Eleições nos EUA 2020

Por Lucas Vidigal, G1


Eleições nos EUA: saiba quais estados são os principais campos de batalha na disputa

Eleições nos EUA: saiba quais estados são os principais campos de batalha na disputa

Devido ao sistema indireto de escolha, alguns estados merecem mais atenção do que outros na eleição presidencial dos EUA desta terça-feira (3). A Flórida, que já deve divulgar resultados consolidados na madrugada de quarta-feira (4), e a Pensilvânia, onde a apuração deverá demorar até que se aponte um vencedor, tendem a ser mais decisivos na disputa entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden.

Também vale ficar de olho em outros estados com a decisão mais concorrida, que podem desempatar a eleição: Carolina do Norte, Ohio e Wisconsin. Além disso, outros eleitorados podem proporcionar viradas cruciais para definir quem ocupará a Casa Branca: Arizona, Geórgia, Michigan, Minnesota e Texas, principalmente.

Trump e Biden — Foto: Jonathan Ernst/Reuters e Brian Snyder/Reuters

Nestas eleições, o ritmo da apuração será diferente de outros anos por causa do alto número de eleitores que votaram por correio, devido principalmente à pandemia do coronavírus.

Como cada estado tem suas próprias regras e, em alguns casos, essas cédulas postadas antecipadamente só começam a ser contadas depois das urnas fechadas, é possível que o resultado final demore dias ou mesmo semanas para sair (entenda mais sobre esse assunto no fim da reportagem).

Veja abaixo quais estados são os mais importantes nas eleições presidenciais americanas de 2020 e o que esperar do ritmo da apuração:

Estados decisivos nas eleições presidenciais dos EUA — Mapa — Foto: Juliane Souza/G1

Flórida e Pensilvânia formam os dois maiores campos de batalha nestas eleições, e as equipes de Biden e Trump apostaram fortemente na campanha nesses locais. Caso um deles vença em ambos os estados, fica muito perto de chegar aos 270 votos no Colégio Eleitoral.

São estados com características bastante diferentes:

  • A Flórida conta com grande eleitorado de origem latina e alta população de idosos — a segunda maior nos Estados Unidos. Além disso, é um clássico exemplo de estado-pêndulo: a preferência do eleitorado costuma variar. Trump venceu por lá em 2016.
  • Já os subúrbios da Pensilvânia podem ser decisivos mais uma vez por causa dos eleitores da classe trabalhadora e de baixa escolaridade, que também elegeram Trump há quatro anos e reverteram décadas de predomínio democrata.

  • Flórida

De acordo com o site especializado em eleições FiveThirtyEight, os resultados da Flórida devem sair ainda na madrugada de quarta porque as autoridades do estado já começaram a contar os votos que chegaram pelo correio.

Com isso, logo nas primeiras horas de quarta a campanha de Trump saberá se ele conseguiu reverter a tendência de perda de eleitorado. Durante a corrida eleitoral, ele buscou o eleitorado latino, principalmente descendentes de cubanos e de venezuelanos, com discurso contundente contra o regime de Cuba e, mais ainda, da Venezuela.

Do outro lado, será possível saber se os democratas conseguiram ter sucesso na estratégia em recuperar o eleitorado idoso da Flórida com críticas à condução do atual presidente na pandemia do novo coronavírus. Biden — que tem 77 anos — tem aprovação maior nesse eleitorado.

  • Pensilvânia

Se a Flórida poderá dar os resultados ainda na madrugada de quarta-feira, a Pensilvânia levará dias para contar os votos que chegaram por correio. Como as regras locais estabelecem o início da contagem apenas na manhã de terça, as autoridades eleitorais do estado acreditam que só na sexta a maioria das cédulas terão sido processadas.

Isso significa que, num cenário de corrida mais apertada entre Biden e Trump no Colégio Eleitoral, o resultado final e tardio da Pensilvânia pode ser o grande ponto de decisão destas eleições. Sabendo disso, os dois candidatos fizeram comícios no estado em mais de uma oportunidade, especialmente nesta reta final.

Na campanha, Biden tentou reverter o descontentamento dos trabalhadores de indústrias com os democratas — eleitorado essencial para que Trump vencesse por lá em 2016. A estratégia da campanha da oposição é captar a frustração da classe trabalhadora com o atual governo.

Para evitar perder no estado onde conseguiu uma vitória histórica quatro anos atrás, Trump argumentou que defenderá o fracking, ou fraturamento hidráulico. Trata-se de uma técnica de extração de gás natural do subsolo muito comum no estado e que recebe críticas de ambientalistas. O republicano afirma que Biden acabará com essa fonte de renda — de fato, o candidato democrata disse que proibiria a prática em declarações no início da campanha.

Estados para ficar de olho na eleição presidencial dos EUA — Mapa — Foto: Juliane Souza/G1

Há três estados com características bem diferentes que valem um grande número de votos no colégio eleitoral e, por isso, merecem atenção: Carolina do Norte, Ohio e Wisconsin.

Esses três estados mesclam eleitores de diferentes perfis. Enquanto moradores das cidades grandes costumam votar em candidatos do Partido Democrata, habitantes das áreas rurais preferem republicanos. Assim, grupos específicos do eleitorado podem desequilibrar a corrida para um dos lados.

Em 2016, Donald Trump venceu nesses três estados — inclusive em Wisconsin, onde um republicano não conquistava a maioria dos eleitores desde a vitória de Ronald Reagan, em 1984.

Para a apuração, a tendência é que dê para se ter uma ideia dos resultados ainda na manhã de quarta-feira nos três estados, informa o site FiveThirtyEight. Porém, como votos enviados por correio que chegarem depois do dia 3 continuarão a ser contados na Carolina do Norte e em Ohio, pode haver atraso caso a corrida seja muito acirrada.

Veja mais sobre o eleitorado desses três estados

  • Carolina do Norte

O estado mescla eleitores rurais, republicanos ferrenhos, com jovens cosmopolitas de universidades que tendem a votar em candidatos democratas. A Carolina do Norte tem também outro segmento que pode decidir a eleição: o eleitorado negro.

Desta vez, Trump aumentou a base de apoio nesse grupo, mas Biden ainda aparece à frente em pesquisas. Os democratas, então, tentavam convencer os eleitores das cidades maiores e das universidades a saírem para votar e reverter a tendência republicana que se repete desde 2012.

  • Ohio

A última vez que um candidato se elegeu presidente sem vencer em Ohio foi em 1960, quando John F. Kennedy chegou à Casa Branca mesmo sem a preferência dos eleitores do estado. O estado faz parte do "cinturão industrial da ferrugem", assim como Pensilvânia, Wisconsin e Michigan.

Assim, Trump vai tentar reter os votos da classe trabalhadora de baixa escolaridade que lhe deu vitória há quatro anos. Do outro lado, Biden pretende retomar esse eleitorado para o Partido Democrata com discurso sobre a frustração econômica no pós-pandemia.

  • Wisconsin

Um dos estados mais surpreendentes em 2016, Wisconsin mistura cidades cosmopolitas como Milwaukee, subúrbios industriais e grandes zonas rurais.

Além dos temas que costumam estar em jogo como economia e empregos, os eleitores também devem levar em consideração os debates sobre segurança pública e racismo: a cidade de Kenosha, um subúrbio no sul do estado, foi palco de confrontos em protestos após a operação policial que baleou Jacob Blake em agosto — tema que deve dividir o eleitorado.

Estados que podem surpreender nas eleições presidenciais dos EUA — Mapa — Foto: Juliane Souza/G1

Há um grupo de estados considerados estratégicos para as campanhas porque, no fim, podem acabar dando um resultado diferente das tendências dos eleitorados locais. Um exemplo claro dessa estratégia em 2016 foi Michigan, tradicional reduto democrata onde Trump conseguiu vencer com a promessa de resgatar os empregos perdidos para as indústrias de outros países.

Estados que tendem a votar no Partido Democrata, mas onde pode dar Trump

  • Michigan — O estado no norte dos EUA continua neste patamar porque, embora Biden apareça na frente das pesquisas, Trump pode retomar a dianteira se resgatar os votos dos eleitores dos subúrbios que viram aumento nos números de emprego antes da pandemia.
  • Minnesota — Um republicano não vence por lá desde Nixon, em 1972, mas Trump tenta reverter a vantagem democrata com discurso de "lei e ordem" após os protestos contra a morte de George Floyd em uma ação em Minneapolis, maior cidade do estado.

No caso de Minnesota, a expectativa é de que a maioria dos votos já seja contada na noite da eleição. Porém, em Michigan, as autoridades eleitorais esperam que a apuração só seja concluída ao fim da semana.

Estados que tendem a votar no Partido Republicano, mas onde pode dar Biden

  • Arizona — Apesar de o estado contar com grande população latina, é no eleitorado branco frustrado com Trump que Biden tentará reverter uma sequência de cinco vitórias republicanas. O democrata conta com apoio da família de John McCain, ex-senador conservador morto em 2018 que fazia oposição ao atual presidente, mesmo sendo do mesmo partido.
  • Geórgia — É outro estado do Sul onde Biden tenta reverter anos de predomínio republicano com enfoque nos eleitores de cidades grandes, como Atlanta, e dos subúrbios. Eleitores idosos do litoral, assim como na vizinha Flórida, podem dar vantagem ao democrata.
  • Texas — Embora Trump apareça com vantagem nesse tradicional reduto republicano, o Texas pode ser a grande surpresa de 2020 caso o eleitorado urbano e cosmopolita desequilibre a disputa a favor de Biden. Há dois anos, o democrata Beto O'Rourke perdeu a eleição para o Senado com diferença menor do que 3% para o republicano Ted Cruz, a menor desvantagem entre os dois partidos no estado em 30 anos.

Segundo o site FiveThirtyEight, a maioria dos votos nos três estados será contada ainda na noite da eleição, e só deve haver atrasos se a disputa for decidida por uma margem muito curta — o que é a tendência na Geórgia e no Texas, segundo pesquisas mais recentes.

Estados-pêndulo com menos delegados em jogo nas eleições americanas - mapa — Foto: Juliane Souza/G1

O segundo distrito de Maine e o pequeno estado vizinho de New Hampshire têm características semelhantes: são áreas bastante rurais onde republicanos e democratas disputam a preferência do eleitorado.

Apesar da semelhança demográfica, o segundo distrito de Maine foi vencido por Trump em 2016, enquanto New Hampshire deu vitória a Clinton.

Iowa, na fronteira entre o cinturão industrial e a enorme e pouco habitada região rural americana, vê uma alternância bem clara entre candidatos republicanos e democratas. Barack Obama venceu por lá em 2008 e 2012, enquanto Trump ganhou em 2016.

O segundo distrito de Nebraska, outro estado a dividir localmente os votos no Colégio Eleitoral, pode seguir a tendência do vizinho Iowa. Apesar da preferência conservadora nas áreas rurais, o voto democrata na cidade de Omaha pode levar a região a repetir 2008, quando Barack Obama venceu por lá.

Há, ainda, o árido estado de Nevada, que ajudou a eleger todos os presidentes entre 1980 e 2012 — do republicano Ronald Reagan ao democrata Barack Obama. Em 2016, revertendo uma tendência, os eleitores do estado preferiram Hillary Clinton por uma pequena margem. Os seis votos no Colégio Eleitoral não foram suficientes, porém, para dar a vitória à democrata.

E os outros estados?

Estados com situação consolidada nas eleições presidenciais dos EUA — Mapa — Foto: Juliane Souza/G1

Os demais estados apresentam tendências claras de votação que devem se repetir em 2020. Surpresas são sempre possíveis, mas as próprias candidaturas evitam gastar dinheiro em campanhas em áreas que já têm preferência consolidada pelo partido adversário.

Por exemplo, as duas campanhas têm como certa a vitória de Trump em Kentucky ou Oklahoma. Da mesma forma, Biden deve vencer em Massachusetts e na Califórnia. Se algum resultado em estados assim sair do padrão, até o candidato vencedor será surpreendido.

De olho na votação por correio

Pessoa coloca carta em caixa do Serviço Postal dos EUA em Filadélfia, nesta sexta-feira (14) — Foto: Rachel Wisniewski/Reuters

Por causa da pandemia de Covid-19, mais eleitores enviaram seus votos por correspondência do que em qualquer outra eleição. Como a regra para contagem e validação depende de cada estado, o tema tem se tornado ponto de tensão na campanha dos dois candidatos.

O presidente e candidato Donald Trump defende que o resultado saia já na noite depois das eleições — mesmo que nem todos os votos sejam contados. Para a oposição, porém, isso é uma estratégia para se declarar vencedor logo nas primeiras horas de quarta-feira.

A razão para isso, dizem auxiliares de Biden e especialistas em eleições, é a possibilidade de uma "miragem vermelha" em estados como a Pensilvânia — ou seja, uma impressão de que Trump esteja muito à frente nos primeiros momentos depois do início da apuração.

Isso poderia ocorrer porque as pesquisas mostram que os eleitores de Trump devem ser maioria entre os que votam presencialmente. E como na Pensilvânia os votos por correio — tradicionalmente democratas — só são contados a partir do dia da eleição, demorará para verificar a autenticidade de todas as cédulas enviadas pelo serviço postal.

"As coisas estão bem confusas para os eleitores, que veem isso com preocupação. Há o temor de que seus votos sejam invalidados", afirma a professora Lonna Atkeson, da Universidade do Novo México.

Saiba mais sobre o assunto no VÍDEO abaixo.

Votação pelo correio deve dificultar apuração do resultado da eleição americana

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