Blog da Sandra Cohen

Por Sandra Cohen

Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'


O presidente dos EUA, Donald Trump, em foto na Casa Branca, em Washington, na segunda-feira (18) — Foto: Reuters/Leah Millis 

O presidente americano Donald Trump, enfim, cumpriu a ameaça que fizera por diversas vezes nas últimas semanas de proibir a entrada nos EUA de viajantes provenientes do Brasil para evitar que nós, brasileiros, contaminemos os americanos com o novo coronavírus. Vale lembrar que, no início do surto, ele tomou decisão semelhante, e pelas mesmas razões, barrando a entrada de cidadãos da China e da Europa.

As restrições, ainda em vigor, não impediram que os EUA se tornassem rapidamente o líder em número de casos de Covid-19 no mundo. Os estrangeiros foram mantidos fora, mas o vírus já estava, como agora, circulando ativamente no território americano.

A atuação de Trump na gestão da pandemia desde o início foi duramente criticada -- por minimizar a doença, pela falta de testes, pela defesa da cloroquina sem comprovação científica, pelo confronto com governadores, pela pressa de reabrir a economia, por incentivar claramente os protestos anti-lockdown ou até mesmo por não usar máscara. O mesmo vale para Bolsonaro.

A esta altura, os EUA têm 1,6 milhão de casos registrados oficialmente -- 300 para cada milhão de habitantes -- e chega aos 100 mil mortos. O Brasil contabiliza 360 mil (106 por milhão), mas a escalada acelerada e as subnotificações fazem com que a OMS anteveja, mais cedo ou mais tarde, nosso país como o epicentro da doença.

A menos de seis meses das eleições, Trump argumenta que sua decisão visa a proteger os americanos: “Não quero que as pessoas venham aqui e infectem o nosso povo”, explicou esta semana. Em outras ocasiões, deixou claro a preocupação com o avanço da pandemia no Brasil:

“Eu odeio dizer, mas o Brasil está muito alto, o gráfico está muito, muito alto. Lá em cima, quase vertical. O presidente do Brasil é realmente um bom amigo meu, um ótimo homem, mas eles estão vivendo um momento muito difícil.”

O presidente americano prefere ser coerente com a política que vem pautando sua presidência -- a de barrar a entrada de estrangeiros. A dramática situação do Brasil e críticas à condução do presidente Jair Bolsonaro em meio à pandemia reverberam com destaque no noticiário americano. Por isso, a decisão de Trump não surpreende.

Na prática, a maioria das companhias já havia suspendido em março os voos entre os dois países. Restaram apenas nove por semana, a maioria para repatriar brasileiros.

EUA de Trump ajudarão o Brasil de Bolsonaro com mil respiradores, mas deixam de fora os brasileiros ou os estrangeiros que passaram pelo país. O presidente americano deixa claro que não poupará qualquer aliado que possa enfraquecer seu caminho para a reeleição.


As restrições anunciadas neste domingo pela Casa Branca atingem sobretudo todos passageiros estrangeiros que passaram 14 dias no Brasil e que não poderão ingressar nos EUA a partir da próxima sexta-feira. Mas não serão aplicadas, por exemplo, aos cidadãos americanos ou aos que tenham residência permanente no país.

Os EUA de Trump ajudarão o Brasil de Bolsonaro com mil respiradores, mas deixam de fora os brasileiros ou os estrangeiros que passaram pelo país. O presidente americano deixa claro que não poupará qualquer aliado que possa enfraquecer seu caminho para a reeleição.

EUA proíbem entrada de brasileiros por causa do número de infectados pelo coronavírus

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