Brasil

Pesquisadores pedem que brasileiros comam menos carne em prol do planeta

Pesquisa sugere que consumo individual diário no Brasil caia de 140 calorias para 52 calorias até 2050
Pesquisa pede que brasileiros reduzam porção de carne de 140 calorias diárias para 52 calorias até 2050 Foto: Márcio Alves / Agência O Globo
Pesquisa pede que brasileiros reduzam porção de carne de 140 calorias diárias para 52 calorias até 2050 Foto: Márcio Alves / Agência O Globo

RIO - O mundo deverá ter em torno de 10 bilhões de pessoas em 2050, e a ONG World Resources Institute (Instituto de Recursos Mundiais, em tradução livre) traçou algumas orientações para que seja possível “alimentar a todos sem destruir o planeta”. Para os brasileiros, especificamente, há uma proposta de mudança drástica de hábitos: cortar o consumo de carne vermelha para praticamente um terço do que se come atualmente.

Os brasileiros foram os que mais consumiram carne vermelha no mundo, de acordo com o levantamento: cerca de 140 calorias diárias por pessoa em 2010. A meta é limitar a 52 calorias diárias por pessoa até 2050.

Essa e outras dicas estão reunidas no estudo “Criando um futuro alimentar sustentável -Um menu de soluções para alimentar quase 10 bilhões de pessoas até 2050”, que está sendo lançado hoje na Conferência do Clima da ONU (COP24), na Polônia. Produzido em parceria com o Banco Mundial, a ONU Meio Ambiente e outras agências de pesquisa, o estudo afirma que um dos principais meios de se mitigar o impacto do agronegócio no meio ambiente seria limitar o consumo de carne vermelha. Isso ajudaria a conter a emissão de gases de efeito estufa e a exploração da terra pela pecuária.

Se no Brasil significa uma redução de 63% na porção de carne, para toda a população da África, do Oriente Médio e da Ásia, no entanto, seria possível manter ou até aumentar o consumo atual.

Segundo os especialistas, se continuar no ritmo atual, a demanda por carne vermelha deve apresentar um crescimento de 88% entre 2010 e 2050. Limitar o consumo a 52 calorias diárias por pessoa significaria admitir um aumento de 32%. “Consideramos isso eminentemente praticável, mas as mudanças culturais e comportamentais exigidas serão desafiadoras”, escrevem os autores.

100 mil litros de água para produzir 1kg de carne

Maureen Santos, organizadora do estudo Atlas da Carne, e que não fez parte da pesquisa do WRI, explica que para produzir 1 kg de carne são consumidos, em média, 100 mil litros de água.

— Cada alimento tem impactos concretos na vida das pessoas e no meio ambiente, que não são levados em conta quando se come um pedaço de carne — explica — A grande maioria da carne consumida é produzida de forma industrial, em uma cadeia totalmente insustentável. O debate sobre consumo de carne ainda é incipiente no Brasil, mas muitos já perceberam as conexões entre expansão da pecuária e os impactos socioambientais, como aumento do desmatamento, da demanda de água e das emissões de gases de efeito estufa.

Segundo o relatório do WRI, a cadeia de produção pecuária ocupa dois terços da terra agrícola global e contribui com aproximadamente metade da produção agropecuária. O estudo também indica que produtores rurais evitem “o desvio de culturas comestíveis e de terras para produção de bioenergia”. Plantações de cana de açúcar e de milho, por exemplo, costumam ser desviadas para a produção de biocombustíveis, dependendo do preço de mercado.