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Autoridades da China anunciam ter encontrado coronavírus em produto importado do Brasil

Autoridades da China anunciam ter encontrado coronavírus em produto importado do Brasil

Autoridades de uma cidade da China anunciaram ter encontrado o coronavírus num produto importado do Brasil.

O interesse imediato que uma notícia como essa desperta e a falta de clareza do anúncio chinês geraram muita controvérsia e a Organização Mundial da Saúde, ao ser consultada sobre o assunto, procurou tranquilizar todo mundo.

A comissão municipal de saúde de Shenzhen, uma das maiores cidades da China, divulgou a informação em um comunicado. Disse que uma amostra do novo coronavírus foi detectada na superfície de um lote de asas de frango congeladas e importadas do Brasil. O texto não deixa claro se o vírus estava na superfície da embalagem ou da carne.

O comunicado afirma ainda que pessoas em território chinês que podem ter tido contato com o produto testaram negativo. Mesmo assim, as autoridades chinesas pediram cautela na compra de carne congelada importada, para reduzir o risco de contaminação.

O lote de frango identificado pela China saiu do frigorífico Aurora, em Santa Catarina. A empresa disse não houve qualquer notificação oficial por parte das autoridades chinesas. Que está pronta para esclarecer os fatos e que as medidas de combate à pandemia estão sendo integralmente seguidas e cumpridas. A Aurora afirma ainda que o seu processo produtivo, desde o campo até a indústria, atende e cumpre com todas as normas legais vigentes e exigências sanitárias.

A Associação Catarinense de Avicultura declarou que o transporte desse tipo de produto leva mais de 45 dias até a China e considera improvável a contaminação dentro do setor produtivo.

A Associação Brasileira de Proteína Animal diz que houve confusão na tradução e que entende que a China falou de contaminação na embalagem e não no frango.

“Na verdade é uma interpretação da fala chinesa, no idioma chinês. Ele fala em análise por fora. Análise por fora pode ser por fora do produto ou por fora da embalagem. O vírus não se instala dentro da carne. Então por isso que estou dizendo: dentro da carne, a Abpa está dizendo que tem certeza que não é”, diz Ricardo Santin, diretor executivo da Abpa.

O comunicado chinês despertou preocupações sanitárias e econômicas, já que a China é o maior importador de aves do Brasil - responde por 16% do total. Mas especialistas da área da saúde ouvidos pelo Jornal Nacional reafirmam que não existem evidências de que pessoas possam ser contaminadas pelo novo coronavírus por meio de alimentos ou de embalagens de comida.

A diretora do Centro de Pesquisas de Alimentos da USP, Bernadette Franco, lembra que, mesmo em surtos de outros tipos de coronavírus, não houve contaminação através de alimentos: “O vírus não fica durante muito tempo no alimento porque para ele sobreviver, para ele se multiplicar, para se transformar numa quantidade que vai causar doença, ele precisa ter o receptor, precisa ter a célula onde ele se multiplica e isso não existe no alimento. Então o alimento não é o ambiente onde o vírus consegue replicar o seu material genético e depois vir a causar doença”.

O virologista e professor da USP Paulo Eduardo Brandão diz que, aparentemente, só fragmentos do novo coronavírus foram encontrados na China. E que, mesmo congelado, é improvável que o vírus fique viável por tanto tempo.

“Se tiver só esse fragmento do vírus, só pedaços dele lá, como foi relatado, não é infeccioso, isso não representa risco para saúde das pessoas”, explica.

O virologista explica que o novo coronavírus tem resistência menor do que outros vírus, como o rotavírus e o norovírus, que causam diarreia e vômito. Esses dois, sim, contaminam alimentos e podem permanecer vivos durante meses, mesmo em pequenas quantidades.

“Esses outros vírus são muito resistentes no ambiente. Coronavírus é muito frágil. Então não é só estar presente ali. Tem que estar presente em quantidade que representa o risco e isso se sabe que não acontece, por enquanto, para embalagens e outros itens de alimentos para coronavírus da Covid 19”, afirma Brandão.

A infectologista Rosana Richtmann, do hospital Emílio Ribas, reforça que a preocupação deve ser com a transmissão por gotículas que ficam no ar ou quando a pessoa entra em contato com uma superfície contaminada e leva a mão ao rosto.

Ela recomenda lavar sempre as mãos ou usar álcool gel depois de manusear embalagens. E higienizar alimentos crus, como frutas e verduras, com solução de hipoclorito de sódio. Para as carnes, o calor do cozimento é suficiente para matar o vírus.

“O que a gente sabe é que temperatura acima por exemplo de 60 graus já inativa o vírus. Até hoje nós não temos nenhum caso na literatura documentado de alguém que pegou a Covid 19 através dos alimentos. Eu não estou dizendo com isso que a gente não tenha que tomar os cuidados de sempre, mas do ponto de vista prático, acho pouquíssimo provável que isso possa ocorrer. Eu tenho muito mais receio de me contaminar através do ar do que através dos alimentos e das compras. Então a chance de alguém de fato se infectar com o novo coronavírus e pegar a doença, ficar doente através dos alimentos, apesar da gente não ter 100% de certeza, eu acho extremamente remoto”, explica Rosana Richtmann.

O Ministério da Agricultura declarou ainda não foi notificado oficialmente pelas autoridades chinesas sobre o caso e que na quarta-feira (12) acionou a administração geral de aduanas da China para conseguir informações oficiais que esclareçam as circunstâncias da suposta contaminação. O ministério afirmou que os frigoríficos brasileiros seguem protocolos rígidos para garantir a saúde pública.

O presidente da Câmara de Comércio BrasilChina, Charles Tang, disse ao Jornal Nacional que fontes do consulado da China no Rio relataram a ele que a contaminação foi no frango.

Procurado, o consulado chinês informou que deve ter havido uma confusão na comunicação e que não está claro onde o vírus foi encontrado.

A embaixada chinesa informou que não há novas restrições para a importação de carnes brasileiras e que trabalha com o Brasil para entender onde e como ocorreu a contaminação.

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