Saúde

'Tudo indica que a febre amarela voltará, e forte', diz especialista em imunização

A médica Isabella Ballalai destaca que, caso cobertura vacinal não cresça, a doença provocará novos surtos e há risco de entrar em áreas urbanas, como as cidades de Rio e São Paulo
Aedes aegypti podem transmitir febre amarela caso ela entre nas áreas urbanas, o que é preciso evitar a todo custo. Se a doença se urbanizar, seu controle ficará extremamente difícil Foto: Ricardo Mazalan
Aedes aegypti podem transmitir febre amarela caso ela entre nas áreas urbanas, o que é preciso evitar a todo custo. Se a doença se urbanizar, seu controle ficará extremamente difícil Foto: Ricardo Mazalan

RIO - Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai destaca que, sem cobertura vacinal  adequada — que seria de 95% —, a febre amarela tem tudo para provocar novos surtos.

Esta semana, o Ministério da Saúde lançou um alerta , pedindo que a população se vacine antes de dezembro, quando começa o período de maior circulação do vírus. O alerta foi emitido especialmente para as regiões metropolitanas de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

Confira abaixo a entrevista de Isabella ao GLOBO:

Por que você acredita que as coberturas vacinais de tantas cidades estão tão baixas?

Este ano, a grande maioria das pessoas deixou de procurar a vacina. Parte disso acredito que se deve à enorme quantidade de “fake news” dizendo que a vacina faz mal ou que mata. Soma-se a isso o fato de, durante a divulgação sobre a necessidade de imunização, sempre batermos muito na tecla de que algumas pessoas, como imunodeprimidos e idosos, precisam de avaliação médica antes. Isso acabou soando errado, como se essas pessoas morressem toda vez que tomassem a dose contra a febre amarela. Não é verdade. Houve somente 60 casos de efeitos adversos graves relacionados à vacina em todo mundo, desde 1930, quando ela começou a ser usada. Em comparação, milhões foram salvos da doença pela vacina. Falar muito sobre os possíveis efeitos adversos da vacina, ainda que extremamente raros, foi um erro, porque ofuscou o grande benefício que é tomar a vacina. Isso afugentou muito a população.

Clique aqui para saber onde se vacinar na cidade do Rio

Você acha que o alerta do ministério foi feito a tempo ou demorou?

Não acho que o alerta tenha chegado tarde. Desde de que houve o surto, vem se falando sobre a importância de se vacinar contra a febre amarela. A informação rotineira tem sido dada, e, agora, às vésperas do verão, é importante ressaltar ainda mais. É isso o que está sendo feito. Infelizmente, não tivemos ao longo do ano uma boa resposta da população como um todo. Eu esperava que, até essa altura, nossa cobertura vacinal estivesse maior.

Pelos dados que se tem hoje, teremos novo surto de febre amarela?

Tudo indica que sim, a febre amarela volta. E volta forte. Já tivemos o primeiro caso desta sazonalidade, que foi em São Paulo, em outubro. E este único caso terminou em morte. Com essas baixíssimas coberturas vacinais, estamos desprotegidos.

Qual é o maior risco de um novo surto?

O fato de as pessoas não se vacinarem, além de significar mais casos e mais mortes, cria um risco de se urbanizar a febre amarela. A grande parte das pessoas que são infectadas não manifestam a doença, e isso ajuda a espalhar o vírus para metrópoles. Entrar na Grande Rio, na Grande São Paulo, não é dificil. São áreas onde há Mata Atlântica, onde há macaquinhos em algumas ruas.