Por Mariana Timóteo da Costa, GloboNews, Genebra - A jornalista viajou a Genebra a convite do International Center for Journalists (ICFJ)


Equipes fazem vacinação da febre amarela na zona rural de Tambaú, em Ribeirão Preto (São Paulo) — Foto: Ely Venâncio/EPTV

As fake news, como o boato de que uma receita natural poderia garantir proteção contra a febre amarela, podem ter influenciado as metas de vacinação no Brasil. Essa é a opinião da epidemiologista franco-americana Laurence Cibrelus, chefe da estratégia de combate à doença dentro da Organização Mundial da Saúde (OMS).

De acordo com a técnica da OMS, o ideal seria que atualmente cerca de 80% da população brasileira estivesse vacinada. O número, contudo, está em torno de 55%. Segundo a epidemiologista, as fake news podem ser um dos fatores que influenciaram essa meta.

As notícias falsas, entretanto, são apenas um aspecto que pode explicar as metas da vacinação no Brasil. Outro ponto é que a vacinação no país foi feita de forma escalonada - - com os municípios mais vulneráveis ao risco sendo priorizados para o recebimento da vacina. Na medida em que os lotes de vacina foram disponibilizados, o Brasil passou a considerar a vacina em todo o território nacional.

Em entrevista ao G1 nesta terça-feira (22) na sede da OMS, em Genebra, Laurence disse que, apesar dos esforços, as autoridades de saúde no Brasil encontram dificuldades em reverter “informações falsas” sobre tanto a dose integral da vacina como a fracionada, que passou a fazer parte da campanha de vacinação em São Paulo.

“Foi uma situação muito complicada no Brasil. Houve muita desinformação e comunicação falsa. O que foi intensificado pela discussão sobre a dose integral ou fracionada”, disse.

Para a epidemiologista, a maior parte da desinformação acontece por meio das redes sociais. Essas fake news teriam se espalhado rápido demais, “com desinformação, de que a vacina inteira é perigosa e que as doses fracionadas são fracas”.

Elogio à dose fracionada

Laurence frisa que a vacinação é a única maneira de as pessoas se prevenirem individualmente contra o vírus. Ela elogiou o fato de o Brasil ter implementado doses fracionadas da doença, como forma de imunizar o maior número de pessoas num curto espaço tempo.

“Os benefícios de usar a vacina sobrepassam os riscos de qualquer efeito colateral em potencial. Os efeitos colaterais são raros, são bem conhecidos. A vacina tem contraindicação para grupos muito específicos. A vacina é segura e a vacina fracionada é eficaz. Essa é a mensagem que precisa ser passada”, afirma.

A estratégia liderada por ela prevê a eliminação da epidemia em humanos de febre amarela na América Latina e na África até 2026.

São três as principais áreas de trabalho da OMS: proteger as populações em áreas de risco (com vacinação e monitoramento constante); prevenir que ela se espalhe entre os países e conter surtos como os do que aconteceram recentemente em cidades brasileiras.

“A febre amarela não será erradicada. O virus circula na natureza, infecta macacos e é transmitido pelos mosquitos. O que os humanos podem fazer é se proteger se vacinando”, salientou.

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