Brasil
Butantan diz que atraso da Anvisa já afeta calendário de produção da vacina
Ainda sem posição sobre liberação de insumos, instituto afirma que fabricação não deverá seguir cronograma previsto para este mês
2 min de leituraA indefinição sobre a liberação de importação de insumos da China já atrasa a produção da vacina CoronaVac no Brasil, reforçou nesta quarta-feira o Instituto Butantan, que tem parceria com o laboratório chinês Sinovac para fabricação do imunizante contra a Covid no país. Segundo o diretor do Butantan, Dimas Covas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) continua sem responder sobre a autorização de importação de matéria-prima, o que jogaria no mínimo para novembro o início da produção que era prevista para a segunda quinzena de outubro.
Na última sexta, a agência havia informado que se pronunciaria sobre o caso em até cinco dias úteis, prazo que vence nesta semana.
"Nossa previsão era iniciar a (fabricação da) vacina do Butantan na segunda quinzena de outubro. Foi solicitada para a Anvisa em 23 de setembro a autorização para importação da matéria-prima da China. Ainda não saiu. Esse atraso pode ter efeito na produção da vacina. Cada dia que aguardamos é um dia a menos de vacina", disse o diretor do Butantan, Dimas Covas, em entrevista coletiva nesta quarta-feira no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.
A liberação de importação de insumos para fabricação da vacina CoronaVac abriu uma polêmica na semana passada, quando o Butantan acusou a Anvisa de atrasar análises relativas ao imunizante, alvo de ataques constantes do presidente Jair Bolsonaro e apoiadores.
"Temos a informação de que a questão entrou às 20h58 de ontem em circuito deliberativo (na Anvisa). Isso quer dizer que cinco diretores da Anvisa estão se posicionando sobre o tema nesse momento. Mas o término poderia ser até 5 de novembro", afirmou Covas.
Procurada pelo GLOBO, a Anvisa ainda não confirmou a informação.
Segundo o diretor do Butantan, a fábrica do instituto está pronta para iniciar a produção da vacina, que só poderá ser aplicada na população, porém, após autorização e registro da Anvisa.
"O Butantan tem trabalhado em necessidade da urgência da situação e do momento, desde o início quando começamos o processo de vacina. Esperamos que a Anvisa se pronuncie o mais rapidamente possível, autorizando que essa matéria-prima seja liberada para iniciar a produção no Brasil", afirmou. "Nossa fábrica está pronta e operacional, só aguardamos a autorização."
Na última sexta, a Anvisa liberou a importação de seis milhões de doses da vacina CoronaVac, solicitada pelo Instituto Butantan. Essa autorização, porém, não tem nenhuma relação com o pedido de importação de insumos para fabricação da vacina no Brasil, também solicitada pelo Butantan à Anvisa.
O acordo assinado com a Sinovac prevê a importação de seis milhões de doses da vacina CoronaVac que virão prontas da China - o que foi autorizado semana passada pela Anvisa - e a produção de outros 40 milhões de doses até dezembro, na fábrica do Butantan no Brasil, com insumos importados do laboratório chinês. Essa importação da matéria-prima para a produção dos 40 milhões de doses pelo Butantan em São Paulo permanece indefinida.
Estudos em andamento
A vacina Coronavac está em fase 3 de testes - a última em ensaios clínicos - no Brasil.
Participam do teste 13 mil voluntários de sete estados brasileiros, mais o Distrito Federal. Segundo o Butantan, cerca de nove mil participantes já foram imunizados, todos profissionais de saúde na linha de frente no combate à pandemia.
A autorização para aplicação na população dependerá dos resultados desses estudos, necessários para assegurar a segurança e a eficácia da vacina.