Por Daniel Silveira, G1 — Rio de Janeiro


Número de empresas ligadas à educação foi o que mais cresceu no Brasil durante a crise. — Foto: Getty Images

Enquanto o número de empresas ativas no Brasil vem sendo reduzido ano a ano desde 2013, aquelas ligadas ao mercado educacional caminham na direção oposta. É o que aponta uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Conforme o levantamento feito com base no Cadastro Central de Empresas, o Brasil encerrou 2017 com pouco mais de 5 milhões de empresas ativas, 6,73% menos que em 2013, quando este número superava 5,3 milhões. Dos 20 segmentos empresarias, listados com base na Classificação Nacional de Atividades Econômicas, dez tiveram alta no número de empresas, e as outras dez, queda.

O maior crescimento no número de empresas nestes quatro anos foi entre aquelas com atividades ligadas à educação, que saltou de 1,3 milhão para quase 1,8 milhão – uma alta de 37,5% no período.

Variação (%) do número de empresas entre 2013 e 2017
Unidades empresarias conforme Classificação Nacional de Atividades (CNAE)
Fonte: IBGE

Já a maior redução do número de empresas ocorreu entre aquelas classificadas em Outras Atividades de Serviços, categoria que inclui empresas de atividades associativas (como ONGs e sindicatos), de reparação de equipamentos de informática, comunicação e objetos pessoais, além de empresas ligadas a serviços pessoais (serviços domésticos, lavanderia, cabelereiros, tinturaria, entre outras).

“A maior parte desse grupamento é de empresas dessa área de serviços pessoais, que dependem de renda para o consumo. Em um momento de crise, as pessoas restringem os seus gastos e isso impacta diretamente no número de empresas ligadas a estes serviços”, explicou a pesquisadora do IBGE, Denise Guichard Freire.

Escolas sem fins lucrativos têm alta maior que as privadas

As empresas ligadas à educação são classificadas com três naturezas jurídicas – administração pública, entidades empresariais (privadas) e entidades sem fins lucrativos. As três, segundo o IBGE, tiveram alta no período, sendo a mais expressiva entre aquelas sem fins lucrativos, que mais que dobraram o número de unidades.

Enquanto as empresas públicas de educação tiveram alta de 28,6% no período, as privadas aumentaram suas unidades em apenas 8,2%, contra um crescimento de 124,1% daquelas sem fins lucrativos.

Com isso, alterou-se a divisão entre das empresas ligadas à educação quanto à natureza jurídica. Em 2013, do total de empresas ativas no segmento de educação 0,4% eram de administração pública, 74,4%, empresas privadas, e 25,2%, sem fins lucrativos. Em 2017, estes percentuais foram, respectivamente, de 0,4%, 58,5% e 41,1%.

Evolução do número de empresas ligadas à educação por natureza jurídica
Número de entidades sem fins lucrativos superaram as de entidades privadas
Fonte: IBGE

Mais emprego para mulheres e pessoas com superior completo

De acordo com a pesquisadora do IBGE Denise Guichard Freire, não é possível, por meio desta pesquisa, avaliar o que levou ao aumento expressivo no segmento de educação.

“Você tem segmentos que conseguem sobreviver melhor em momentos de crise. Além da educação, também tiveram aumentos expressivos no número de empresas ligadas à saúde, por exemplo”, observou.

Todavia, Denise destacou que, de 2016 para 2017, houve avanço no número de pessoal ocupado que possuía ensino superior completo – grau de instrução que tem maio absorção tanto no segmento educacional, quanto de saúde. Também observou-se aumento no número de mulheres ocupadas.

“Saúde e educação são áreas em que as mulheres são mais empregadas que os homens”, enfatizou a pesquisadora.

Ainda segundo Denise, entre 2009 e 2017 aumentou de 6,6 milhões para 10,2 milhões – uma alta de 53,8% - o número de pessoal ocupado com ensino superior completo no país. No mesmo período, aumentou de 33,6 milhões para 34,9 milhões (3,9%) o número de ocupados sem ensino superior.

“Essa mão de obra tem apresentado aumento contínuo nos últimos anos. Ou seja, mesmo em crise, houve aumento da mão mais qualificada. Assim, podemos concluir que a crise no mercado de trabalho é mais sentida por quem não tem nível superior completo”, ressaltou.

Cai diferença salarial entre homens e mulheres

A pesquisa revelou também que caiu a diferença salarial entre homens e mulheres no país. Antes, os homens recebiam, em média, 25% a mais que as mulheres. Em 2017, esse percentual foi de 20,7%.

“As mulheres tiveram aumentos com ganhos reais maiores que os homens justamente por conta das atividades mais femininas, que são saúde e educação. Então, o aumento da participação das mulheres na ocupação reduziu essa diferença salarial”, apontou a pesquisadora do IBGE Denise Guichard Freire.

Freio na crise

A pesquisa do IBGE mostrou que, na comparação com 2016, houve em 2017 uma redução de 0,4% no total de empresas ativas (cerca de 21 mil foram fechadas) no país e um aumento de 1% no pessoal ocupado (foram empregados 550,7 mil novos trabalhadores no ano.

“Foi um ano em que o crescimento econômico ainda foi baixo, embora positivo, após dois anos de retração importante. Os anos de 2015 e 2016 foram de crises severas. Mas em 2017 observamos uma mudança desse quadro. Mesmo tendo havido uma redução no saldo de empresas, ela foi menor que nos anos anteriores”, avaliou a pesquisadora do IBGE Denise Freire.

Questionada se isso aponta para o início de uma recuperação, a pesquisadora enfatizou que não. “É um quadro de reversão das expectativas, com o início de uma melhora. Ao menos conseguimos não piorar o quadro recessivo”, disse.

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