Exclusivo para Assinantes
Política

Ministro de Bolsonaro busca apoio no Congresso sem negociar com partidos

Em reuniões com deputados, inclusive do PSL, Luiz Eduardo Ramos é cobrado por promessas vindas de Onyx Lorenzoni
O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos 04/07/2019 Foto: Jorge William / Agência O Globo
O ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos 04/07/2019 Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — O ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, está há dois meses encarregado da articulação política e tem se empenhado para atingir a difícil missão recebida do presidente Jair Bolsonaro: montar a base governista no Congresso, sem negociar com partidos.

Com visitas frequentes à Câmara, o ministro conquistou a confiança dos líderes do PSL, Delegado Waldir, e do governo, Major Vitor Hugo. Ambos não têm diálogo com Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, que comandou as negociações até julho. Em votações no primeiro semestre, era comum que líderes do centrão — DEM, PP, PL, SD — soubessem da posição do governo por meio de Onyx antes mesmo do PSL.

O acúmulo de derrotas no Congresso em função dessa desorganização foi um dos fatores para remover Onyx da articulação política. Outro foi a promessa do ministro de liberar até R$ 40 milhões em emendas a quem votou a favor da reforma da Previdência. Com 370 votos, o valor total, de mais de R$ 14 bilhões, seria impraticável mesmo com um Orçamento flexível. Em reuniões que vem tendo com deputados, inclusive com os do PSL, Ramos foi cobrado por essa fatura, mas destaca o fato de o compromisso ter sido firmado antes da sua chegada.

— Entrei em julho — disse Ramos ao GLOBO, ao ser questionado sobre o cumprimento da promessa.

Aos deputados com quem conversa, ele manifesta incômodo pela predileção dada ao DEM nos cargos e nas verbas liberadas pela Saúde, pasta que já repassou R$ 2,1 bilhões em verbas para bases de parlamentares entre julho e agosto. No órgão, muitos deputados foram atendidos pelo ministro Luiz Mandetta, filiado ao DEM, sem passarem pelo filtro do Planalto. As liberações não foram direcionadas só a parlamentares fiéis ao governo, o que Ramos quer corrigir.

Cargos e recursos

Não só as verbas privilegiaram o DEM. Em agosto, o líder da sigla na Câmara, Elmar Nascimento (BA), emplacou Marcelo Andrade Moreira Pinto na presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O PP e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), indicaram o novo presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Rodrigo Sérgio Dias.

A bancada de partidos “independentes”, que inclui Cidadania, Podemos, PSC, Patriota e Novo, tem se incomodado com o atendimento ao centrão. Nas últimas semanas, Ramos tem se explicado a líderes de partidos pequenos, ameaçando retirar as indicações de cargos de deputados que não votarem com o governo, ou se posicionarem contra Bolsonaro nas redes.

Para os governistas, a “ameaça” soa como promessa. Há cargos vagos nas diretorias e superintendências do governo federal nos estados, e não faltam deputados fiéis para fazer indicações. Em relação a mudar votações e formar uma base, porém, deputados mais experientes são céticos com o futuro.

— Ramos é uma pessoa extraordinária, mas parlamentares mais maduros não se deixam levar por essas pressões — avalia Lincoln Portela (PL-MG), eleito pela primeira vez em 1998.

O deputado Ricardo Barros (PP-PR) esteve em uma reunião com Ramos nesta semana da bancada do Paraná e disse a ele que “presidente não demite deputado, mas deputado demite presidente”. O líder do PSD, André de Paula (PE), observa que, como o governo optou por não ter base, é preciso formar a maioria de acordo com a convicção dos deputados em cada votação.

Apesar de não se disporem a formar uma base, todos elogiam Ramos pela sua interlocução. A exceção é Marco Feliciano (PODE-SP), que, ontem, criticou o ministro nas redes sociais.