Rio

Câmara de Vereadores aprova fim da dupla função de motoristas em ônibus municipais do Rio

Projeto de Lei também prevê volta de cobradores aos coletivos
Ônibus estampa novo valor da tarifa na Central do Brasil. Imagem de 15/11/2017. Foto: Paulo Nicolella / Agência O Globo
Ônibus estampa novo valor da tarifa na Central do Brasil. Imagem de 15/11/2017. Foto: Paulo Nicolella / Agência O Globo

RIO - As empresas de ônibus que atuam nas linhas municipais do Rio sofreram mais um revés nesta quinta-feira. Isto porque a Câmara de Vereadores aprovou, por 40 votos a um, o projeto de Lei que prevê o fim da dupla função dos motoristas de ônibus e a volta dos cobradores às linhas municipais, que também deverão contar com o sistema de biometria. O projeto, de autoria do vereador Reimont (PT), segue agora para a sanção do prefeito Marcelo Crivella em até 15 dias.

LEIA TAMBÉM: Ao comemorar redução das passagens, Crivella não cita decisões judiciais

VEJA AINDA: Redução da tarifa de ônibus municipais entra em vigor e passageiros comemoram

A medida significa, na prática, o quarto revés da Rio Ônibus em 2017. No começo do ano, a prefeitura do Rio impediu o reajuste das passagens, alegando que o sindicato das empresas rodoviárias do município descumpriu o compromisso de climatização da frota. Além disso, a Justiça do Rio determinou a redução da tarifa em R$ 0,20 duas vezes este ano, com o preço da passagem caindo de R$ 3,80 para R$ 3,40 nos últimos meses.

De acordo com Reimont, a votação do projeto de lei foi negociada junto à base aliada do prefeito Marcelo Crivella, que, segundo o parlamentar, sancionará o projeto. Reimont afirma que apesar da alegação da Rio Ônibus, de que o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior do Tribunal do trabalho entendem que as funções de motorista e cobrador não são incompatíveis entre si, o projeto não legisla sobre questões trabalhistas, mas, sim, de mobilidade e, principalmente, segurança dos condutores e passageiros.

- É claro que todo projeto de Lei pode ser questionado na Justiça, isso faz parte da democracia, mas a questão trabalhista, neste caso, é apenas uma consequência. O acúmulo da dupla função põe em risco a integridade física dos passageiros e psicológica do condutor.

Durante a votação, foi sugerida uma emenda que dispensaria a necessidade do cobrador em ônibus que contassem com sistema de biometria, mas o texto acabou passando por modificações, garantindo a exigência dos profissionais mesmo nas linhas com leitura de digitais, que passa a ser obrigatória. Segundo Reimont, a biometria não poderia ser usada para impedir a volta dos cobradores, já que não impediria o pagamento das passagens em dinheiro.

- De que forma a biometria resolveria o problema das passagens pagas em dinheiro? Isso não resolveria a questão central do projeto, que é o fim da dupla função. As empresas poderiam instalar os aparelhos a toque de caixa em toda a frota, e o problema principal persistiria - argumenta o parlamentar, acrescentando que toda a regulamentação do projeto de Lei caberá ao prefeito Marcelo Crivella.

Reimont explica que tem conversado com motoristas e cobradores desde que o projeto foi criado, e alega que os relatos desses profissionais deixam clara a incompatibilidade do acúmulo de funções, inclusive devido às constantes reclamações de passageiros e outros motoristas.

- São duas situações que ocorrem recorrentemente. A primeira é que quando o motorista para o ônibus para dar o troco, e isso é o certo a se fazer, os passageiros que estão com pressa reclamam, e as empresas também, pois obviamente não desejam pagar hora extra. No entanto, se esse mesmo motorista dá o troco com o veículo em movimento, a segurança de todos, inclusive a dele próprio.

Em nota, a Rio Ônibus chamou de retrocesso a decisão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro sobre a volta dos cobradores aos ônibus da capital.

"A medida ignora que todos os ônibus do Rio têm bilhetagem eletrônica (a exemplo de outras grandes cidades do mundo) e que o Supremo Tribunal Federal (STF) já ratificou decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) considerando as funções de motorista e cobrador compatíveis entre si", informou.

A Rio Ônibus alega ainda que cerca de 70% das transações nos ônibus municipais são feitas com cartões RioCard, e que a cobrança da passagem pelo motorista só acontece nas linhas onde pelo menos 70% dos pagamentos são feitos eletronicamente, conforme autorização da Secretaria Municipal de Transportes.

De acordo com a Câmara de Vereadores, o fim da dupla função dos motoristas se aplica aos micro-ônibus utilizados no transporte coletivo, que também deverão contar com cobradores. A estimativa apresentada pelos parlamentares autores da medida é de que serão gerados cerca de 5 mil empregos na cidade.