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Oposição húngara se une e centro-esquerda toma Budapeste de Orbán

Frente única confere maior vitória em 10 anos a rivais do Fidesz
Gergely Karacsony, de 44 anos, em seu discurso de vitória após ser eleito prefeito de Budapeste Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS 13-10-19
Gergely Karacsony, de 44 anos, em seu discurso de vitória após ser eleito prefeito de Budapeste Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS 13-10-19

BUDAPESTE - A oposição da Hungria conquistou a sua maior vitória eleitoral em uma década neste domingo, quando Gergely Karacsony, de centro-esquerda, derrotou Istvan Tarlos, presidente do partido no poder, que tentava se reeleger para a prefeitura de Budapeste. Os partidos da oposição também tiveram ganhos em outras grandes cidades.

O resultado não afetará o controle do primeiro-ministro Viktor Orbán sobre o poder nacional, já que seu gabinete é sustentado por uma economia forte, uma retórica feroz contra a imigração e aumentos salariais. O seu partido Fidesz continua sendo muito popular nas áreas rurais e nenhuma eleição geral deve ocorrer até 2022, como Orbán, que chegou ao poder em 2010, detém uma grande maioria no Parlamento.

Ainda assim, a oposição, que formou uma frente ampla entre diversos setores de oposição, comemorou o resultado. Com 81,6% dos votos contados, Karacsony conquistou os votos de 50,6% dos eleitores, em comparação com 44,3% para Tarlos, de acordo com dados do site do Escritório Nacional de Eleições.

Karacsony, de 44 anos, justificou a vitória à sua estratégia de apresentar candidaturas conjuntas, vista como a melhor maneira de desafiar o Fidesz, que conquistou sete vitórias consecutivas em eleições nacionais, municipais e europeias desde 2010.

— Demos a todos uma lição sobre democracia. Uma unidade de oposição que os eleitores esperavam há muito tempo foi formada, e o resultado nos diz que esse é o caminho a seguir — disse Karacsony a apoiadores. — Mudar Budapeste e as principais cidades é o primeiro passo para mudar a Hungria.

Budapeste, onde moram 1,7 dos quase 10 milhões de húngaros, é o centro político e econômico do país. A conquista da cidade representa um avanço considerável para a oposição que, depois de anos dividida e enfraquecida, decidiu se unir em torno de candidaturas únicas nas grandes cidades. A estratégia funcionou na capital, onde as últimas pesquisas previam um empate.  Tarlos, de 71 anos, governa Budapeste desde 2010.

No começo do ano, milhares de pessoas saíram às ruas da capital para protestar contra uma reforma trabalhista e contra a deriva autoritária que o primeiro-miinistro empreendeu desde que chegou ao poder, por maioria absoluta, em 2010. Nas áreas rurais, contudo, ele ainda conta com sólido apoio.

A Hungria tem um modelo que descreve como “uma democracia iliberal”. Orbán, que diversas vezes elogiou o presidente Jair Bolsonaro e viajou para a sua posse, tomou diferentes medidas para enfraquecer o sistema de pesos e contrapesos do país, assumindo o controle de centenas de veículos de imprensa, indicando juízes dóceis ao governo para tribunais e fechando uma universidade financiada pelo bilionário e filantropo George Soros. A plataforma de Orbán, que enfrenta acusações de corrupção, baseia-se sobretudo em uma  retórica virulenta contra a imigração e contra a União Europeia.

Os partidos de oposição também devem obter maioria na Assembleia Geral de Budapeste e obtiveram ganhos fora da capital, com resultados preliminares indicando que prefeitos da oposição venceram em 10 das 23 grandes cidades da Hungria.

— Hoje, os cidadãos de Budapeste decidiram que chegou a hora de algo diferente — disse Orbán em entrevista coletiva. — Aceitamos esta decisão. No interesse do país e dos cidadãos de Budapeste, estamos prontos para cooperar.

Orbán disse que o Fidesz deve vencer as disputas para prefeito em mais da metade das cidades com uma população superior a 5 mil pessoas, acrescentando que o número de votos emitidos em todo o país mostrou que sua aliança de direita continua sendo a mais forte da Hungria.

O premier disse, no entanto, que o Fidesz precisaria se debruçar sobre os resultados das eleições e fazer ajustes em suas políticas, sem entrar em detalhes.

Naz Masraff, analista do instituto Teneo Intelligence, disse que o resultado da oposição pode consolidar a cooperação entre os partidos da oposição antes das eleições gerais de 2022.