Rio

Intolerância religiosa: manifestantes fazem ato em Nova Iguaçu

Há relatos de mais de 200 ameaças a casas religiosas em todo o estado
Intolerância religiosa: manifestantes fazem ato em Nova Iguaçu Foto: Regiane Jesus
Intolerância religiosa: manifestantes fazem ato em Nova Iguaçu Foto: Regiane Jesus

RIO - Centenas de pessoas de diferentes crenças participaram de uma caminhada com bandeiras contra a intolerância religiosa em Nova Iguaçu , Baixada Fluminense, na manhã deste domingo (14). A manifestação se deu após traficantes atacarem um terreiro de candomblé no bairro Parque Paulista, em Duque de Caxias, na última quinta-feira (11). Os criminosos invadiram o espaço, que funciona há mais de 50 anos, e obrigaram a responsável local a destruir todos os símbolos que representavam os orixás.

- Esta caminhada foi pensada para dar uma resposta, principalmente ao governador que nos garantiu que haveria uma série de ações para estabilizar esta situação. Estamos pensando em fazer uma vigília na porta do palácio se nada acontecer. Estaremos em Copacabana em 15 de setembro. Se acontecesse isso com uma igreja católica as autoridades não ficaram em silêncio. O governador trouxe a segurança pública pra ele, e se continuar assim teremos que levar um cadáver até o palácio - destaca o babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa e um dos organizadores.

- Não podemos faltar num espaço como este, em que todos podem estar juntos, representantes do candomblé, da umbanda, dos católicos, dos evangélicos. Apesar de não sermos tratados como todos iguais, somos todos iguais. A mulher é menos que o homem, a mulher negra menor do que a branca e assim vai... - diz Sandra Régis, representante da Frente Evangélica do Estado de Direitos.

Religiosos se manifestam contra a intolerância religiosa no Centro de Nova Iguaçu Foto: Regiane Jesus
Religiosos se manifestam contra a intolerância religiosa no Centro de Nova Iguaçu Foto: Regiane Jesus

Bruxa, Ala Morgana já foi vítima de intolerância religiosa:

- Quase me mataram. Disseram que eram traficantes de Jesus. Apesar de ter ficado dois meses sem sair de casa, cotinuo exercendo o meu sacerdócio no meu templo em São João de Meriti. Mas é difícil não poder usar minha capa de bruxa, nem poder colocar uma oferenda na encruzilhada.  É na Baixada que acontece o maior número de intolerância religiosa e os maiores alvos são o candomblé,  a umbanda e a bruxaria. Estamos na luta para impedir que esse absurdo continue acontecendo.

No Centro de Nova Iguaçu, duas gerações caminharam em prol da paz entre as religiões.

Rose Silva e a neta, Liviah, em caminhada contra intolerância religiosa na Baixada Foto: Regiane Jesus
Rose Silva e a neta, Liviah, em caminhada contra intolerância religiosa na Baixada Foto: Regiane Jesus

- Represento aqui o afoxé maxombomba. Não falo mal de religião nenhuma. Na vida tem que ser cada um no seu quadrado.Um não tem que criticar a religião do outro. Ensino à minha neta a agir assim. Deus colocou a gente aqui para viver em paz - frisa a atriz Rose Silva ao lado de sua neta, Liviah.

Há relatos de mais de 200 ameaças a casas religiosas no estado do Rio de Janeiro, e o campeão é a capital (55%). Nova Iguaçu é a segunda cidade fluminense com mais casos de ataques (12,5%), seguida de Duque de Caxias (5,3%), segundo estatísticas do Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa. Só neste ano, foram dois ali. O estado registrou um aumento de 56% no número de casos de intolerância religiosa em comparação quatros primeiros meses de 2017.

Intolerância religiosa: manifestantes fazem ato em Nova Iguaçu Foto: Regiane Jesus
Intolerância religiosa: manifestantes fazem ato em Nova Iguaçu Foto: Regiane Jesus

Em junho, o  terreiro de candomblé Ase Olode Ala Orum, em Madureira, foi alvo de ataque motivado por intolerância religiosa . Na madrugad, o local teve as telhas de seu muro arrancadas e dois porrões de barro, que ficavam acima do portão, totalmente destruídos.

- A nossa luta não acabou, somos resistentes, chega de opressão - alerta o artesão Toja dos Reis, do candomblé, durante o evento em Nova Iguaçu.

A assessoria de imprensa do Governo do Estado se posicionou a respeito do que disse o babalaô Ivanir dos Santos:

"O babalaô Ivanir dos Santos já foi recebido na Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Suas demandas foram encaminhadas ao Conselho de Intolerância Religiosa, que, por sua vez, as encaminhou ao Conselho de Segurança. Neste domingo (14/7), representantes da Secretaria estiveram na caminhada contra a intolerância religiosa na Baixada Fluminense. Além disso, o órgão presta atendimento às vítimas  de intolerância religiosa, com orientação jurídica, assistência social  e encaminhamento à rede de atendimento. A Polícia Civil, através da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI), vem investigando os casos de ataques a templos religiosos na Baixada Fluminense, inclusive com identificação de autoria. Diligências estão sendo realizadas para apurar as circunstâncias dos fatos, entre eles o ocorrido na última semana. As investigações são realizadas sob sigilo. Além da Polícia Civil, a Polícia Militar é acionada sempre que há necessidade".