Economia

Produção industrial cai 1,2% em novembro, aponta IBGE

Nos onze primeiros meses de 2019, o setor industrial acumula queda de 1,1%. Nos últimos 12 meses, recuo é de 1,3%
Resultados da produção industrial de novembro são impactados por queda nas exportações brasileiras Foto: Pixabay
Resultados da produção industrial de novembro são impactados por queda nas exportações brasileiras Foto: Pixabay

RIO — A produção industrial caiu 1,2% em novembro de 2019, na comparação com outubro, de acordo com a Pesquisa Mensal da Indústria (PMI), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE. Em relação ao mesmo período do ano anterior (novembro de 2018), o recuo foi de 1,7%. Após três altas seguidas, a produção industrial apresenta o pior resultado para o mês desde 2015.

O resultado interrompeu a série de três meses consecutivos de alta do indicador que mede o desempenho econômico do setor industrial. A mediana das previsões de economistas ouvidos pela Bloomberg esperava um recuo de 0,7% ante outubro e  uma retração de 0,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

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Nos onze primeiros meses de 2019, o setor industrial acumula queda de 1,1%. O acumulado nos últimos 12 meses é de retração de 1,3%. Segundo o IBGE, 16 dos 26 ramos pesquisados mostraram queda na produção, ante um recuo em dez setores no mês anterior. Os números de novembro são 17% inferiores ao ponto mais elevado da série histórica, em maio de 2011.

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Para a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBRE) Luana Miranda, o resultado negativo da produção automobilística (-4,4%), ocasionado pela queda das exportações, foi relevante para o resultado geral da indústria.

— Cerca de 90% do resultado são puxados principalmente pela indústria de transformação, que tem um peso maior no PIB. A queda da produção de veículos já era esperada, de certa forma, por conta do aumento dos estoques em outubro, que registrou um número histórico. A performance da indústria automobilística prejudicou bastante o resultado geral e foi impactada ainda pela queda das exportações.

Em novembro do ano passado, as exportações totais de autoveículos brasileiros caíram 7,3% em comparação a 2018, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfeava). Em dezembro, o indicador registrou queda de 8,1%. Na visão de Miranda, o contexto internacional gera efeitos negativos sobre a produção industrial.

— A indústria sofre muito com um cenário internacional adverso. Apesar do aquecimento do varejo, a produção da indústria de transformação depende muito da estabilidade econômica exterior.

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A indústria extrativista, no acumulado de 2019 até novembro, apresentou queda (-9,5%) impactada principalmente pela produção de minério de ferro. A pesquisadora ressalta também que a indústria ainda sofre com os impactos do desastre ambiental de Brumadinho (MG), em fevereiro do ano passado. A produção de celulose também caiu (-3,9%), bem como o setor de máquinas e equipamentos (-9,1%).

Aurélio Bicalho, economista-chefe da Vinland Capital, destaca que os fatores que influenciam a produção industrial, como o ambiente externo e o crescimento da economia global, são diferentes daqueles que movimentam outros setores.

— Mesmo com indicadores apontando para uma melhora no consumo e na confiança, tanto do consumidor quanto do empresariado, a economia global crescendo em um ritmo menor e todas as tensões comerciais causadas pela guerra comercial entre China e Estados Unidos impactam a indústria.

O  economista destaca ainda que a situação econômica da Argentina, vizinha e uma das principais parceiras comerciais do Brasil, segue afetando negativamente a indústria nacional:

— Além do ambiente externo como um todo, um fator específico para o Brasil é a crise econômica da Argentina. Sendo um importante parceiro comercial, mas que compra menos por conta da situação econômica interna, a indústria brasileira acaba sendo prejudicada.

Crescimento menor do que o esperado

Duas das quatro grandes categorias econômicas tiveram resultado negativo no mês de novembro: bens intermediários (-0,4%) e bens de capital (-0,4%), que são máquinas e equipamentos. As duas  são termômetros de investimento da economia.  Em comparação ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi ainda maior, de -2,8% e -3,1%, respectivamente.

Luana Miranda acredita que os resultados de dezembro, que ainda serão divulgados pelo IBGE, apresentem um crescimento, ainda que tímido:

— Hoje, nossa expectativa de crescimento da indústria de transformação é de 0,9% em relação ao ano anterior. É positivo, mas ainda é um resultado baixo. Apesar do aquecimento da demanda doméstica no quarto trimestre, a indústria não deve acompanhar o avanço do varejo, previsto em 6%.

Na visão da pesquisadora, o descompasso entre indústria e varejo deve permanecer em dezembro, mas não impacta as projeções para o PIB.

— Se a indústria de transformação não tivesse caído tanto, poderíamos observar um cenário mais forte do PIB. Efeito em cadeia que a transformação tem.

Perspectiva otimista

Bicalho pondera, entretanto, que a situação da indústria e da economia brasileira como um todo tendem a melhorar neste ano. As bases para isso, projeta o economista, serão o juro baixo e a redução das incertezas.

— A tendência é que o consumo volte a crescer e que os agentes externos voltem a investir no Brasil, cenário este proporcionado pelos juros na mínima histórica. Além disso, a tendência é que as incertezas sobre a economia do país sejam reduzidas, também contribuindo para atrair investidores estrangeiros.

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Segundo o economista da Guide Investimentos Homero Guizzo, as variações dos resultados da produção industrial fazem parte da dinâmica de mercado, mas os esforços do governo tendem a melhorar o cenário de investimento.

— O caminho da recuperação não vai ser uma estrada suave. Não significa que não haverá recuperação. Percebemos uma melhora, com os esforços da política monetária expansionista. Depois das reformas, houve uma melhora na confiança do investidor. Com os juros baixos, os planos de investimentos se tornam mais viáveis, o que melhora as expectativas para 2020.

Em relatório enviado nesta manhã, assinado pelo economista-chefe Alberto Ramos, o Goldman Sachs apontou que a recuperação econômica é impulsionada pela política monetária brasileira, que melhora as perspectivas de investimento no país.

“No futuro, esperamos que o setor industrial de baixo desempenho se beneficie de maneira lenta, mas incremental, da recuperação econômica cíclica projetada, impulsionada por baixas taxas de juros reais, condições financeiras acomodatícias, aumento da confiança dos negócios e expectativa de investimentos mais firmes, mas continuando enfrentando ventos contrários, como a atividade fraca na Argentina, um mercado importante para as exportações brasileiras de manufaturas”, disse Ramos, no documento.

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Os economistas das instituições financeiras projetam um cenário de estagnação para a produção industrial m 2019, de queda de 0,73%, segundo o boletim Focus do Banco Central. Para o resultado do PIB de 2019 do Brasil, a previsão é de uma alta de 1,17%.