A medida valia por toda a cidade, durante as 24 horas do dia, inclusive aos sábados e domingos.

Entretanto, os índices seguem semelhantes aos contabilizados anteriormente, quando o governo já se preocupava com o desrespeito da população à quarentena.

Na terça-feira, 6 de maio, a taxa registrada foi de 47%, assim como na terça, 12. Nesta sexta (14), na capital, o número sofreu queda em relação ao dia anterior e chegou a 48%.

"Houve apenas uma pequena melhora no único índice que temos. O único índice disponível para medir o isolamento, baseado em localização de celulares em relação à antenas de sinal. Comparando a sexta-feira dia 8, com a sexta-feira dia 15, subimos apenas dois pontos percentuais, passando de 46% para 48% de isolamento, mantendo-se abaixo de 50%", afirmou o prefeito neste domingo.

O rodízio foi a segunda estratégia da prefeitura para tentar ampliar a taxa de isolamento social. Dias antes, a gestão municipal chegou a fazer bloqueios em grandes vias da cidade. A medida foi bastante criticada, pois afetou profissionais de serviços essenciais, principalmente da área da saúde.

Multas

Ainda de acordo com Covas, as multas aplicadas durante os sete dias em que o rodízio restritivo permaneceu em vigor serão mantidas. "Quem foi multado, foi multado", garantiu.

Covas disse, porém, que os recursos solicitados para liberação durante tal período serão avaliados e os prazos só começarão a contar após o término da pandemia.

* Sob supervisão de Lívia Machado

*Sob supervisão de Lívia Machado

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