• Marisa Adán Gil
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A Amana Katu, do Pará, transforma água de chuva em água potável (Foto: Divulgação)

Com o apoio da Enactus, estudantes do Pará criaram a Amana Katu, que transforma água de chuva em água potável (Foto: Divulgação)

Como fazer com que os estudantes de hoje se transformem nos empreendedores sociais do futuro? Desenvolver uma nova geração de líderes engajados com o destino do planeta é o objetivo da Enactus, organização global que conecta universidades, grandes empresas e comunidades.

“Nós acreditamos que investir em estudantes capazes de resolver problemas sociais ajuda a criar um mundo melhor”, diz Rachael Jarosh, CEO global da organização, que esteve em São Paulo no mês de junho para reuniões com parceiros empresariais da organização. Entre as companhias que fornecem ajuda financeira e mentoria para o projeto, estão nomes como Unilever, KPMG, Cargill, DSM e Grupo Baumgart, que controla o Center Norte – no Brasil, o Instituto Center Norte é o maior patrocinador da Enactus.

Para alcançar seu objetivo, a Enactus faz parcerias com universidades, que elegem seus times de estudantes. Depois, a organização ajuda a treinar esses alunos para que sejam capazes de implementar iniciativas sociais. Os líderes de negócios entram com a mentoria — além de participar como jurados em competições que escolhem os melhores projetos.

A organização reúne mais de 72 mil estudantes de 1.730 universidades em 36 países. No Brasil, onde a Enactus chegou em 1998, fazem parte da iniciativa 3 mil estudantes de 120 instituições de ensino superior, localizadas em 21 estados.

“Temos iniciativas em todo o Brasil. 40% dos nossos estudantes estão nas regiões Norte e Nordeste”, diz Joana Rudiger, presidente da Enactus no Brasil. Em julho, a organização realiza uma competição com 48 times de diferentes estados. “Depois, o vencedor concorre no Enactus World Cup, que acontece em setembro.”

Por aqui, são vários os casos de grupos de universitários que criaram empresas sociais de sucesso. É o caso do Amana Katu, do Pará, que acumula prêmios com seu sistema que transforma água da chuva em água potável. 

 Rachel Jarosh, CEO global da organização Enactus, que capacita jovens universitários para se tornarem empreendedores sociais (Foto: Divulgação)

Rachael Jarosh, CEO global da organização Enactus, que capacita jovens universitários para se tornarem empreendedores sociais (Foto: Divulgação)

Confira a seguir os principais trechos da entrevista que a CEO global  Rachael Jarosh concedeu a Época NEGÓCIOS.

Existem hoje várias organizações voltadas para empreendedorismo social. Mas a Enactus é uma das poucas que trabalha com estudantes. Por que decidiram focar em universidades?
A proposta da Enactus é ajudar estudantes universitários a entender como os negócios podem trazer soluções para os problemas da sociedade. É uma ideia simples, mas de execução complexa. O que descobrimos ao longo do tempo é que, quando os estudantes são capazes de aplicar seus talentos na vida real — concebendo e executando um projeto, trabalhando junto com a comunidade, errando e tentando de novo —, eles desenvolvem um senso de propósito que seus colegas não têm. E isso tem um impacto na sua identidade e na sua satisfação pessoal, especialmente quando o universitário trabalha com questões sociais ou ambientais que são significativas para ele.

Como funciona o programa?
Quando entramos pela primeira vez em um país, começamos o trabalho falando com lideranças empresariais. Essas parcerias são fundamentais, já que vão proporcionar apoio financeiro, mentoria e aconselhamento. Depois nos aproximamos das universidades e oferecemos o programa como um complemento ao ensino que eles proporcionam. Daí as universidades nos ajudam a identificar os professores apaixonados por questões sociais. São os professores que vão escolher os estudantes que podem dar partida ao projeto.
Da nossa parte, proporcionarmos treinamento para os times de cada universidade, ensinando como desenhar um projeto, montar uma equipe, cuidar das finanças, todos os fundamentos de uma organização bem-sucedida.

Time de universitários ajuda pequenos produtores na Índia (Foto: Divulgação)

Time de universitários ajuda pequenos produtores na Índia (Foto: Divulgação)

Vocês sugerem projetos para os estudantes?
Nós apenas determinamos que os projetos devem estar alinhados com os 17 Objetivos Sustentáveis da ONU. Cabe aos estudantes visitar suas comunidades e identificar as questões nas quais podem causar impacto.

É comum esses projetos se transformarem em negócios viáveis?
A ideia é que todas as iniciativas sejam sustentáveis, isto é, sobrevivam ao teste do tempo. Isso acontece de várias maneiras. Alguns deles transformam o projeto em um empreendimento social. Outros se associam a algum membro da comunidade, que depois se torna responsável pelo negócio. Em outros casos, a universidade abraça o projeto, que vira uma ferramenta de ensino.

Como os líderes de grandes empresas participam do projeto?
Consideramos nossos parceiros de negócios como sócios. Eles não apenas proporcionam suporte financeiro para a organização, mas também engajam seus funcionários para que se tornem mentores, conselheiros ou jurados nas nossas competições. Para as grandes empresas, o programa da Enactus é uma oportunidade de branding, e também de recrutamento — muitos de nossos parceiros estão interessados em contratar estudantes com talento para a liderança.

Na sua opinião, qual a melhor maneira de preparar os jovens para um mundo em constante transformação, tanto social quanto digital?
Por conta da revolução digital, muitos estudantes terão empregos completamente diferentes dos que existem hoje, tarefas que nem temos como definir. Mas não serão suas habilidades gerais ou seu treinamento tecnológico que vão prepará-los para isso. Vai ser a habilidade de liderar um time, de se adaptar a um mercado complexo, de se conectar a pessoas fora da sua zona de conforto e de trabalhar com tecnologia de maneira produtiva e sustentável, e não destrutiva ou polarizada. Há algumas coisas muito especiais sobre os nossos estudantes. Eles tendem a ser líderes movidos por valores. Eles entendem que têm uma oportunidade de criar impacto, e que só uma liderança real pode levar a isso. É essa postura que me dá esperança para o futuro.