BRASÍLIA - Em busca de votos para tentar aprovar a reforma da Previdência no plenário da Câmara dos Deputados ainda em 2017, o governo fez de tudo. Liberou milhões para o pagamento de emendas num Orçamento apertado, aceitou a aprovação de projeto para ressarcir governadores pela desoneração das exportações e deixou livre o caminho para programas de parcelamento de dívidas de contribuintes em geral, estados, municípios e produtores rurais. Juntas, essas ações representam um custo de, no mínimo, R$ 15 bilhões aos cofres públicos nos próximos anos.
LEIA MAIS:
Rodrigo Maia marca votação para 19 de fevereiro
Entenda os impactos de um adiamento da reforma da Previdência
Meirelles confirma adiamento de Previdência e diz que vai tentar evitar rebaixamento de agências
E as negociações não pararam por aí. O Palácio do Planalto também fez a promessa de que reverteria punições para quem votou contra o presidente Michel Temer nas denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Houve o compromisso de devolução de cargos tirados das mãos dos infiéis.
O governo também desidratou a própria reforma em nome de sua aprovação. Sua linha mestra foi preservada — a equalização entre os regimes de aposentadoria de servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada — mas ficaram de fora, por exemplo, alterações nas regras de pagamento da aposentadoria rural e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Tudo isso reduziu a economia esperada de quase R$ 800 bilhões em 10 anos para algo em torno de R$ 450 bilhões.
Nada disso, no entanto, foi suficiente. A votação do texto ficou para 2018, ano eleitoral em que parlamentares ficarão ainda menos inclinados a aprovar uma proposta impopular. Integrantes da equipe econômica resumiram nesta quinta-feira um sentimento espalhado pelo corpo técnico do governo: “não adiantou nada”.
“Quem não queria a reforma em 2017 fez suas exigências, foi atendido, mas não votaria a favor. Esse parlamentar não vai mudar de opinião em 2018”, disse um interlocutor da área econômica.