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Por Jornal Nacional


Rio bate recorde de mortes por policiais nos primeiros oito meses do ano

Rio bate recorde de mortes por policiais nos primeiros oito meses do ano

O número de mortes por policiais nos primeiros oito meses de 2019 é o maior de todos os tempos no Rio. Especialistas e o governo do estado têm visões diferentes sobre a atual política de segurança.

Paulo César está entre a vida e a morte no leito de um hospital. Levou dois tiros de fuzil, na semana passada.

“Boto a mão no fogo pelo meu filho. Com certeza, com certeza, meu filho é inocente. Eu vou provar a inocência dele”, disse Luís César Rodrigues.

Paulo César é lavador de carros. No registro de ocorrência, policiais militares afirmaram que ele estava armado com um revólver e que ameaçou atirar.

“A gente espera que, de alguma maneira, a inocência dele seja provada e a justiça seja feita. Ele é um jovem inocente, um jovem trabalhador, um jovem que não deveria, assim como tantos outros, passar por uma situação dessa”, afirmou o pastor Eliezer Monteiro Freire.

Diogo Coutinho, de 16 anos, estava indo para o treino de futebol quando levou um tiro, em Niterói, na região metropolitana. Foi o avô que tentou socorrer o neto que ajudou a criar.

“Era só chamar ele. Mandava encostar, verificar a bolsa, que ia ver que ele ia treinar. Não atirar. O tiro pegou nas costas e saiu aqui do lado. Você vê que não é auto de resistência. Falaram que meu filho era traficante. Poxa, brincadeira”.

A polícia nunca matou tanto quanto agora, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado: 1.249 casos foram registrados entre janeiro e agosto de 2019. Em agosto, houve uma ligeira queda em relação ao mês anterior, mas a média de 2019 continua assustadora: cinco mortes por dia.

Os policiais alegam que atiram em legítima defesa e, nessa guerra, muitos inocentes perdem a vida.

“Acabaram de matar um trabalhador aqui na minha laje. Policial, pelo amor de Deus, vamos acabar com esse negócio. Tanta gente inocente indo embora”.

Foi o pedreiro José Pio Bahia Júnior, na Vila Kennedy, na Zona Oeste. Testemunhas contaram que os tiros foram disparados por uma PM.

“A Polícia Militar não busca o confronto, porém, por vezes, ele ocorre. As ações da Polícia Militar são todas dentro da lei, são planejadas, são com base em informações de inteligência, são planejadas, então, infelizmente, essa é a nossa realidade”, disse o porta-voz da Polícia Militar, capitão Maicon Pereira.

Desde o início da gestão, o governador Wilson Witzel (PSL) vem defendendo uma política de enfrentamento contra organizações criminosas. Nesta sexta-feira (20), ele voltou a falar sobre o assunto.

“Serão caçados nas comunidades. E aqueles que não se entregarem, não tirarem o fuzil do tiracolo serão abatidos. Porque não merecem viver aqueles que atiram contra o povo e contra a população do estado do Rio de Janeiro”.

A Defensoria Pública afirma que as mortes precisam ser investigadas e as ações dos policiais devem seguir a lei.

“O que a lei determina, o que a lei orienta é a proteção da vida. Então, os casos de letalidade por policiais precisam ser aqueles casos absolutamente extremos, onde não há nenhuma outra alternativa”, afirmou o defensor público Pedro Strozenberg.

“Essa ideia de enfrentamento parece que é a solução do problema e parece que nós não aprendemos em 35 anos que isso não é suficiente. Temos que intervir nessa área para evitar que jovens entrem para o crime, se tornem mais violentos, e, aí sim, nós vamos ter uma solução mais adiante. A questão é: nós, brasileiros, estamos preparados para esperar esse tempo? Nós apostamos na única forma de solução do problema? Ou continuamos acreditando que o confronto vai ter o resultado?”, pergunta o especialista em segurança pública Paulo Storani.

A Polícia Civil disse que todos os casos de morte em decorrência de intervenção policial são rigorosamente apurados pela Delegacia de Homicídios para a elucidação completa e que todo o processo passa pela análise do Ministério Público e do Poder Judiciário.

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