Economia Previdência

Previdência: relatório suaviza regra de transição para servidor público e trabalhadores do setor privado

Relator cede a pressões
BSB - Brasília - Brasil - 16/05/2019 - Deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), durante a Comissão Especial da Reforma da Previdência.
Foto: Jorge William / Agência O Globo Foto: Jorge William / Agência O Globo
BSB - Brasília - Brasil - 16/05/2019 - Deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), durante a Comissão Especial da Reforma da Previdência. Foto: Jorge William / Agência O Globo Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA - O relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), cedeu à pressão de algumas categorias dos servidores públicos e propôs uma regra de transição mais suave. De acordo com parecer, apresentado na Comissão Especial que discute a matéria, nesta quinta-feira, os funcionários públicos que entraram até 2003 poderão continuar se aposentando com integralidade (último salário da carreira) e paridade (mesmo reajuste salarial dos ativos), sem atingir idade mínima de 65 anos (homem) e 62 anos (mulher).

Análise: Relatório tem surpresas mas não muda o desafio para aprovar a reforma

Para isso, pagarão pedágio de 100% sobre o tempo que faltar para requerer o benefício, com uma trava: idade de 57 anos (mulher) e 60 anos (homem). Por exemplo, um servidor de 58 anos, que tem 33 anos de contribuição: pela regra de transição proposta pelo governo, ele poderia se aposentar em 2024, aos 63 anos e com 101 pontos. Para ter integralidade, ele teria que trabalhar por mais dois anos até completar a idade de 65.

Porém, se optasse pelo pedágio, ele poderia se aposentar daqui a quatro anos, com 62 anos de idade e 37 anos de contribuição. Isso porque o pedágio é de 100% sobre o tempo de contribuição que falta para completar os 35 anos exigidos. Como esse servidor tem 33 anos de contribuição hoje, faltariam dois anos até os 35. Com o pedágio, esse tempo faltante dobra.

Simulação: Veja como escolher a regra de transição mais vantajosa para o servidor

Essa mesma regra será estendida aos trabalhadores do setor privado (pagos pelo INSS), que estão próximos da aposentadoria, faltando mais de dois anos a partir da promulgação da reforma. Essa foi uma exigência do governo para não prejudicar o discurso de que a reforma combate privilégios (os altos salários da elite do funcionalismo).

Quer saber quanto tempo falta para você se aposentar? Simule aqui na calculadora da Previdência

No caso do setor privado, a proposta enviada pelo governo já prevê três regras de transição, mantidas pelo relator. Pelo critério da idade mínima, começando com 56 anos (mulher) e 61 anos (homem), subindo gradativamente até atingir 65 anos (homem) e 62 anos (mulher); pelo sistema de contagem de pontos, somando tempo de contribuição (35 anos no caso dos homens e 30 anos, das mulheres), mais idade, começando com 86/96 até alcançar 100/105.

Remuneração: Relator mantém possibilidade de pensão abaixo do mínimo. Confira simulações

Quem estiver a dois anos da aposentadoria na data da aprovação da reforma poderá se aposentar pelo chamado fator previdenciário, mas esse mecanismo reduz fortemente o valor do benefício para trabalhadores considerados jovens.

Confira os principais pontos da reforma da Previdência proposta pelo governo Jair Bolsonaro e como ficaram no parecer do relator.


Já no serviço público, a proposta do governo previa uma regra de transição pela sistema de contagem de pontos, começando com 86/96 (soma de idade e tempo de contribuição), até atingir 100/105. Quem ingressou na carreira até 2003 teria que cumprir idade mínima de 65 anos (homem) e 62 anos (mulher) para se aposentar com integralidade e paridade. Quem não quisesse permanecer mais tempo na ativa teria a opção de receber benefício proporcional, limitado ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (R$ 39 mil).

O economista Fábio Giambiagi fez as simulações. Tomando como exemplo um homem que hoje tem 32 anos de tempo de contribuição e 52 de idade, pela proposta do governo, só alcançaria os 105 pontos aos 62,5 anos. Com o texto de Moreira, ele poderá se aposentar aos 60 anos.

Benefício: Relator mantém cálculo da aposentadoria por média de todas as contribuições, e valor será menor

O objetivo da nova regra para o INSS é beneficiar quem está a pouco mais de dois anos para se aposentar quando a reforma for aprovada. Segundo estimativas do governo, a nova regra de transição para servidores e trabalhadores do setor privado terá impacto em torno de R$ 100 bilhões em 10 anos.

Moreira manteve, contudo, a idade mínima de 65 anos (homem) e 62 anos (mulher), propostas pelo governo. Mas deu um tratamento diferenciado para as mulheres: reduziu o tempo mínimo de contribuição de 20 anos para 15 anos e da idade mínima de aposentadoria das professoras de 60 anos para 57 anos. O tempo exigido em sala de aula também baixou de 30 anos para 25 anos.

Texto alterado

O relatório substitutivo faz profundas modificações na proposta do governo, que foi praticamente reformulada para derrubar a chamada desconstitucionalização, que consistia na retirada de todas as regras de aposentadoria do texto constitucional, permitindo que mudanças futuras pudessem ser feitas por projetos de lei, dispensando emendas à Constituição, que são mais difíceis de serem aprovadas.

Outra alteração que alterou significativamente o texto original foi a retirada dos estados e municípios da reforma. Eles podem ser inseridos depois, durante a votação da reforma no plenário da Câmara. Isso vai depender, porém, do esforço de governadores, que precisarão convencer suas bases a aprovar um texto que inclua servidores estaduais e municipais na reforma da Previdência.