Capa Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi/ Design: Andressa Xavier)
Kéfera abre 2 (Foto:  )

Perto do meio dia, ainda um pouco sonolenta, Kéfera chegou ao B_arco - Centro Cultural Contemporâneo, em São Paulo, para fazer as fotos deste ensaio de capa de QUEM. A curitibana de 24 anos tinha acabado de voltar de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde participou de uma das sete pré-estreias do filme Gosto Se Discute, do diretor André Pellenz, segundo longa metragem da qual é protagonista. Apesar do cansaço da rotina agitada e intensa de divulgação do novo trabalho, a influencer -- que ficou famosa com seus vídeos debochados e engraçados na internet -- não demorou para mostrar a faceta bem humorada e espontânea que a levou ao sucesso nacional. "Aí, c***, têm muitas mensagens chegando no meu celular", brincou ela, ao soltar um palavrão.

Para quem não sabe, a vontade de Kéfera ser atriz veio muito antes da de ser youtuber. Ela e a mãe, dona Zeiva, adoravam assistir a novelas juntas. Para ter visibilidade e chance de ser convidada para algum teste, a jovem criou um canal na internet, o 5inco Minutos, em 2010. Atualmente, ela contabiliza 10 milhões de inscritos por lá.

O sucesso dos vídeos rendeu a transferência de cidade. “Moro em São Paulo há cinco anos. Me mudei para cá sozinha, na raça”, afirma ela, que continua a movimentar números impressionantes até no cinema. Antes de atuar na comédia romântica Gosto se Discute ao lado de Cássio Gabus Mendes - com quem estrela cenas calientes - ela estourou com É Fada, longa infantojuvenil que teve a impressionante bilheteria de 1,7 milhão de pessoas. 

Além disso, o sucesso de Kéfera também pode ser visto nas prateleiras. Com três livros lançados – Meus Cinco Minutos, Tá Gravando e Agora? e Querido Dane-se –,  ela já vendeu 700 mil exemplares ao todo. Como se não bastasse, ainda neste ano, ela rodará o longa-metragem De Novo Não, dirigido por Pedro Amorim. "Quero ser reconhecida como atriz", enfatiza ela, quem tem fama de desbocada. Kéfera até já foi descrita como "uma espécie de bisneta da Dercy Gonçalves".

"Tenho esse jeito, mas sou muito romântica", diz a atriz, que já está com o coração preenchido após o fim do relacionamento de 4 meses com o empresário Tacyo Munhoz. Mas ela evita nomes e não se alonga no assunto. Bem falante e dona de respostas longas, Kéfera economiza palavras apenas quando o assunto é mesmo o relacionamento. Confirma que namora com apenas um “sim”. Mas dá evidências que está em boa fase ao aproveitar os intervalos das fotos para checar as mensagens enviadas pelo amado em um aplicativo de conversas.

Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)

PRIMEIROS PASSOS
“Fazia teatro desde os 15 anos e comecei meu canal com 17. Postei meu primeiro vídeo com a intenção e a esperança de alguém ver e me chamar para um teste de novela. Em 2010, o Youtube no Brasil era nada comparado ao que é hoje. Poucos canais bombavam, mas via os gringos e percebia o que funcionava lá fora. Nunca achei que youtuber se tornaria uma profissão. Lembro de mandar os primeiros vídeos do meu canal pelo MSN e pelo Orkut. Muita gente me respondia perguntando se era vírus. Entrei para o Youtube quando ele estava emplacando no Brasil.”

CARREIRA DOS SONHOS
"Sempre tive o sonho de ser atriz. Nos meus primeiros vídeos, fazia personagens. Imitava a minha mãe, fazia uma tia bêbada, interpretava uma menina chamada Juju que sonhava ser modelo. Sempre imaginei ser alguém fora da internet. Não imaginava tudo o que poderia acontecer na própria internet e virar o que eu virei."

APOIO DA FAMÍLIA
“Aos 17, minha mãe falou que achava que era a hora de eu parar de fazer teatro e focar no vestibular. Isso me deixou triste, acabada. Minha vida perdeu o brilho. Estava achando um saco ficar sem fazer teatro. Foi horrível. Em um sábado, meu amigo me chamou para ver uma peça e levei a minha mãe. Lembro que quando acabou a peça, chorei muito. Estava mal e pedi para minha mãe para voltar ao teatro e ela, sensibilizada, autorizou. Minha tia-avó Zila, ao contrário, falava que eu precisava de um profissão para me sustentar e ficava preocupada com o meu futuro. Quando comecei a dar certo no Youtube, ela ficou extasiada. Ela teve câncer de fígado e lembro de ter conseguido o link do filme É Fada com a distribuidora para ela assistir. Minha tia assistiu ao filme três dias antes de falecer. Lembro de falar: 'Você achou que eu não ia dar certo e agora estou com o filme para chegar no cinema' (fica com a voz embargada). Queria muito que ela tivesse visto que o filme fez sucesso. Mas já foi legal ter conseguido mostrá-lo. Era uma fase em que ela estava muito mal na cama (chora). Assisti ao ladinho dela pela tela do celular. Foi especial."

Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)

CINEMA
"Gosto Se Discute é um filme adulto, não tem nada de infantojuvenil. O feedback que tive é que a faixa etária do público que foi assistir é mais velha do que a que foi ver o É Fada. Um novo público vem por aí. Vão conhecer não apenas a Kéfera youtuber, mas a Kéfera atriz, que é como eu quero e sonho ser conhecida um dia."

ALVO DE PRECONCEITO
"Existe muito preconceito comigo. Já ouvi falarem que sou 'apenas uma menina que fez uns videozinhos pro YouTube e agora está fazendo cinema porque está bombando'. Pô! Vivemos um momento grave no cinema nacional, em que bons filmes têm pouca bilheteria. É um reflexo da crise. A crise do país atingiu o cinema, com toda a certeza."

Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)

BOA DE BILHETERIA
"Tem gente que pensa que fui chamada para fazer filme porque tenho mais de 11 milhões de seguidores, assim tento ajudar a bombar a bilheteria. De fato, o É Fada bombou. Fez 1.8 milhão e foi além da expectativa. Já com Gosto Se Discute não sabemos o que vai acontecer. Entrei no projeto sabendo que teria um público menor. Foi um filme de baixo orçamento, rodado em uma única locação. Eles me falaram: 'Se não der público, fica tranquila. A culpa não é sua. Nao é um filme que foi feito para bombar'."

CENAS CALIENTES
Em Gosto se Discute, Kéfera estrela cenas ousadas com o ator Cássio Gabus Mendes. O bom convívio nos bastidores foi decisivo para evitar constrangimentos no set. "O Cássio é um professor e nem sabe disso. Ele é muito maravilhoso, tem um talento absurdo. No meio da correria do set, eu ficava observando o jeito dele. Ele é um monstro. O Cássio é o tipo de ator que conversa, fala bobagens nos bastidores e quando o diretor chama ele entra no personagem. É lindo de ver. Ele foi muito generoso comigo. Eu falava que era uma honra gravar com ele. Muito humilde, Cássio me falava: 'Imagina, você é muito boa. A gente é igual. Não é porque estou há mais tempo na carreira que sou mais que você'".

FAMA
"Toda profissão tem um ônus e um bônus. Tudo na vida tem os dois lados. Como a minha fama não veio de repente, não tive a sensação de 'boom, estourei'. Foi gradativo. No início, tinha um público só de adolescentes. Depois, vieram os adultos. Como atriz, quero conquistar novos públicos com as oportunidades que estão por vir."

Kéfera aspas (Foto:  )

BULLYING E REJEIÇÃO
"Meu jeito é uma consequência de uma libertação que eu me dei. Sofri muito bullying quando era criança. Era gordinha e me chamavam de ‘gorda, baleia, saco de areia’. Também me chamavam de 'cabelo ruim'. Meu cabelo era muito armado, indefinido, não era cacheado, nem liso. Era criança e não sabia arrumar o meu cabelo, deixá-lo ajeitadinho. Ia para a escola do jeito que dava e as crianças eram muito cruéis e zoavam muito. Criança é difícil. Às vezes, a sinceridade dói. Ainda bem que hoje, o bullying é mais discutido. O bullying pode causar traumas no futuro, distúrbios alimentares sérios. Lembro que comentava com a minha mãe e ela ia falar com a professora. A professora dizia: 'Criança é assim mesmo'. Não tem que ser assim, não. A gente precisa trabalhar para aceitar as diversidades, sejam elas quais forem, incluir a todos, independentemente do corpo, cabelo, deficiência... Quando eu era criança, tentava me encaixar no padrão. Na minha escola, quem fazia sucesso eram as meninas de cabelo liso e magrinhas. Ficava desesperada querendo ser como elas. Passei muitos anos da minha vida não me aceitando. Queria ser a princesinha ajeitadinha para ver se os meninos gostavam de mim e parar de ser zoada. Queria ser aceita, mas isso não acontecia."

Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)
Kéfera aspas (Foto:  )

CORPO
"Quando entrei no Ensino Médio, emagreci 15 quilos, passei a arrumar meu cabelo, comecei a usar mais maquiagem. Fazia muita dieta maluca, daquelas que são zero saúde. Acho isso um erro gravíssimo. Os jovens não podem entrar nessa noia. Já fiz dieta do leite, dieta da sopa... Eram umas sopas termogênicas, de 300 calorias, horríveis. Passei por problemas de distúrbios alimentares porque não me aceitava."

FORA DO PADRÃO
"Nunca fui a adorada pelos meninos, nem a idolatrada pelas meninas. Nunca fui a bonita ou a estilosa. Estudei durante nove anos no mesmo colégio e mudei de escola no 2º ano do Ensino Médio. Usava aparelho fixo nos dentes e minhas roupas não eram de marca porque não tinha grana para bancar essas coisas. A galera deste colégio era mais tranquila, mas é fútil ficar ligada nisso. Como se o dinheiro definisse se você seria aceita ou não. Esse meu jeito mais despachado, extrovertido, bagunceira e moleca que a galera conhece pelo Youtube foi uma maneira de eu me assumir como sou. Passei a minha vida inteira tentando me enquadrar em um padrão em que eu não me encaixava. Teve uma hora em que pensei: ‘Quer saber? Dane-se’. Falo dane-se para não falar um palavrão (risos). Decidi ser eu. Pelos vídeos, comecei a demonstrar a minha personalidade, como mostrava para a minha família. Antes disso, eu tentava ser a princesinha jeitosinha. Aí, finalmente, mostrei quem eu sou de verdade e a internet me ajudou a fazer isto."

Kéfera aspas (Foto:  )
Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)

DESBOCADA
“Falo muito palavrão desde muito nova. Minha avó, que fará 89 anos em dezembro, e a minha tia ficavam horrorizadas, achavam que isso não era coisa de menina. É aquela cabeça de vó que foi criada dentro de uma sociedade machista, falavam que palavrão era ‘coisa de homem’. Sempre fui contra esse negócio de definir gênero. Como assim um pode falar palavrão e outro não? Não tem que ter isso. Lembro que tinha que pagar 10 centavos cada vez que falasse um palavrão. Nunca tive uma mesada gorda, mas perdi as economias no meu cofrinho (risos)."

FEMINISTA
"Sempre fui muito do lado do feminismo. Gosto da questão da igualdade. Ouvia que mulher não pode ficar bêbada. Eu me permito [beber de vez em quando]. Gosto de sair com meus amigos, tenho meus momentos de descanso. Bebida é prejucial à saúde, sim. Ainda mais em excesso. Assim como qualquer coisa em excesso. Mas não venha me dizer que é coisa de homem ou de mulher. Fui criada por três mulheres – minha mãe, minha tia e minha avó – muito raçudas, trabalhadoras, sem preguiça e que não se desmotivavam com o que enfrentavam. Tive o exemplo de mulheres guerreiras e tenho muito orgulho delas. Minha mãe me criou, me alimentou, me deu uma escola. Ela não abaixa a cabeça para problemas. Muito do que sou hoje aprendi com ela. Ela é uma mulherona da porra.”

Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)

PRIMEIRO BEIJO
“Meu primeiro beijo aconteceu de 14 para 15 anos. Rolou por pressão de amigas. Minhas amigas contavam, aos 11, que não eram mais BV (boca virgem). Meus hormônios demoraram para vir (risos). Eu estava brincando de Barbie e elas estavam beijando na boca. Pensava: ‘Que nojo!’. Imaginava que meu primeiro beijo fosse com ‘o’ cara. No fim, foi horrível. Aconteceu sob pressão, com o primo da aniversariante em uma festa de 15 anos, minhas amigas falando ‘beija, beija’. Achei nojento. Chorei por uma semana. Minha mãe teve que me aguentar deprimida por uma semana. Lembro que antes de beijá-lo, liguei para minha mãe para avisar (risos). O meu primeiro beijo de língua foi bizarro!”

ROMÂNTICA
“Tenho esse jeito, mas sou muito romântica. Acho a coisa mais linda ter um parceiro de vida, envelhecer junto... Imagino estar com um cara e falar: ‘Amor, lembra quando a gente tinha 20 anos e viajamos para praia, me machuquei e você cuidou de mim?’. Acho lindo isso. Quero muito que isso aconteça comigo, se Deus quiser. Ainda fico pensando se vou casar na igreja, na praia, na fazenda... Ainda fico na dúvida. Tenho vontade de ter um parceiro da vida toda, mas não é mais uma piração.”

Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)

NOVOS HÁBITOS
“Desde os 21 anos tive a consciência de mudar a minha alimentação. Comia muito mal, vivia de fast food. Estava com o colesterol alto e meus exames de sangue estavam desregulados. Decidi cuidar da minha saúde e passei a fazer exercícios físicos. Virei vegetariana há oito meses. Gosto tanto de animais que acabou sendo uma transição tranquila. Nunca fui de gostar muito de carne.”

PRÓXIMO TRABALHO
“A partir do fim de novembro, começo a rodar De Novo Não, um novo filme previsto para chegar aos cinemas em julho de 2018. Já estou em fase de ensaios. Serei uma cantora pop que começa o filme aos 30 anos e volta para a época em que tinha 17. Vou viver as duas fases. Ela com a mentalidade de 30 em um corpo de 17. E ela com 30 anos de fato. As filmagens vão rolar até 22 de dezembro. Quando penso no futuro, eu me imagino atuando. Seja em novelas, séries, filmes... Quero exercer minha profissão e ser reconhecida como atriz.”

Kéfera em números (Foto: Arte: Andressa Xavier)
Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)

Fotos: Rodrigo Takeshi/Ed Globo
Styling: Caio Gobbi
Make: Evelyn Conversani
Hair: Cristiane Peçanha
Produção e Suporte: Juliana Davanso

Look navy: camiseta Comme Des Garçon, calça My Favorite Things, sandália ElevenEleven e joias Monte Carlo
Look verde e preto: moletom Kenzo, saia tule My Favorite Things, ankle boot Vizzano e joias Monte Carlo
Look de paetês: top e bomber My Favorite Things, calça Letage, sandália Vizzano e joias Monte Carlo

Kéfera (Foto: Rodrigo Takeshi)