Por Profissão Repórter

Profissão Repórter - LGBT – 02/10/2019

Profissão Repórter - LGBT – 02/10/2019

As equipes do Profissão Repórter viajaram para cidades do interior do Brasil para contar histórias de pessoas da comunidade LGBT que lutam contra o preconceito, estão em busca de aceitação e mais oportunidades na sociedade.

São Miguel do Gostoso, RN

A repórter Mayara Teixeira foi até a São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, e mostra como está a vida de jovens que moraram em uma república LGBT. A história foi contada primeiramente pelos participantes da terceira edição do Globo Lab Profissão Repórter, Clara Leal e Rubens dos Anjos, do Coletivo Nós do Audiovisual. Veja o vídeo completo da dupla abaixo.

Grupo de jovens homossexuais decide morar junto em uma república

Grupo de jovens homossexuais decide morar junto em uma república

Seis jovens LGBTs decidiram viver juntos em uma casa após encontrarem resistência dos familiares. A experiência durou seis meses, mas os ex-integrantes da república ainda mantém laços de solidariedade e de amizade.

Márcio Soares, que antes atendia por Márcia, passou por um processo de transição. Com dúvidas, ele decidiu assumir o gênero masculino e hoje usa bigode. Mas se definir é algo fora de cogitação.

"Eu acho que tenho um pouco de vergonha de mim. Eu basicamente mudei pelas coisas que me aconteceram. Mas ainda tenho aquela simples dúvida. Não tenho certeza do que quero, do que sou e do quero ser."

Márcio também fala dos inúmeros casos de preconceito que já sofreu, como a exclusão em meio aos colegas da escola e até pessoas se recusando a sentar perto no ônibus.

"Na escola era horrível. Tinham meninos que não queriam sentar perto de mim, teve uma menina que se recusou a tomar água e a comer no colégio só porque eu estava lá. Tinham pessoas que não sentavam na mesma cadeira do ônibus comigo", desabafa.

Integrantes da república LGBT — Foto: Reprodução/TV Globo

Vitor Bezerra também morou na república com Márcio e outros quatro adolescentes. Ele revela que saiu de casa pela não aceitação do padastro, mas que após retornar a situação mudou.

"Antes a minha família também não me aceitava, minha mãe e meu padastro. Eu saí de casa por isso, por causa do meu padastro. Quando ele começava a beber, ele soltava piadinhas, me estressava e a gente acabava brigando, mas hoje em dia a gente se fala de boa."

Vicky Kayonara é uma jovem trans que voltou a morar com a família depois de alguns meses longe de casa.

Vicky e a mãe Maria da Graça conversam com o Profissão Repórter — Foto: Reprodução/TV Globo

"Eu me assumi com 13 anos, mas decidi ser trans com 14 porque não me sentia bem com roupas de homem. Minha mãe me condenou por isso. Eu não disse nada, apenas peguei minhas roupas, cortei todas e comecei a usar roupas de mulher."

Em casa com a família, Vicky precisa conviver com a pouca aceitação em relação a ser uma jovem trans. E até mesmo o nome feminino escolhido é ignorado pela mãe e também pelos irmãos, que sempre se referem à ela como 'ele' e a chamam de Matheus, o nome recebido quando nasceu.

Salto, SP

A cidade de Salto, no interior de São Paulo, realiza a oitava parada LGBT. O repórter Guilherme Belarmino foi conferir como é a recepção das pessoas.

"No interior as pessoas têm um pouco de medo de se mostrar", diz uma moça que se mostra empolgada com a parada.

Para Wellynton Ribeiro, da associação Queremos Nossos Direitos, o fato de uma cidade de apenas 100 mil habitantes receber um evento como a Parada Gay já é uma conquista do movimento LGBT.

"Acho que é uma conquista do movimento. Acho que nossa luta vale a pena, quando a gente vê as reações positivas da pessoas, a gente vê que o pessoal apoia a luta contra a LGBTfobia."

Parada Gay na cidade de Salto, interior de São Paulo — Foto: Reprodução/TV Globo

Além de acompanhar a parada, Guilherme conheceu com Samantha Lima, uma mulher transexual de 30 anos, que passou dois anos na prostituição e hoje tenta ser atriz. O primeiro contato foi durante um ensaio para uma peça de teatro com duração de apenas cinco minutos, que conta a história de um jovem gay que cometeu suicídio.

Samantha conta que se emociona ao participar da peça. Ela diz que ao começar a encenar se lembra de coisas que aconteceram em sua vida, como uma agressão que sofreu em uma banheiro.

"Eu não tive uma vida fácil, não foi uma única vez que fui agredida. Mas a vez em que fui agredida por causa do banheiro foi a que mais doeu, não foi pela agressão, foi o motivo. É o motivo da agressão que dói. Alguém tentou te matar só porque você é você. Era um policial que estava fazendo um bico de segurança, e ele emprestou o cassetete para bater em mim. As pessoas não me ajudaram."

Samantha conversa com o repórter Guilherme Belarmino — Foto: Reprodução/TV Globo

Abandonar a vida da prostituição e se empenhar em ser atriz não é o único desafio de Samantha. Ela também revela que encontra muita dificuldade de conseguir um emprego na cidade de Salto.

"A mente fechada faz com que as pessoas daqui não me deem emprego. Se não for ajuda de amigos ou os shows que estou fazendo para juntar o dinheiro para pagar meu aluguel, praticamente sou quase empurrada para o programa de novo. E programa tem que ser uma escolha, não o único jeito de eu me sustentar."

Ilha das Flores, SE

Na Ilha das Flores, em Sergipe, os repórteres Sara Pavani e Julio Molica conheceram Célio da Silva, o presidente da associação local de pescadores, que é homossexual e nunca pescou.

Célio Silva, presidente associação de pescadores em peixaria — Foto: Reprodução/TV Globo

Por muitos anos, os pescadores da região contavam com uma associação quase abandonada. Célio conseguiu mais de R$ 500 mil do governo do estado em investimentos para a associação de pescadores. Apesar da dedicação, não é do local que ele tira seu sustento. Ele vive de bicos como garçom em festas.

"É um trabalho voluntário. A associação é sem fins lucrativos, mas eu fico aqui em tempo integral. Só não venho quando viajo, e sempre viajo em busca de benefícios e nunca volto de mãos vazias."

Mas antes de ser tornar a principal figura da pesca da cidade, Célio revela que sofreu agressões por ser gay.

"Uma vez estava em um hotel em Aracaju e um homem me deu um murro e estourou minha boca. Outra situação foi quando eu estava em Maceió, e uma amiga pediu para apertar o biquíni dela no banheiro. O gerente do hotel deu um show e só faltou me colocar para fora. Disse que era lugar de mulher."

Confira o programa completo no vídeo acima.

Célio conversa com familiares na sede da associação dos pescadores — Foto: Reprodução/TV Globo

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