A mudança de hábitos imposta pela pandemia da covid-19 fez a Burger King Brasil (BK Brasil), operadora das redes de restaurantes BK Brasil e Popeyes, acelerar alguns planos. Neste mês, a companhia começou a operar um projeto piloto de ghost kitchen, uma cozinha dedicada exclusivamente ao serviço de entrega.
A ghost kitchen será compartilhada pelas marcas Burger King e Popeyes. “Estamos combinando Burger King e Popeyes no mesmo endereço, com o bolsão de motoboys isso pode reduzir o tempo de entrega. A ghost kitchen pode nos ajudar a ter maior penetração com mais baixo custo de ocupação”, disse Iuri Miranda, presidente da empresa, em teleconferência de resultados.
Segundo ele, quando observada a curva de horário de pedido de delivery e balcão, os picos de pedidos são muito parecidos. Com o crescimento dos pedidos por delivery, há uma maior pressão na operação do restaurante. Um dos objetivos da companhia é testar o quanto o piloto de cozinha exclusiva ao delivery alivia essa pressão.
No segundo trimestre, cerca de 80% das vendas do grupo foram feitas por drive-thru ou delivery. As vendas em drive-thru cresceram 132% no período, o que mostrou a resiliência das lojas free standings [lojas de rua com operação de retirada], segundo Miranda.
Já as vendas delivery saltaram 246% no segundo trimestre, impulsionadas não só pelas restrições da pandemia mas como pela inserção da companhia em novas plataformas de entrega.
Segundo o diretor financeiro da companhia, Clayton Malheiros, o volume de vendas delivery da empresa ainda está mais concentrado no aplicativo Uber Eats, mas com houve crescimento no Ifood e no Rappi e há espaço para avanços no James Delivery, do GPA, e serviço de delivery próprio da BK Brasil.
“A plataforma BK Express ainda representa pouco nas vendas totais, mas ganha mais relevância impulsionada por mais de 25 milhões de downloads, o que nos permite conhecer melhor os hábitos dos consumidores e ser mais assertivos na relação com nossos clientes”, disse Malheiros.
O presidente da companhia diz que, em análise do comportamento do setor de restaurantes em outros países que foram afetados antecipadamente pela crise sanitária, foi possível observar o fortalecimento dos canais digitais após o fim das medidas de isolamento social.
“Vamos ter um retorno progressivo das vendas em balcão, porque aqui tem o instrumento de lazer também, mas muitas pessoas experimentaram pela primeira vez os ser serviços digitais e gostaram. Já observamos um volume residual, mesmo com a retomada das vendas no balcão”, disse.
A estratégia de ampliar a participação nos canais digitais levou a empresa a adotar um comportamento mais agressivo de preços, em especial com a entrada no portfólio do Ifood e do Rappi.
“Você começa fazendo promoção para as pessoas saberem que você está naquela plataforma e com o tempo vai fazendo equilíbrio dessas promoções e melhorando a margem. Nos últimos meses, estamos trabalhando com ofertas diferentes, para família, o que tem tíquete maior. Em julho já vimos um número mais interessante margem e vendas”, disse o presidente da BK Brasil.
A melhora de margem também deve vir da consolidação dos projetos de tecnologia. De acordo com Miranda, a empresa um dos frutos de sistemas de gestão de relacionamento com clientes (CRM) será ajudar a fazer equilíbrio melhor de promoções para manter margens. A empresa também passará a utilizar inteligência artificial para sugerir produtos aos consumidores na hora da conclusão da compra e, com isso captar uma margem melhor.
(Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)